Curiosidade
Daniela FernandesDe Paris para a BBC
Brasil
Uma
empresa francesa vai fabricar perfumes que recriam o odor de uma pessoa falecida
a partir de roupas que ela usava.
Katia Apalategui, fundadora da pequena empresa Kalain (uma alusão à
palavra calin ou "carinho", em francês) contou à BBC Brasil que a
ideia surgiu há sete anos, quando seu pai faleceu por motivos de saúde.
"Algumas pessoas mantém os laços com quem faleceu por meio de fotos
ou vídeos. Eu precisava sentir de novo o cheiro do meu pai", afirma.
"Um dia disse isso à minha mãe e ela me contou que sentia a mesma
necessidade e que por isso nunca havia lavado a fronha do travesseiro
dele", diz Katia.
"Pensei que se há duas loucas que pensam dessa forma, talvez outras
pessoas também sentissem a mesma necessidade", conta.
Foi um longo percurso até tornar o perfume realidade. Katia, que
trabalha como corretora de seguros, bateu em inúmeras portas e passou dois anos
procurando um laboratório capaz de desenvolver a fragrância até encontrar a
Unidade de Química Orgânica e Macromolecular (Urcom) da Universidade do Havre,
na Normandia, especializada em moléculas odorantes.
O laboratório universitário desenvolveu uma técnica que permite
reproduzir o odor humano a partir de um tecido usado pela pessoa.
"Pegamos a roupa da pessoa e extraímos o cheiro dela, o que
representa mais de 50 moléculas, e o reconstituímos sob a forma de um perfume,
no álcool, após quatro dias", explica Géraldine Savary, da Urcom.
"O cheiro de cada pessoa varia em função de sua alimentação, de
cremes e perfumes que ela utiliza, de possíveis doenças, tudo isso misturado
representa uma espécie de assinatura olfativa de cada um", explica Katia.
Em seguida ela, ela encontrou um órgão público, a agência regional de
inovação da Alta Normandia, que a ajudou a levantar recursos para viabilizar a
iniciativa.
Esse recursos permitiram que o laboratório da universidade, por exemplo,
remunerasse um químico formado pela faculdade.
'Reconforto olfativo'
Fragrância foi
criada por laboratório de universidade na França
A Kalain, que será comandada pelo filho de Katia, Florian Rabeau,
iniciará suas atividades entre setembro e outubro.
O perfume que reproduz o odor natural de uma pessoa deve custar 560
euros (cerca de R$ 2 mil), segundo Katia, que descreve o produto como um
"reconforto olfativo".
Ela diz já ter sido contatada por inúmeras pessoas e distribuidores de
países na Europa, Ásia e também dos Estados Unidos.
Uma delas, conta Katia, afirmou querer reproduzir o cheiro do cachorro
falecido.
A Kalain trabalhará principalmente com agências funerárias, que
oferecerão o perfume a famílias de pessoas falecidas.
Mas Katia quer também comercializar o cheiro de pessoas vivas. Ela vê
como possíveis clientes casais de namorados ou casais que por alguma razão, uma
viagem por exemplo, fiquem separadas por um tempo.
Apesar do preço, o perfume não pode ser refeito a partir da fragrância
original, como um refil.
"Ainda não temos essa tecnologia. Se a pessoa quiser um novo
frasco, terá de fornecer uma outra peça de roupa", diz Katia.
Ela diz que o projeto e a criação da empresa permitiu que ela encerrasse
seu luto "de maneira positiva".
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