Leiam a
fantástica história do cientista Paul Nurse
Em 2001, o cientista britânico Paul Nurse ganhou um prêmio Nobel por
suas pesquisas sobre o papel do DNA na divisão e na multiplicação celular. Anos
depois, por acaso, faria descobertas chocantes sobre sua própria genética. As revelações,
no entanto, deixaram lacunas que, até hoje, o cientista não preencheu.
Paul Nurse foi criado em Londres em uma família sem
muitos recursos ou inclinação para estudos. Seus irmãos, por exemplo, todos
deixaram a escola aos 15 anos. Ele conta que teve uma infância feliz.
Sentia-se, porém, um tanto solitário.
"Me sentia um
pouco como um peixe fora d'água. Sempre fui uma pessoa com facilidade para os
estudos, acabei me tornando um professor em Oxford, e o resto da família não
era assim. E eu me perguntava: o que explica isso? E, sendo um geneticista,
prestava atenção a essas diferenças", disse em entrevista ao
programa Outlook, do Serviço Mundial da BBC.
A primeira de duas descobertas do cientista sobre
suas origens ocorreu quando sua filha, Sarah, precisava fazer um trabalho
escolar sobre genealogia da família. Eles aproveitaram uma visita aos pais de
Nurse em uma cidade no nordeste da Inglaterra para que a menina entrevistasse a
avó.
"Ela chamou minha mãe para um canto e começou
a entrevistá-la. De repente, minha mãe volta branca como uma folha de
papel", lembra.
"A Sarah está me perguntando sobre meus pais.
Nunca lhe contei isso, mas sou, na verdade, uma filha ilegítima. Minha mãe me
teve com outra pessoa e se casou, posteriormente, com o homem que me
criou", disse a mãe de Paul.
E as revelações não pararam por aí. O pai de Nurse
tinha um histórico semelhante. Era filho de uma 'mãe solteira' e não conhecia o
próprio pai.
"Dois avós desconhecidos! Isso me ajudava a
explicar por que eu era tão diferente do resto da família. Talvez tivesse
herdado genes 'exóticos' desses avós! Como geneticista, me detive às
implicações disso pelos 20 anos seguintes", contou.
Mas a complicada história familiar do cientista
estava longe de ser desvendada por completo.
Há cerca de oito anos, quando tentava tirar um
green card (visto de residência permanente) para os Estados Unidos, foi
informado por autoridades imigração que seu pedido havia sido rejeitado.
"Levei um susto. Já tinha recebido um prêmio
Nobel, era presidente de uma universidade americana... Fiquei um tanto
irritado, para falar a verdade", disse.
O problema é que a versão resumida de sua certidão
de nascimento (algo comum na Grã-Bretanha) não continha o nome de seus pais.
"Já havia perguntado a meus pais por que tinha apenas essa versão
resumida. Me disseram que a completa era mais cara e eu aceitei a
explicação", disse.
Nurse precisou, então, pedir uma certidão completa
de nascimento em um cartório britânico. Quando o documento chegou, teve sua
segunda revelação.
"Tinha voltado de férias, minha esposa estava
ao meu lado. Minha secretária havia recebido o documento e me perguntou: 'Paul,
é possível que você tenha o nome de sua mãe errado?'. 'Claro que não',
respondi.
"Ela olhou para mim e me entregou o
certificado. Silêncio absoluto. O nome escrito no campo da mãe era o nome de
minha irmã. Fique chocado, atônito", disse.
A pessoa que Paul acreditava ser sua irmã era sua
mãe biológica. "Achei que fosse um erro burocrático. Minha irmã teria me
levado para ser registrado e confundiram o nome. Então, olhei para o campo do
pai. Não havia nenhum nome, apenas um risco", disse.
"Descobri que minha mãe ficou grávida aos 17
anos e foi enviada para a casa de uma tia em Norwich, coisa de livro vitoriano.
Posteriormente, minha avó foi para lá e fingiu que o filho era dela. Três meses
depois, voltou comigo para Londres como seu filho. Nunca fui oficialmente
adotado", contou.
Apesar dessas duas reviravoltas em sua história
genética familiar, o cientista não conseguiu ir além na busca por suas origens.
Quando soube de sua verdadeira história, sua mãe
biológica e avós já haviam morrido, e seus irmãos tinham poucas recordações do
período.
"Sabemos apenas que mamãe sumiu por alguns
meses e voltou com um bebê", disseram.
"Me senti confuso. Quem era meu pai? Me
perguntava se minha mãe havia me revelado a identidade dele, ou pelo menos
alguma dica, em código. Fui atrás de alguns nomes que ela havia mencionado, mas
nada deu resultado. Tentei fazer conexões com o fato de ela gostar de jazz, mas
não consegui descobrir nada".
"Nasci em 1949 e imaginei que pudesse ser
fruto de uma relação com algum militar estrangeiro, mas não tenho essas
respostas", disse.
"É uma grande ironia que eu, como geneticista,
não consiga essas respostas e tenha sido um segredo tão grande, por mais de 50
anos, sobre minhas próprias origens", disse.
"Penso sobre genes, sobre genética e gostaria
de saber quem é meu pai. Não carrego cicatrizes emocionais, mas, sim, uma
grande curiosidade", conclui.
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