Felipe
Pergher, nascido em 1996. Cursa Artes Visuais, mas dedica uma boa parcela de
seu tempo à literatura. Desde 2014, publica seus escritos no Antro da
Pretensiosidade (link ao lado). Interessa-se por filosofia, psicologia, música
e sistemas linguísticos. Estuda dinamarquês e italiano, e fala inglês
fluentemente. Ainda vai largar tudo e colocar a mochila nas costas.
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Publicado por Felipe
Pergher
Em Oslo, há mais barcos que prédios. Não que
na cidade existam poucos prédios - bem pelo contrário, existem ruas e avenidas
atulhadas como (imagino) em qualquer grande cidade do mundo. Essa frase não
deve ser tomada literalmente.
Os prédios de Oslo poderiam muito bem não
estar aí. Essa é outra frase que precisa ser retificada para evitar
ambiguidades: não que seja feia, a arquitetura escandinava. Não que as cores,
verdes, vermelhos e azuis, vivos se não cintilantes, não chamem a atenção de
qualquer um que enxergue a seu redor mais do que o habitual cinza fumê das
cidades que geralmente possuem o céu na mesma cor. A questão é que em Oslo os
prédios não brigam com o horizonte, com a vista do fiorde, com as nuvens, o sol
ou a lua. Os prédios de lá também não brigam com os pedestres por espaço no
passeio público, nem os prédios, nem os carros (mas isso dá outro texto).
Quando você se afasta um pouco das docas,
costeando o mar através daquelas ruas onde qualquer pedra é pitoresca, apenas
uma coisa separa seus olhos do oceano e das belas precipitações de terra
cobertas de um verde-folha fenomenal: as centenas arrisco dizer milhares, de
barcos nos atracadouros. Densas cortinas de mastros que se alastram até onde
termina cada um dos píeres, e durante certo trecho do caminho, olhe-se para
frente ou para trás parece que não possuem um fim. Ao olhar do passante, parece
que entre cada atracadouro desenvolve-se outra cidade por si mesma, quase mais
interessante do que a própria cidade de Oslo (e novamente quero destacar que
não há nenhuma conotação pejorativa no que digo).
Talvez haja alguma simbologia no que observo,
talvez não; o que tenho a relatar acaba aqui. Mas desde que voltei daquela
aconchegante metrópole (outro adjetivo que parece impossível de ser combinado com
seu substantivo, mas não se enganem: as metrópoles aconchegantes existem),
quando sopra um vento frio que já sei não ser marítimo nem tão salobro, junto
com a brisa flutua minha atenção. De volta para aquela extensa avenida ladeada
por barcos infinitos.
E penso comigo mesmo, já não tenho a
pretensão de convencer alguém, o quanto daquilo, do que quer que seja que a
cidade de Oslo desperta logo que em seu solo se pisa não vem desse simples
detalhe: do fato de se enxergarem mais barcos do que prédios, do fato de que a
cidade mais estende-se aos (e estende seus) verde azulados horizontes das águas
e fiordes do que enclausura seus mirantes e passantes entre cortinas negras de
concreto acinzentado.
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