Publicado em sociedade por Sílvia Marques
Não dá mais para aceitar empresas que têm como política a divisão dos
profissionais por “castas”. Não dá mais para aceitar as imposições de padrões
de beleza europeus sobre as mulheres orientais, negras e indígenas. Não dá mais
para aceitar que umbanda e candomblé sejam religiões malignas.
Quando falamos
sobre qualquer assunto, principalmente polêmico, me parece importante
relativizar e extrair de cada ponto de vista os seus melhores aspectos e
contribuições. Não acredito em respostas
prontas, fechadas e categóricas. Posso falar que a cozinha italiana é a
minha favorita porque se trata de um gosto pessoal, o que é bem diferente de
afirmar que a cozinha italiana é a melhor do mundo, fazendo quem pensa
diferente engolir a minha “verdade universal”.
Não deveríamos colocar as nossas opiniões como as
únicas ou as verdadeiras, excetuando casos extremos que envolvem a violação
de direitos de outras pessoas como acontece, por exemplo, em histórias de
pedofilia, violência doméstica e abusos sexuais. Não dá para aceitar um
estupro, por exemplo, como algo normal e justificável pelo comprimento da saia
da vítima.
Porém,
quase tudo tem mais de um lado. Mas neste artigo me centrarei num tema que ao
meu parecer deveria ser encarado pela maioria das pessoas como questão clara e
resolvida: a discriminação.
Não dá para
relativizar preconceitos étnicos, sociais, sexuais. Não dá para aceitar gente
que se considera superior aos outros por ter mais dinheiro, mais títulos
acadêmicos, mais contatos sociais importantes, mais beleza, mais visibilidade.
Não dá para aceitar piadas grosseiras sobre nordestinos e até mesmo ataques
agressivos como vimos nas redes sociais nas últimas eleições presidenciais.
Não dá mais
para aceitar que quem faz pesquisas nas áreas de Exatas e Biológicas é mais
pesquisador do que estudiosos da área de Humanas. Não dá mais para aceitar que
a formatura de um médico, de um advogado ou de um engenheiro tem mais valor do
que a formatura de um pedagogo, de um sociólogo, de um psicólogo, de um
filósofo. Não dá mais para aceitar pessoas com alto poder aquisitivo passando
sem cumprimentar faxineiras e porteiros.
Não dá mais
para aceitar empresas que tem como política a divisão dos profissionais por
“castas”. Não dá mais para aceitar a imposição dos padrões de beleza europeus
sobre as mulheres orientais, negras e indígenas. Não dá mais para aceitar que
umbanda e candomblé são religiões malignas.
Não dá mais
para aceitar que existem etnias e profissões superiores. Não dá mais para
aceitar que só a família tradicional é boa. Não dá mais para aceitar que
casamento é só para procriar. Não dá mais para aceitar que professor precisa
ser tirano e reprovar metade da classe para ser competente. Não dá mais para
aceitar que a ética de uma pessoa é medida por sua formalidade.
Não dá mais
para aceitar que gente gentil e prestativa seja tratada como falsa e gente
solidária como hipócrita. Não quer ser gentil? Não seja. Não quer ser
solidário? Não seja. Mas não saia pelo mundo dizendo que gentileza e bondade
não existem pois elas não habitam o seu coração. Não dá mais para aceitar gente
que ridiculariza quem acredita em Deus. Não dá mais para aceitar quem deseja o
mal para as pessoas que não acreditam em Deus. Não dá mais para aceitar que as
crianças sejam criadas numa cultura do ódio. Não dá mais para aceitar jogos de
palavras que visam simplesmente escamotear como somos primários no quesito
amar.
© obvious: http://obviousmag.org/cinema_pensante/2015/06/vamos-colocar-os-pingos-nos-is-e-dar-nome-aos-bois.html#ixzz3ew1Lhjhs
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