terça-feira, 25 de agosto de 2015

EM OSLO, HÁ MAIS BARCOS QUE PRÉDIOS.






Felipe Pergher, nascido em 1996. Cursa Artes Visuais, mas dedica uma boa parcela de seu tempo à literatura. Desde 2014, publica seus escritos no Antro da Pretensiosidade (link ao lado). Interessa-se por filosofia, psicologia, música e sistemas linguísticos. Estuda dinamarquês e italiano, e fala inglês fluentemente. Ainda vai largar tudo e colocar a mochila nas costas.

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Publicado por Felipe Pergher



Registro das impressões que causa uma cidade a quem vem de sua exata contraparte. Pequeno ensaio sobre o céu da cidade de baixos prédios e horizontes longos. O que acontece quando a arquitetura torna-se a paisagem ao invés de ocultá-la.



Em Oslo, há mais barcos que prédios. Não que na cidade existam poucos prédios - bem pelo contrário, existem ruas e avenidas atulhadas como (imagino) em qualquer grande cidade do mundo. Essa frase não deve ser tomada literalmente.
Os prédios de Oslo poderiam muito bem não estar aí. Essa é outra frase que precisa ser retificada para evitar ambiguidades: não que seja feia, a arquitetura escandinava. Não que as cores, verdes, vermelhos e azuis, vivos se não cintilantes, não chamem a atenção de qualquer um que enxergue a seu redor mais do que o habitual cinza fumê das cidades que geralmente possuem o céu na mesma cor. A questão é que em Oslo os prédios não brigam com o horizonte, com a vista do fiorde, com as nuvens, o sol ou a lua. Os prédios de lá também não brigam com os pedestres por espaço no passeio público, nem os prédios, nem os carros (mas isso dá outro texto).


Quando você se afasta um pouco das docas, costeando o mar através daquelas ruas onde qualquer pedra é pitoresca, apenas uma coisa separa seus olhos do oceano e das belas precipitações de terra cobertas de um verde-folha fenomenal: as centenas arrisco dizer milhares, de barcos nos atracadouros. Densas cortinas de mastros que se alastram até onde termina cada um dos píeres, e durante certo trecho do caminho, olhe-se para frente ou para trás parece que não possuem um fim. Ao olhar do passante, parece que entre cada atracadouro desenvolve-se outra cidade por si mesma, quase mais interessante do que a própria cidade de Oslo (e novamente quero destacar que não há nenhuma conotação pejorativa no que digo).
Talvez haja alguma simbologia no que observo, talvez não; o que tenho a relatar acaba aqui. Mas desde que voltei daquela aconchegante metrópole (outro adjetivo que parece impossível de ser combinado com seu substantivo, mas não se enganem: as metrópoles aconchegantes existem), quando sopra um vento frio que já sei não ser marítimo nem tão salobro, junto com a brisa flutua minha atenção. De volta para aquela extensa avenida ladeada por barcos infinitos.


E penso comigo mesmo, já não tenho a pretensão de convencer alguém, o quanto daquilo, do que quer que seja que a cidade de Oslo desperta logo que em seu solo se pisa não vem desse simples detalhe: do fato de se enxergarem mais barcos do que prédios, do fato de que a cidade mais estende-se aos (e estende seus) verde azulados horizontes das águas e fiordes do que enclausura seus mirantes e passantes entre cortinas negras de concreto acinzentado.



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