quarta-feira, 3 de junho de 2015

SAIBA TUDO SOBRE 'VIAGRA FEMININO', QUE PODE SER APROVADO NOS EUA NESTA SEMANA

Linda GeddesDa BBC Future


Barbara Gattuso já tinha mais de 35 anos quando percebeu que estava perdendo o interesse em fazer sexo com o marido, Gregg. Passou vários anos usando desculpas e evitando-o, em vez de se abrir com ele. "Até que comecei a me dar conta de que devia haver um grande problema comigo: eu amava meu marido, tinha um casamento incrível e filhos maravilhosos. O que estava acontecendo?", lembra ela, hoje com 66 anos.
O problema era o desejo. Gattuso não sentia nenhuma vontade de se relacionar sexualmente – não só com seu marido, mas com ninguém mais.
Muitos sexólogos acreditam que essas oscilações no desejo sexual são perfeitamente normais – principalmente entre mulheres a partir de uma certa idade. Já outros especialistas defendem que a falta de desejo é um distúrbio que resulta do desequilíbrio de algumas substâncias químicas do cérebro e poderia ser tratado com medicamentos específicos.
Esta semana, a Food and Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos que regulamenta a produção e a comercialização de remédios e alimentos no país, reúne um painel de consultores para decidir sobre a aprovação do Flibanserin – medicamento que já foi apelidado de "Viagra feminino".
A questão, no entanto, é polêmica – com argumentos fortes dos dois lados.
Equilíbrio cerebral

Flibanserin já foi reprovado pelo FDA em 2010, mas foi reformulado desde então

Apesar de não ser uma exclusividade das mulheres – e o Viagra e seus similares estão aí para provar que os homens também enfrentam distúrbios sexuais ao envelhecerem -, a natureza do problema é bem diferente em cada caso.

"Nós, médicos, costumamos dizer que existem três formas de disfunção sexual entre os homens: ereção, ereção e ereção", afirma Stephen Stahl, psiquiatra da Universidade da Califórnia em San Diego. "Entre as mulheres, os problemas também são três: desejo, desejo e desejo."
A causa precisa desse declínio – e até as origens do desejo – é um mistério para os cientistas, apesar de eles saberem que é algo relacionado ao circuito de compensação do cérebro.
Uma das teorias é que o distúrbio, conhecido como frigidez ou anafrodisia, resulta de uma incapacidade de "desligar" as partes frontais do cérebro responsáveis pelas tarefas cotidianas. Como resultado, esse circuito, que lida com motivação e prazer, é inibido.
Desde que o Viagra comprovou ser eficiente do tratamento da disfunção erétil (sem falar nos lucros gerados para a empresa que o desenvolveu), começou uma corrida para encontrar um medicamento semelhante para as mulheres – mas um que tenha uma ação no cérebro e não nos órgãos genitais.
O Flibanserin foi um dos primeiros a largar nessa corrida. Inicialmente desenvolvido para ser um antidepressivo, provou-se ineficaz na alteração do humor. Mas nos estudos clínicos com a droga, as mulheres manifestavam um efeito colateral inesperado: um maior interesse em sexo.
O remédio parece agir regulando o equilíbrio dos neurotransmissores nos circuitos cerebrais, principalmente a dopamina, a noradrenalina e a serotonina. "Acreditamos que a droga normaliza ou compensa algo que não esteja ajudando a afinar esses circuitos", afirma Stahl. "Ou ainda, ela pode permitir que as mulheres se libertem da ação desses circuitos frontais que estão inibindo o desejo sexual."

Alguns sexólogos temem que solução química substitua recursos como o aconselhamento psicológico

Apesar de o Flibanserin ter sido descartado como antidepressivo, ele foi logo reformulado para funcionar como um detonador do desejo sexual para mulheres com frigidez.
No entanto, os primeiros testes não conseguiram provar um efeito significativo, mesmo com algumas voluntárias relatando terem experimentado "eventos sexuais satisfatórios". Por isso, o FDA reprovou o medicamento em 2010.
Outros estudos realizados desde então, entretanto, sugeriram que a droga aumenta o desejo sexual, mas com um efeito modesto.
"O problema é: como você mede a melhora?", pergunta Susan Scanlan, diretora da campanha Even The Score, que defende uma solução medicinal para a frigidez.
Segundo ela, a base de referência é baixa. "A mulher americana média faz sexo três vezes por mês. Se uma paciente não tiver essa frequência, será que isso significa que o medicamento não funciona?", questiona. De fato, as voluntárias que tomaram Flibanserin relataram ter tido uma média de 2,5 eventos sexuais em um período de 28 dias – mais do que as mulheres frígidas que não estavam usando o remédio, cuja média foi de 1,5 evento.
Muitas das voluntárias também acreditam ter sentido uma grande melhora. Entre elas está Gattuso, que participou de um teste com o Flibanserin em 2011. "Depois de duas semanas, eu era outra pessoa", conta. "Eu acordava no meio da noite, acariciava meu marido. A intimidade, o desejo, a troca... Tudo estava 100% ali."
Uma das preocupações tem sido os efeitos colaterais do medicamento, como sonolência, tontura e náusea. Scanlan argumenta que esses sintomas são bem menos agressivos do que aqueles que decorrem do uso do Viagra e de outros remédios para a disfunção erétil, como problemas cardíacos, por exemplo.
Outros grupos temem que a aprovação do Flibanserin incentive mulheres a buscar uma solução química para um problema que poderia ser resolvido com aconselhamento psicológico ou tratando de outros problemas, como estafa e depressão.
"No desejo, as relações são importantes, o contexto é importante e fatores situacionais como o humor e a privacidade são importantes", afirma Cynthia Graham, professora de saúde psicológica na Universidade de Southampton, na Grã-Bretanha.
Ela, no entanto, concorda que uma solução farmacêutica poderia ajudar em determinadas situações, "desde que se conheça bem os efeitos colaterais".
Há ainda especialistas que acreditam que a reprovação do Flibanserin atrapalhe outras tentativas para se buscar alternativas mais eficazes para o problema.

Certamente, ninguém está sugerindo uma solução rápida para a falta de desejo, sem se levar em consideração fatores como cansaço, stress, outros medicamentos e questões do relacionamento. "Uma pílula não vai salvar um casamento que está indo mal", lembra Stahl.

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