O oráculo é a caráter de
significado etmológico, a resposta dada por uma divindade a uma
questão pessoal através de artes divinatórias. Por extensão, o termo oráculo por vezes também
designa o intermediário humano consultado, que transmite a resposta e até
mesmo, no Mundo Antigo, o local que ganhava reputação por distribuir a
sabedoria oracular, onde era notada a presença Divina sempre
que chamada, que passava a ser considerado solo sagrado e previamente preparado
para tal prática. Todavia, nos dias de hoje, ele é igualmente atribuído a um
objeto ou meio pelo qual alguém possa obter respostas para um esclarecimento
maior. A isso, o Dr. Urban explica como sendo uma busca por uma compreensão
inspirada inicialmente pelo self, ou "si mesmo" no seu próprio
inconsciente por meio de arquétipos, de acordo com a teoria junguiana de
individuação, teoria esta aplicada em oráculos como o Tarot.
"Consultando o oráculo" por John William Waterhouse, exibe oito sacerdotisas
num templo de profecia
As civilizações antigas consultavam oráculos para diversas finalidades. Na mitologia escandinava, Odin levou a cabeça do deus Mimir para Asgard para ser consultada como oráculo. Na tradição chinesa, o I Ching foi usado para adivinhação na dinastia Shang, embora seja muito mais antigo e tenha profundo significado filosófico.
Os oráculos gregos constituem um
aspecto fundamental da religião e da cultura gregos. O oráculo é a resposta
dada por um deus que foi consultado por uma dúvida
pessoal, referente geralmente ao futuro. Estes oráculos só podem ser dados por
certas divindades, em lugares determinados, por pessoas determinadas e se
respeitando rigorosamente os ritos: a
manifestação do oráculo se assemelha a um culto. Além disso, interpretar as
respostas do deus, que se exprime de diversas maneiras, exige uma iniciação.
Por extensão, o termo oráculo designa
tanto a divindade consultada como o intermediário humano
que transmite a resposta, e ainda o lugar sagrado onde a
resposta é dada. A língua grega distingue estes diferentes sentidos: entre
numerosos termos, a resposta divina pode ser designada por χρησμός - khrêsmós,
literalmente o fato de informar. Pode-se também dizer φάτις - phátis, o
fato de falar. O intérprete da resposta divina é frequentemente designado
por προφήτης - prophêtê, aquele que fala
em lugar (do deus), ou ainda μάντις - mántis.
Por fim, o lugar do oráculo é χρηστήριον - kherêstêrion.
A mancia, isto é, o domínio da adivinhação, não é, no mundo grego antigo, constituído só pelas ciências oraculares.
Os adivinhos como Tirésias são considerados personagens mitológicos: a adivinhação, na Grécia, não é assunto de mortais inspirados,
mas de pessoas que respeitam determinados ritos, embora a tradição tenha podido
dar a impressão de tal inspiração, ou, literalmente, ἐνθουσιασμός - enthousiasmós,
entusiasmo, isto é, o fato de ter deus em si.
Objetos
No folclore, por exemplo, joga-se uma moeda para cima como
método para se saber se irá ou não chover, e isso pode ser interpretado como
oráculo. O mesmo se aplica ao costume do sertanejo nordestino de utilizar pedras de sal para
adivinhar o mês em que virão as chuvas.
Oráculo hebreu
Qualquer objeto, moeda, cartas, buzios etc. podem
dar resposta, afirmativa e ou negativas e também outros tipos de respostas
desde que exista um padrão já determinado no sistema. Um ser humano, em geral
uma sacerdotisa ou pitonisa, interpreta as respostas e estabelece a um elo
iniciático para seres humanos.
A faculdade de adivinhação, ou manteia, é uma capacidade
puramente divina. Para compreender a adivinhação grega é preciso saber que o
destino, personalizado pelas três Moiras (môirai,
literalmente aquelas que dão [o destino] em partilha), é uma força
independente dos deuses, que lhe são submissos e não a podem dobrar. No máximo
eles podem retardá-lo e, sobretudo, pressenti-lo e denunciá-lo, de forma
velada, aos mortais. Este poder de adivinhação parece, nos primeiros tempos da adivinhação,
estar fortemente ligado à terra e às forças ctônicas,
donde os oráculos obtidos por incubação, isto é, transmitidos aos
mortais pelos sonhos, após uma noite passada no solo. Um dos mais conhecidos
oráculos foi o monge chamado Toniello Campodonico, que viveu e morreu em um
vilarejo próximo da região de Fabricio, na Itália.
O primeiro deus-adivinho é Zeus,
cujos oráculos são obtidos em numerosos santuários, o mais antigo sendo o
de Dodona,
no Épiro,
dedicado à deusa Reia ou Gaia. O
santuário em Dodona era o maior centro religioso do noroeste grego na
antiguidade. Segundo o mito relatado por Heródoto, o santuário foi fundado por indicação de uma
pomba (do grego peleiades, pomba, significando simbolicamente
uma sacerdotisa ou pítia), que
havia saído de Tebas, no Egito, e
chegado no local, pousando sobre um carvalho, árvore dedicada a Zeus, e falado em voz humana
que ali deveria ser estabelecido um oráculo.
O santuário oracular de Dodona, citado por Homero,
conheceu um declínio no século IV a.C.. Os oráculos de Zeus eram transmitidos, entre
outros, por incubação das sacerdotisas. Estas, para estar em contato com o deus
num aspecto ctônico (o que demonstra sua antiguidade), deviam dormir no chão,
andar descalços e não lavar os pés. Mais tarde, era pelo ruído do vento nas
folhas das calhas de Dódona que o deus se expressava. A interpretação podia
também ser efetuada por duas sacerdotisas chamadas as Ponbas (que
praticavam talvez também a obtenção de auspícios, ou interpretação do voo das aves). Algumas das
perguntas feitas ao deus foram encontradas graças a placas de bronze na quais,
mais tardiamente, eram escritas.
Dodona tornou-se o segundo mais importante dos
oráculos na Grécia antiga, dedicado a deusa Gaia ou
Reia e posteriormente a Zeus, Héracles e Diana.
Zeus-adivinho era consultado também em Olímpia, e se dirigia aos sacerdotes através das chamas
do sacrifício. Estes se manifestavam também haruspícios ,
na leitura da resposta do deus nas entranhas retiradas da vítima. Na época
clássica, Zeus oracular está presente sobretudo no Egito, identificado
com Amon. Alexandre, o Grande visitou-o, e embora não haja nenhum
registro de sua pergunta, o oráculo pode tê-lo chamado filho de Amon, o que teria
influenciado suas concepções de sua própria divindade.
Afrodite era consultada em Pafos, vila
de ilha de Chipre, e se expressava nas entranhas e no fígado
das vítimas sacrificiais; como Zeus em Olípia, essa método oracular
se associa ao haruspício.
Quanto a Atena, dava
suas respostas através de um jogo de cascalhos e ossadas. Asclépio e Anfiarau, por incubação (ver acima), davam conselhos
terapêuticos aos consulentes, que deviam passar pelo menos uma noite no
santuário, principalmente em Epidauro e em Atenas para
Asclépio, em Oropos (ao norte de Atenas) e em Tebas para
Anfiarau. A resposta vinha na forma de sonho a ser interpretado.
Oráculo de Delfos
Apolo se
tornou o arquétipo do deus-adivinho, que se consultava por oráculo
principalmente em Delfos, antes chamado de Píton (mas
também em Délos, Patara e mesmo Claros). Os oráculos que aí foram dados são
ainda célebres, e a importância do santuário oracular de Delfos nos permitiu
seguir sua evolução, bem como conhecer certos detalhes importantes para
apreender a mancia grega.
Em Creta existiu
outro oráculo importante, consagrado ao deus Apolo. É
tido como um dos mais exatos oráculos da Grécia.
O oráculo de Delfos permaneceu muito ativo e
consultado até o período cristão; os cristãos, contudo, ao caricaturá-lo, ao
dar à Pítia - a intérprete oracular de Apolo - uma
imagem falsa, a de uma mulher histérica e drogada (quando em êxtase de
iniciação religiosa), e ao transmitir textos errôneos, contribuíram muito para
o abandono. Entre os testemunhos mais seguros, temos os de Plutarco (circa 46-circa 120
de nossa era), que ocupou por longo tempo o cargo de sacerdote do templo de
Apolo, encarregado do santuário oracular. Sabemos, graças às escavações
realizadas em Delfos, que o santuário foi um dos mais
frequentados e mais ricos.
A Pítia, Sibila ou Pitonisa foi consultada antes de vários
empreendimentos importantes, como guerras e fundação de colônia. Os países
helenizados em torno do mundo grego, como Macedônia, Lídia, Cária e
até mesmo o Egipto Antigo, respeitaram-no também. Creso, rei da Lídia, consultou o oráculo antes de atacar o Império Aquemênida e, de acordo com Heródoto, recebeu a seguinte resposta: "Se
lançares a guerra um império caírá." Creso atacou entendendo que
seu inimigo cairia, mas foi derrotado e seu império caiu.
A profetisa, no sentido grego aquela que fala em lugar
[do deus], é chamada "Pítia"
(puthia hiéreia, sacerdotisa pítia), escolhida entre as
mulheres da região. O nome (originalmente um adjetivo, mas se usou depois puthia apenas)
vem de uma epiclese de Apolo, chamado píton em
Delfos, porque havia matado a serpente Píton.
Delfos, aliás, é frequentemente chamado putho (ver Apolo para
mais detalhes). A Pítia era frequentemente velha e Plutarco nos informa que ele
podia ter uns cinquenta anos, o que para a época era uma idade avançada. Ela se
exprimia em versos (ao menos se exprimiu assim por longo tempo). Plutarco
destaca que em sua época ela não o fazia mais, sem poder explicar porquê, e a
proposição confusa devia ser interpretada por um colégio de sacerdotes, assistidos por cinco ministros do culto. Coisa excepcional, esses cargos eram
vitalícios.
O caminho a seguir para
consulta
·
O
consulente (que não podia ser mulher) pagava uma taxa a uma confederação de cidades; as
consultas podiam ser feitas individual ou coletivamente, por exemplo, para uma
cidade. O pagamento de uma sobretaxa ou serviços prestados à cidade de Delfos
permitiam adquirir o direito de "promancia", isto é, o de consultar
antes dos outros, e assim de passar à frente da fila de espera que podia ser
muito longa, visto que além de tudo não se podia consultar a pítia senão um dia
por mês;
· Levava-se
o consulente para o aditon do templo de Apolo;
· Lá ele
encontrava a pítia, que se tinha purificado, havia bebido a
água de uma fonte de Delfos e mastigava folhas de louro; estava instalada sobre
um tripé:
· O consulente oferecia um sacrifício sangrento ao deus, o quel era realizado pelos
dois sacerdotes e seus assistentes; previamente, a vítiam era borrifada com
água fria e, se ela não tremesse, a obtenção do oráculo era anulada (com o
risco, se não o fosse, de matar a Pítia: ela não podia contradizer o sinal do
deus, que dava ou não seu acordo);
· O consulente formulava sua pergunta à Pítia, pergunta que os sacerdotes havia
antes reformulado (para que ela tomasse a forma de uma alternativa);
· A sacerdotisa Pitia, enfim, dava o oráculo do deus, que falava através dela; esta
resposta devia tornar-se clara para os dois sacerdotes de Apolo. Segundo o
testemunho de Plutarco, a Pítia não era visível, apenas se ouvia sua voz.
Como foi visto, a Pítia estava em estado de
"entusiasmo", isto é, de inspiração divina; a lenda conta que dentro
do templo circulavam eflúvios mágicos, que eram responsáveis pelo estado
experimentado pela Pítia. De acordo com historiadores gregos, que apenas
repetem as lendas, estes eflúvios podiam até levar ao suicídio os pastores e os
simples mortais que os respirassem por acaso, antes que se destinasse a este
papel perigoso apenas a Pítia. Era preciso portanto que esta, para receber a
inspiração divina sem sofrer em consequência, fosse pura, virgem, e mantivesse
uma vida sadia. Seu espírito devia estar disponível, calmo e sereno, a fim de
que a possessão pelo deus não fosse rejeitada, sob o risco de levá-la à morte.
Após o fim da Antiguidade, tentou-se muitas hipóteses para explicar os
transes da sacerdotisa, mas as provas concretas ou textuais sempre falharam. A
Pítia, se disse, restringia-se ao adyton do templo. OU, se as
escavações atuais em Delfos não permitem reconstituir com precisão o que seria
esse acyton (ele foi efetivamente arrasado pelos cristãos), as teorias mais
comuns sustentam que se tratava de uma parte em desnível e não de uma sala
secreta situada abaixo do templo, e menos ainda de um poço. Nenhuma fenda é
mais visível.
Como foi dito, os cristãos transformaram em
ridículo esta sacerdotisa e com isto o culto ao descrever a Pítia como uma
louca de babar, embriagada por vapores de enxofre, psiquicamente possuída pelo
Maligno, que se introduzia por sua vagina. Tais intenções se encontra, por exemplo,
em Orígenes, ou João Crisóstomo. Fosse ela o que fosse, esta visão não
coincide em nada com o que os gregos nos relataram sobre sua sacerdotisa. Além
disso, o que contradiz os próprios gregos, não se encontrou em Delfos nenhuma
fenda sob o templo de Apolo, nem qualquer exalação natural. Apesar de
incoerente com os fatos históricos, esta imagem da Pítia foi imposta ao
imaginário coletivo. De fato, não é raro encontrar tal Pítia louca nas obras
mais sérias, ou alguma alusão a emanações gasosas das quais não existe qualquer
prova real.
Além de um papel religioso importante no mundo
antigo - de fato, o oráculo de Apolo não era consultado apenas pelos gregos -
os oráculos da Pítia ocuparam um lugar importante na organização política
grega. Três fatos curiosos denotam a opinião atribuída ao deus sobre o poder
grego. O oráculo, em efeito, nem sempre sustentava as ações de seu povo.
Quando das guerras médicas (que opôs os gregos aos medas), os
cidadãos de Atenas consultaram o oráculo, em 490 a.C., para perguntar se seria bom que Esparta a ajudasse. O oráculo deu uma resposta
negativa, embora tivesse sido justamente a intervenção do espartano Leônidas nas Termópilas, em 480 a.C., que permitiu aos atenienses ganhar tempo
para obter a vitória em Salamina (vitória que se deveu, a propósito, a um
oráculo da Pítia, que aconselhara construir um muro de madeira, o que
simbolicamente representava a frota ateniense reunida no estreito de Salamina).
Acusou-se a Pítia de "maldizer" (λακωνίζειν mêdizdein),
de falar em favor dos Medas.
O segundo oráculo marcante teve lugar durante
as guerras do Peloponeso, que opuseram Atenas a Esparta; este dava
claramente razão aos espartanos. Acusou-se desta vez a Pítia de
"laconizar" (λακωνίζειν lakônizdein), de falar em
favor da Lacedemônia, outro nome de Esparta.
Por fim, durante as conquistas de Felipe, o
oráculo, do lado do "bárbaro", foi acusado de "filipizar"
(φιλιππίζειν philippizdein).
O oráculo se mostra desconfiado com os atenienses.
Na verdade sofria, é óbvio, a influência do povo de Delfos, pró-aristocrata e
bastante conservador. Isso explica sem dúvida porque a Pítia se mostrava com
frequência desfavorável a Atenas: a democracia não tinha odor de santidade nesta região do
mundo grego.
Apesar de muitas vezes desfavorável a Atenas, o
oráculo apoiou sua ação colonizadora. A lenda conta que a colônia de Cirene,
na Líbia, foi
fundada graças a ele: um certo Bathos sofria de gagueira. O oráculo o
aconselhara, para sua cura, a fundar uma cidade em Cirene; ao fazer isto, ele
viu um leão. O medo causado por este encontro fortuito o curou definitivamente
das doenças. Há muitos exemplos deste tipo.
A cidade de Delfos, por outro lado, tinha na
Antiguidade um papel econômico importante: vila muito frequentada, o dinheiro
circulava nela (das taxas de consulta, os numerosos tesouros oferecidos por aqueles que o oráculo havia
"favorecido", as oferendas, as compras de vítimas sacrificiais que só
os mercadores da vila podiam vender, etc,). Surgiram, para gerar este fluxo
monetário criado pelas consultas oraculares, os cambistas e os sacerdotes. Foi,
aliás, em Delfos, no século VI a.C., que surgiram os primeiros bancos.
Apolo não
era o único deus em Delfos: dizia-se que Dionísio passava o inverno lá e o
verão em Atenas, e era também venerado; a coexistência destes cultos levava os
antigos a dizer que a presença do oráculo era uma prova de respeito mútuo.
Por fim, a vila de Delfos respirou um clima de
piedade e de efervescência intelectual. Despojou-se de suas máscaras sociais, à
imagem de Apolo que, ao fundar a cidade, teve que se purificar da morte de
Píton. A filosofia foi praticada e encorajada, e foi um oráculo de Delfos que
estimulou Sócrates a ensinar, depois que um de seus discípulos soube lá que seu
mestre era o mais sábio dos homens. Muitos lemas filosóficos ornavam a vila:
"nada demais" (mêdien ágan), inculcando a medida e rejeitando
o excesso, "conhece-te a ti mesmo"(gno^~thi seautón),
ensinando a importância da autonomia na busca da verdade (fórmula que Sócrates
usará como sua) e a da introspecção, bem como uma muito estranha no frontão do
templo de Apolo, sobre cujo significado os gregos são há muito interrogados, e
que poderia ser uma forma de escrever a palavra ei~, "tu
és", subentendendo-se "tu também és uma parte do divino"? Seja
ele o que for, a presença do oráculo fez de Delfos o lugar ideal para a
descoberta de si.
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