Arte Pictórica
Caspar David
Publicado em artes e ideias por Victor Oliveira
A arte tem o poder de embelezar nosso cotidiano. Para Schopenhauer as
obras de arte eram um dos elementos estéticos capazes de suprimir
momentaneamente o nosso estado de dor. Retratando paisagens que inspiravam
grandiosidade, Caspar David Friedrich foi o mais puro representante da pintura
romântica alemã, nos emocionando até hoje.
Caspar David Friedrich nasceu no dia 5 de setembro de 1774 em Greifswald
na Alemanha. Acabou falecendo em 4 de maio de 1840, praticamente esquecido pelo
mundo da arte.
Para entender as
características que marcaram sua obra é necessário que recorramos aos seus
primeiros anos de vida. Friedrich, foi educado dentro dos rigorosos preceitos
luteranos de sua família. Um dos elementos principais da obra do paisagista
alemão, é a sensação de grandiosidade da natureza nos ambientes retratados. Com
isso, o artista tinha a intenção de evocar sentimentos religiosos em seus
apreciadores.
Aos sete anos de
idade perdeu sua mãe durante o parto de seu irmão, e nos anos seguintes perde
mais quatro irmãos. Tais fatos que marcaram sua infância serviram como
substrato para suas obras, o que pode ser observado nos traços e na atmosfera
melancólica de suas pinturas, o que lhe gerou a alcunha de "homem
taciturno".
Sua obra é marcada
por esse sincretismo entre a religiosidade e a melancolia. Por isso, Caspar D.
Friedrich, não foi um mero paisagista. Diferentemente dos neoclássicos, ele
tentava poetizar suas pinturas, o que servia como uma ponte que ligava o
observador solitário e o ambiente externo, em suas palavras: "o artista
devia não só pintar aquilo que vê diante de si, mas também o que vê dentro de
si".
Praia ao
luar (1811)
A primeira
obra que vamos analisar "Praia ao luar", foi uma das primeiras
pinturas do artista, e nela podemos observar muito bem as características que
citei anteriormente. Nessa paisagem são vistos rochedos e a percepção de
imensidão do oceano em relação aos navios, que nos causam uma sensação de
infinitude, e em uma sociedade que já ensaiava um regaste ao espiritualismo - em
despeito do materialismo -, o quadro naturalmente é carregado de traços que
evocam religiosidade. Além disso, a sensação de obscuridade é o elemento
melancólico desse quadro, que é quebrado em um breve espaço pela luz da lua,
que seria uma testemunha da presença de Deus.
Peregrino
sobre o mar de brumas (1818)
Essa talvez
seja a obra mais conhecida do pintor, romântica por excelência. Friedrich,
tinha como característica peculiar o apreço em colocar elementos exteriores a
paisagem, principalmente seres humanos. Nessa obra vemos o jovem não a olhar
para o horizonte, mas sim para baixo, para as brumas. Podemos sentir
intensamente o poder da natureza e o sentimento de angústia do rapaz diante a
ela, pelo fato de estar só e dado a sua pequenez em relação a imensidão do
ambiente. Nesse quadro o peregrino retrata o jovem herói romântico que luta
contra os seus sentimentos. Essa obra seria uma maravilhosa paisagem, se o
autor não partilhasse conosco os sentimentos do rapaz, nos tornando cúmplices,
mas como foi dito anteriormente, Friedrich não queria retratar apenas a
paisagem, mas sim poetizá-la, por isso o adereço externo, o rapaz. De fato
obteve o êxito de sua perspectiva.
Homem e
mulher contemplando a lua (1824)
Em o
"Homem e mulher contemplando a lua", o artista novamente coloca
elementos exteriores, dessa vez um homem e uma mulher. Podemos perceber uma
atmosfera sombria entrar em conflito com a infinitude do horizonte, no qual o
casal está admirando. A criação desse conflito se dá pela comoção que geralmente
temos com o horizonte, pois sempre desejamos o desconhecido. Porém, podemos
perceber que o artista coloca o casal apenas contemplando a lua, o horizonte, e
não buscando ele. Friedrich, faz essa provocação porque apesar de sempre
querermos nos aventurarmos o mais distante possível, não queremos sair da nossa
zona de conforto, de nossa segurança ilusória. Por isso, o artista sempre teve
o cuidado de retratar seus elementos exteriores apenas como observadores da
imensidão da natureza e não como participantes dela.
O mar de
gelo (1824)
À medida
que os anos vão passando o pessimismo ganha espaço nas obras de Caspar
Friedrich. Esse quadro impactou muito seus críticos, gerando conotações
negativas. "O mar de gelo" marca a fase final do autor - assim como o
"Naufrágio da esperança" -, são obras que retratam o trágico em meio
a belas paisagens. Na obra aqui exposta podemos ver um navio à naufragar em
meio ao Mar de Gelo, nos alpes franceses.
A entrada
do cemitério (1825)
Por fim,
apesar da simplicidade, essa é uma das obras mais belas esteticamente do
artista. Pintada em 1825, Friedrich já acreditava estar próximo da morte (o que
ocorreu 15 anos depois), por isso paisagens com cemitérios passaram a ser
retratadas pelo pintor, como o "Cemitério de Neve (1828)" e
"O Churchyard (1830)". O cemitério é representado de
fora para dentro, com isso o pintor retrata simbolicamente a passagem da vida
para a morte. Nessa obra há também elementos exteriores, só que de forma bem
mais discreta.
© obvious: http://obviousmag.org/do_ser/2015/o-poder-da-arte-conheca-o-pintor-romantico-caspar-d-friedrich.html#ixzz3eY9BiR9v
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