Linda GeddesDa BBC Future
Barbara
Gattuso já tinha mais de 35 anos quando percebeu que estava perdendo o
interesse em fazer sexo com o marido, Gregg. Passou vários anos usando
desculpas e evitando-o, em vez de se abrir com ele. "Até que comecei a me
dar conta de que devia haver um grande problema comigo: eu amava meu marido,
tinha um casamento incrível e filhos maravilhosos. O que estava
acontecendo?", lembra ela, hoje com 66 anos.
O problema era o desejo. Gattuso não sentia nenhuma vontade de se
relacionar sexualmente – não só com seu marido, mas com ninguém mais.
Muitos sexólogos acreditam que essas oscilações no desejo sexual são
perfeitamente normais – principalmente entre mulheres a partir de uma certa
idade. Já outros especialistas defendem que a falta de desejo é um distúrbio
que resulta do desequilíbrio de algumas substâncias químicas do cérebro e
poderia ser tratado com medicamentos específicos.
Esta semana, a Food and Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos
que regulamenta a produção e a comercialização de remédios e alimentos no país,
reúne um painel de consultores para decidir sobre a aprovação do Flibanserin –
medicamento que já foi apelidado de "Viagra feminino".
A questão, no entanto, é polêmica – com argumentos fortes dos dois
lados.
Equilíbrio cerebral
Flibanserin já foi
reprovado pelo FDA em 2010, mas foi reformulado desde então
Apesar de não ser uma exclusividade das mulheres – e o Viagra e seus
similares estão aí para provar que os homens também enfrentam distúrbios
sexuais ao envelhecerem -, a natureza do problema é bem diferente em cada caso.
"Nós, médicos, costumamos dizer que existem três formas de
disfunção sexual entre os homens: ereção, ereção e ereção", afirma Stephen
Stahl, psiquiatra da Universidade da Califórnia em San Diego. "Entre as
mulheres, os problemas também são três: desejo, desejo e desejo."
A causa precisa desse declínio – e até as origens do desejo – é um
mistério para os cientistas, apesar de eles saberem que é algo relacionado ao
circuito de compensação do cérebro.
Uma das teorias é que o distúrbio, conhecido como frigidez ou
anafrodisia, resulta de uma incapacidade de "desligar" as partes
frontais do cérebro responsáveis pelas tarefas cotidianas. Como resultado, esse
circuito, que lida com motivação e prazer, é inibido.
Desde que o Viagra comprovou ser eficiente do tratamento da disfunção
erétil (sem falar nos lucros gerados para a empresa que o desenvolveu), começou
uma corrida para encontrar um medicamento semelhante para as mulheres – mas um
que tenha uma ação no cérebro e não nos órgãos genitais.
O Flibanserin foi um dos primeiros a largar nessa corrida. Inicialmente
desenvolvido para ser um antidepressivo, provou-se ineficaz na alteração do
humor. Mas nos estudos clínicos com a droga, as mulheres manifestavam um efeito
colateral inesperado: um maior interesse em sexo.
O remédio parece agir regulando o equilíbrio dos neurotransmissores nos
circuitos cerebrais, principalmente a dopamina, a noradrenalina e a serotonina.
"Acreditamos que a droga normaliza ou compensa algo que não esteja
ajudando a afinar esses circuitos", afirma Stahl. "Ou ainda, ela pode
permitir que as mulheres se libertem da ação desses circuitos frontais que
estão inibindo o desejo sexual."
Alguns sexólogos
temem que solução química substitua recursos como o aconselhamento psicológico
Apesar de o Flibanserin ter sido descartado como antidepressivo, ele foi
logo reformulado para funcionar como um detonador do desejo sexual para
mulheres com frigidez.
No entanto, os primeiros testes não conseguiram provar um efeito
significativo, mesmo com algumas voluntárias relatando terem experimentado
"eventos sexuais satisfatórios". Por isso, o FDA reprovou o
medicamento em 2010.
Outros estudos realizados desde então, entretanto, sugeriram que a droga
aumenta o desejo sexual, mas com um efeito modesto.
"O problema é: como você mede a melhora?", pergunta Susan
Scanlan, diretora da campanha Even The Score, que defende uma solução medicinal
para a frigidez.
Segundo ela, a base de referência é baixa. "A mulher americana
média faz sexo três vezes por mês. Se uma paciente não tiver essa frequência,
será que isso significa que o medicamento não funciona?", questiona. De
fato, as voluntárias que tomaram Flibanserin relataram ter tido uma média de
2,5 eventos sexuais em um período de 28 dias – mais do que as mulheres frígidas
que não estavam usando o remédio, cuja média foi de 1,5 evento.
Muitas das voluntárias também acreditam ter sentido uma grande melhora.
Entre elas está Gattuso, que participou de um teste com o Flibanserin em 2011.
"Depois de duas semanas, eu era outra pessoa", conta. "Eu
acordava no meio da noite, acariciava meu marido. A intimidade, o desejo, a
troca... Tudo estava 100% ali."
Uma das preocupações tem sido os efeitos colaterais do medicamento, como
sonolência, tontura e náusea. Scanlan argumenta que esses sintomas são bem
menos agressivos do que aqueles que decorrem do uso do Viagra e de outros
remédios para a disfunção erétil, como problemas cardíacos, por exemplo.
Outros grupos temem que a aprovação do Flibanserin incentive mulheres a
buscar uma solução química para um problema que poderia ser resolvido com
aconselhamento psicológico ou tratando de outros problemas, como estafa e
depressão.
"No desejo, as relações são importantes, o contexto é importante e
fatores situacionais como o humor e a privacidade são importantes", afirma
Cynthia Graham, professora de saúde psicológica na Universidade de Southampton,
na Grã-Bretanha.
Ela, no entanto, concorda que uma solução farmacêutica poderia ajudar em
determinadas situações, "desde que se conheça bem os efeitos
colaterais".
Há ainda especialistas que acreditam que a reprovação do Flibanserin
atrapalhe outras tentativas para se buscar alternativas mais eficazes para o
problema.
Certamente, ninguém está sugerindo uma solução rápida para a falta de
desejo, sem se levar em consideração fatores como cansaço, stress, outros
medicamentos e questões do relacionamento. "Uma pílula não vai salvar um
casamento que está indo mal", lembra Stahl.
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