O pulmão
de Lisboa
O Parque Florestal de Monsanto situa-se
na Serra de Monsanto, no concelho de Lisboa. Tem
uma área de 1000 hectares[1] , cerca de 10% do concelho de Lisboa,
integrando o território de seis freguesias:
·
Benfica;
·
Campolide;
·
Belém;
·
Ajuda;
·
Alcântara.
É o principal pulmão da capital portuguesa. O
parque inclui espaços lúdicos que proporcionam aos habitantes e visitantes
várias atividades, tais como desportos radicais, caminhadas, atividades ao ar livre, peças
de teatro, concertos, feiras, exposições, e vistas únicas sobre a cidade de Lisboa e
concelhos limítrofes, o estuário do rio Tejo e o oceano Atlântico.
O Corredor Verde de Monsanto permite um acesso direto ao Parque para
peões e ciclistas provenientes da Baixa de Lisboa e do Parque Eduardo VII.
A obra liga o Parque Eduardo VII ao Parque
Florestal de Monsanto, atravessando a Avenida Gulbenkian através de uma ponte
pedonal, inaugurada em Setembro de 2009 batizada com o nome de Gonçalo Ribeiro Telles, em homenagem ao arquiteto.
Neste projeto foram investidos cerca de cem mil
euros, tendo a maior parte das verbas sido conseguidas através de parcerias com
empresas como a Vodafone – que inaugurou uma ponte pedonal e
ciclável, por cima da Rua Marquês de Fronteira, e criou uma aplicação gratuita
para smartphones e tablets com informação sobre aquela área verde –,
contrapartidas do jogo do Casino de Lisboa e fundos do Quadro de Referência Estratégico
Nacional.
No século XIX, a serra de Monsanto era coberta por
searas e por pastos para gado. A importância da produção cerealífera é atestada
pelos inúmeros vestígios de moinhos de vento. Tinha também várias pedreiras em
atividade, de onde se extraía a matéria-prima para a crescente demanda urbanística
da Lisboa da época.
Em 1868 surge
a ideia de arborizar o que seria o Parque Florestal de Monsanto, para,
a exemplo do Bosque de Bolonha, em Paris, ser
um grande parque de passeio dos Lisboetas. Mas só em 1929 foi
criada a primeira comissão para elaborar plano de arborização da Serra de
Monsanto.
A iniciativa partiu do Ministro da Agricultura, o
tenente-coronel Linhares de Lima, que
planificou a arborização da Serra de Monsanto. O seu objetivo era «(…) melhorar
o clima da cidade, protegendo-a dos ventos e beneficiando-a com um parque
monumental (…)».
O engenheiro da Câmara Municipal, António Abrantes fez
o plano no qual «toda a serra será arborizada respeitando apenas em torno do
posto semafórico, uma zona indispensável à garantia da sua eficiência. Os
moinhos que abundam na serra serão aproveitados para pequenas casas de chá,
independentemente da construção de um ou vários pavilhões (…) e em torno deste
grande parque, de acidentado terreno e belos horizontes, haverá uma avenida de
onze quilómetros de extensão (…) que ligará com o futuro Estádio Nacional e terá comunicação com (…) o largo
da Torre de Belém».
Jardim de Montes Claros, Monsanto, Lisboa (Arq.
Keil do Amaral)
Em 1934 foi promulgado o Decreto-Lei nº 24625, pelo
então Ministro das Obras Públicas Engenheiro Duarte Pacheco, lei que propõe a
criação do Parque Florestal de Monsanto estabelecendo um prazo de seis meses
para a elaboração do projeto. Que impõe à CML a sua divulgação e promoção, ao
Ministério da Agricultura a sua arborização, e definindo um regime de
expropriações inédito em Portugal. Em 1938, embora o prazo estabelecido pela
lei criada por Duarte Pacheco já tenha expirado, é contratado o Arquiteto Francisco Keil do Amaral para o projetar, e o Parque começa a
ser uma realidade.
A árida Serra de Monsanto tornou-se palco de uma
guerra pacífica, na qual a Mocidade Portuguesa tem o papel de criar vida,
plantando milhares de árvores, que
hoje revestem a Serra, com a urgência que envolvia
todo o projeto. As poucas árvores que existiam na Serra eram as da Mata de São
Domingos de Benfica, as da Tapada da Ajuda, e ainda algumas oliveiras que
ladeavam as estradas que dividiam os terrenos.
À Mocidade juntaram-se os trabalhadores desses
terrenos e os prisioneiros do Forte de Monsanto, numa luta contra o tempo,
plantando árvores de crescimento rápido como a Acácia Austrália (Acácia
melanoxylon) e o eucalipto (Eucaliptus globulus lab). Plantaram
também pinheiros mansos (Pinus pinea), pinheiros de alepo (Pinus
halepensis) e Cedros do Bugaço (Cupressus lusitanicus) com um
carácter de recreio, e espécies típicas da floresta portuguesa, como o Carvalho
Cerquinho (Quercus faginea), o Sobreiro (Quercus suber) e a
Azinheira (Quercus rotundifolia), com um intuito didático.
Ao mesmo tempo que prosseguem as plantações, Keil
do Amaral faz uma viagem, de investigação, pela Europa, aos parques urbanos de
Inglaterra, França, Alemanha e Holanda.
Jardim de Montes Claros, Monsanto (Arq. Keil
do Amaral)
Em Monsanto, Keil do Amaral optou pela imagem de
bosque selvagem interrompido apenas por percursos essenciais, aproveitando-se
das vistas e ambientes que a Serra acidentada oferecia. Quanto à metodologia,
foi o Boschplan, em Amsterdam, ainda em execução quando Keil do Amaral o
visitou, que mais atenção lhe captou. Desde os diversos estudos elaborados por
diversas equipas de diferentes especialidades, até à
forma como atraíam o interesse dos cidadãos, era um
projeto muito bem estruturado e programado, que poucos imprevistos teria devido
á exaustiva preparação de todos os aspectos. Em Portugal não era possível tal
detalhe, a intenção de criar um parque público já tinha muitas décadas e a
urgência em melhorar a imagem do acesso a Lisboa acelerou o processo, sendo
Duarte Pacheco o principal responsável pelo avanço de várias obras públicas que
há muito eram desejadas. Obras que modernizaram Lisboa, mantendo o seu carácter
português.
O plano foi executado por secções, os trabalhos de
arborização iam avançando consoante eram realizadas as expropriações, e ao
mesmo tempo era construída a autoestrada e os equipamentos. As intervenções
começaram na 1ª e 2ª zona, que corresponde à faixa poente da Serra, entre o
estádio do Pina Manique e Montes Claros. É nesta fase que se desenvolvem vários
projetos de Miradouros, como o Miradouro e Casa de Chá de Montes Claros, o
Miradouro dos Moinhos do Mocho, o Miradouro Moinho de Alferes, o Miradouro
Pedreira do Penedo e o Miradouro da Luneta dos Quartéis. Este ultimo alberga
agora também um restaurante, mas cujos moinhos se encontram abandonados e
degradados.
Clube de ténis (Arq. Keil do Amaral)
Em 1940 foi projetado o Centro de Desportos do qual
só foi construído o seu miradouro. Localizado perto da atual Alameda Keil do
Amaral que foi em 2003 transformada em zona de desportos radicais e de
manutenção física bastante frequentada. São cerca de 1300 metros de circuito
livre de automóveis com uma área todo-o-terreno para BTT, um ringue com
obstáculos e rampas para skate, BMX e patins, um circuito de manutenção, um
parque de merendas e um anfiteatro com vista para o Rio Tejo e para a margem
sul.
Em 1943, morre o Engenheiro Duarte Pacheco, vítima
de um acidente de viação, não vendo concluída a sua obra.
A ampliação da Casa de Chá dos Montes Claros para
Restaurante aconteceu em 1949, não se alterando o seu miradouro; este é também
o ano da concretização do Clube de ténis. Em 1953 foram projetados os Parques
Infantis do Alvito e o do Alto da Serafina, este último não construído na altura.
Eram equipamentos inovadores na época, sendo a primeira vez em Portugal que se
fazia parques especificamente para crianças.
No panorama habitacional foram construídos, pela
CML, o Bairro da Boavista, projetado por Keil do Amaral em 1943, o do Caramão em
1945, e o Bairro de Caselas, em 1947.
Parque do Alvito
Parque do Alto da Serafina
Após as obras de Keil do Amaral foram feitas muitas
outras levando ao desespero de quem luta por manter os limites definidos pelo
plano Gröer que não chegaram a ser legalmente estabelecidos. Alguns terrenos
privados, como as Quintas de St.º António e S. José, a Fábrica do Rajá e outros
de pequenas dimensões, não chegaram a ser expropriados. Construiu-se o centro
emissor da RTP - Rádio Televisão Portuguesa em 1952, o Quartel da Força Aérea,
em 1955, e o Bairro da GNR em 1958, em 1962, são cedidos terrenos ao Clube
Português de Tiro ao Chumbo, equipamentos não previstos no plano de Keil do
Amaral.
É nos anos 90 que surge Parque Urbano do Alto da
Serafina, constituído pelo Parque Recreativo do Alto da Serafina, que tem
diversas atrações infantis, e o Parque do Calhau, ideal para jogos ao ar livre,
passeios e para contemplar Lisboa. Entre ambos foi criado um caminho que
acompanha o Aqueduto das Águas Livres fazendo a ligação pedonal contínua entre
Campolide e a Buraca. Com a solicitação de várias escolas interessadas em
programar atividades educativas no Parque surgiu, em 1993, o Parque Ecológico
de Monsanto. O Parque Ecológico tem uma zona vedada com três lagos artificiais,
uma ETAR, dois observatórios e o CRESPEM, á qual são feitas visitas guiadas.
Para apoiar o Parque Ecológico foi construído, em 1996, um Centro de
Interpretação, atualmente chamado de Espaço Monsanto. Lá são programadas
diversas atividades, para todas as idades mas em especial para crianças, de
sensibilização ambiental e conhecimento do Parque Florestal de Monsanto. Em
1999 a Mata São Domingos de Benfica é recuperada, tendo um novo campo de jogos
e uma parede de escalada, e o Parque Recreativo dos Moinhos de Santana é aberto
ao público, tendo os seus dois moinhos em funcionamento, com parque infantil,
anfiteatro e restaurante.
Atualmente, o Parque Florestal de Monsanto, tem a
dimensão aproximadamente de 900ha, mas já teve cerca de 1000ha, tendo sido
cedido em 2005 uma extensa faixa para possibilitar a construção da Radial de
Benfica. É da responsabilidade da DMAU, do DAEV e da DESA, entidades que se
preocupam em garantir a segurança e as condições necessárias, para que se possa
usufruir de tudo o que Monsanto tem para oferecer. Assiste-se em Lisboa obras
que põem em prática o Plano do Corredor Verde, pensado pelo Arquiteto
Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles há mais de trinta anos atrás, sendo o
responsável pela decisão de avançar com as obras é o vereador dos Espaços
Verdes da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes.
O Corredor Verde é um plano que tem o objetivo de
ligar entre si todos os espaços verdes desde o Parque Eduardo VII até Monsanto.
Estão previstas, e já em construção, diversas ciclovias, pontes e passagens de
peões, recuperação e melhoramento do parque de estacionamento, e equipamentos
de apoio, como uma recepção em Campolide, cafetarias, aluguer de bicicletas e
carrinhos eléctricos. Espera-se que este plano se concretize e ligue os
lisboetas e Lisboa ao seu afamado, mas pouco usufruído, “pulmão”…
Nenhum comentário:
Postar um comentário