História: literatura
A poetisa
lírica SAFO
“Há quem afirme serem nove as musas. Que erro!
Pois não veem que Safo de Lesbos é a
décima?”
PLATÃO
Safo (em grego
antigo: Σαπφώ, transl. Sapphō) foi uma poetisa grega que
viveu na cidade lésbia de Mitilene, ativo centro cultural no século
VII a.C.. Nascida algures entre 630 e 612 a.C., foi muito
respeitada e apreciada durante a Antiguidade, sendo considerada "a
décima musa". No entanto, sua
poesia, devido ao conteúdo erótico, sofreu censura na Idade Média por
parte dos monges copistas e o que restou de sua obra foram escassos
fragmentos.
Busto com a
inscrição Safo de Eressos (Sappho Eresia), uma cópia romana de um original grego datado do século V a.C..
A biografia de Safo (Psappha,
como a própria assinava no dialeto eólico) é um tanto controversa. Muito do que se diz a seu respeito está
envolto em lendas (inclusive suas relações com mulheres). Nasceu em Eresos,
uma cidade da fértil ilha grega de Lesbos, entre 630 e 612 a.C., tendo
mudado-se para Mitilene, sua capital e principal cidade, ainda menina.
Já em 593 a.C. figurava dentre os
aristocratas deportados para a cidade de Pirra (também na ilha de Lesbos)
por conspiração. Safo já tomava parte da vida pública (na política e
na poesia) aos 19 anos. O ditador Pítaco, temendo-lhe a escrita,
condenou-a a um exílio mais distante, fora da ilha de Lesbos.
Sobre tal exílio: era Pitaco ditador de Mitilene, a
maior das cinco cidades de Lesbos. Os comerciantes e cidadãos menos abastados
derrubaram a aristocracia, fazendo de Pitaco o ditador, nos moldes do seu
contemporâneo e amigo Sólon. Tentando
a retomada do poder, os aristocratas conspiram, e são novamente derrotados,
sendo exilados seus líderes, dentre os quais o poeta Alceu de
Mitilene e Safo. Alceu teria sido um poeta que mesclara sua arte com a
política, num estilo todo próprio que se diz alcaico e teria sido,
certamente, mais conhecido não tivesse ao lado a grandeza de Safo… No primeiro
exílio, em Pirra, consta que Alceu tenha lhe enviado um convite amoroso: "Oh
pura Safo, de violetas coroada e de suave sorriso, queria dizer-te algo, mas a
vergonha me impede."
Não se sabe
se este affair teve consequências, mas que Safo
respondera-lhe, então: "Se teus desejos fossem decentes e nobres e tua
língua incapaz de proferir baixezas, não permitirias que a vergonha te nublasse
os olhos - dirias claramente aquilo que desejasses". Alceu dedicou-lhe
muitas odes e serenatas.
Por volta de 591 a.C. parte para a Sicília.
Naquela época casou-se com um rico comerciante de Andros que,
falecendo em breve, deixou-lhe uma rica herança e uma filha, Cleis, que a
mãe assim definia: "dourada flor que eu não trocaria por toda a Lídia,
nem pela formosa Lesbos".
Safo e um dos seus amores
Após cinco anos exilada, volta para Lesbos, onde
logo se torna a líder da sociedade local, no plano intelectual. Sedutora, não
dotada da beleza na concepção grega da época (embora Sócrates a
houvesse denominado "A Bela"), Safo era baixa e magra, com
olhos e cabelos negros, de refinada elegância, viúva e vivendo numa sociedade que
não tinha regras morais como hoje se concebem.
Safo, por KLIMT
Safo concebeu uma escola para moças, onde
lecionaria a poesia, dança e música - considerada a primeira "escola de
aperfeiçoamento" da história. Ali as discípulas eram chamadas de hetairai (amigas)
e não alunas. A mestra apaixona-se por suas amigas, todas. Dentre elas, aquela
que viria a tornar-se sua maior amante, Atis - a favorita, que descrevia
sua mestra como vestida em ouro e púrpura, coroada de flores. Mas Atis
apaixona-se por um moço e, com ciúmes, Safo dedica-lhe os versos:
"Semelhante aos deuses parece-me que há de
ser o feliz
mancebo que,
sentado à tua frente, ou ao teu lado,
te contemple e, em
silêncio, te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do
amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o
perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu
peito!
Pois basta que, por
um instante, eu te veja
para que, como por
magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso,
para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a
carne impalpável fogo
a incendiar-me as
entranhas.
Meus olhos ficam
cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em
rios pelo corpo, um tremor (…)
A aluna foi
retirada da escola por seus pais, e Safo escreve que "seria bem melhor
para mim se tivesse morrido".
Safo, por Charles August Mengin (1877)
Tantos milênios passaram-se após a vida desta
figura feminina excepcional, que a humanidade viveu momentos de glória e
desprezo sobre sua arte e personalidade. Em 1073, suas obras, junto com as
de Alceu, foram queimadas em Constantinopla e em Roma. Mas foram
redescobertas poesias dela em 1897.
Safo foi
chamada de "cortesã" (prostituta), por Suidas. E contavam que havia se suicidado pulando
de um precipício na ilha de Leucas, apaixonada pelo marinheiro Faonte -
fato que é descrito também em Menandro, Estrabão e Ovídio.
Mas há consenso de que isto seja verdadeiramente mítico. Escritos
sobreviventes dão Safo como tendo atingindo a velhice, e o certo é que não se
sabe como nem quando ela morreu, sendo considerada por alguns a maior de todas
as poetisas.
Sua poesia era considerada das mais sublimes.
Dentre os gregos que lhe foram contemporâneos e pósteros, Safo era considerada
uma dos chamados "Nove Poetas Líricos" (os outros eram: Álcman,
Alceu, Estesícoro, Íbico, Anacreonte, Simônides, Píndaro e Baquílides).
Estrabão escrevera que "Safo era maravilhosa pois em todos os tempos
que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado,
ainda que de leve, em matéria de talento poético."
Assim
como Homero era conhecido como "o Poeta", Safo era
conhecida como "a Poetisa".
Narram, ainda, os historiadores, que tendo Excetides declamado
um canto de louvor a Safo para Sólon, seu tio, este pediu que o moço o
ensinasse todo, de tanto que o agradou. Alguém então perguntou-lhe para quê
queria tal coisa, ao que o célebre jurista respondeu: "Quero
aprendê-lo, e depois morrer!"
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