quarta-feira, 26 de agosto de 2015

PARQUE FLORESTAL DE MONSANTO – LISBOA, PORTUGAL






O pulmão de Lisboa

Parque Florestal de Monsanto situa-se na Serra de Monsanto, no concelho de Lisboa. Tem uma área de 1000 hectares[1] , cerca de 10% do concelho de Lisboa, integrando o território de seis freguesias:
·         Benfica;
·         São Domingos de Benfica;
·         Campolide;
·         Belém;
·         Ajuda;
·         Alcântara.



É o principal pulmão da capital portuguesa. O parque inclui espaços lúdicos que proporcionam aos habitantes e visitantes várias atividades, tais como desportos radicais, caminhadas, atividades ao ar livre, peças de teatroconcertosfeirasexposições, e vistas únicas sobre a cidade de Lisboa e concelhos limítrofes, o estuário do rio Tejo e o oceano Atlântico.


Corredor Verde de Monsanto permite um acesso direto ao Parque para peões e ciclistas provenientes da Baixa de Lisboa e do Parque Eduardo VII.


A obra liga o Parque Eduardo VII ao Parque Florestal de Monsanto, atravessando a Avenida Gulbenkian através de uma ponte pedonal, inaugurada em Setembro de 2009 batizada com o nome de Gonçalo Ribeiro Telles, em homenagem ao arquiteto.

Neste projeto foram investidos cerca de cem mil euros, tendo a maior parte das verbas sido conseguidas através de parcerias com empresas como a Vodafone – que inaugurou uma ponte pedonal e ciclável, por cima da Rua Marquês de Fronteira, e criou uma aplicação gratuita para smartphones e tablets com informação sobre aquela área verde –, contrapartidas do jogo do Casino de Lisboa e fundos do Quadro de Referência Estratégico Nacional.


No século XIX, a serra de Monsanto era coberta por searas e por pastos para gado. A importância da produção cerealífera é atestada pelos inúmeros vestígios de moinhos de vento. Tinha também várias pedreiras em atividade, de onde se extraía a matéria-prima para a crescente demanda urbanística da Lisboa da época.

Em 1868 surge a ideia de arborizar o que seria o Parque Florestal de Monsanto, para, a exemplo do Bosque de Bolonha, em Paris, ser um grande parque de passeio dos Lisboetas. Mas só em 1929 foi criada a primeira comissão para elaborar plano de arborização da Serra de Monsanto.


A iniciativa partiu do Ministro da Agricultura, o tenente-coronel Linhares de Lima, que planificou a arborização da Serra de Monsanto. O seu objetivo era «(…) melhorar o clima da cidade, protegendo-a dos ventos e beneficiando-a com um parque monumental (…)».

O engenheiro da Câmara MunicipalAntónio Abrantes fez o plano no qual «toda a serra será arborizada respeitando apenas em torno do posto semafórico, uma zona indispensável à garantia da sua eficiência. Os moinhos que abundam na serra serão aproveitados para pequenas casas de chá, independentemente da construção de um ou vários pavilhões (…) e em torno deste grande parque, de acidentado terreno e belos horizontes, haverá uma avenida de onze quilómetros de extensão (…) que ligará com o futuro Estádio Nacional e terá comunicação com (…) o largo da Torre de Belém».


Jardim de Montes Claros, Monsanto, Lisboa (Arq. Keil do Amaral)

Em 1934 foi promulgado o Decreto-Lei nº 24625, pelo então Ministro das Obras Públicas Engenheiro Duarte Pacheco, lei que propõe a criação do Parque Florestal de Monsanto estabelecendo um prazo de seis meses para a elaboração do projeto. Que impõe à CML a sua divulgação e promoção, ao Ministério da Agricultura a sua arborização, e definindo um regime de expropriações inédito em Portugal. Em 1938, embora o prazo estabelecido pela lei criada por Duarte Pacheco já tenha expirado, é contratado o Arquiteto Francisco Keil do Amaral para o projetar, e o Parque começa a ser uma realidade.

A árida Serra de Monsanto tornou-se palco de uma guerra pacífica, na qual a Mocidade Portuguesa tem o papel de criar vida, plantando milhares de árvores, que


hoje revestem a Serra, com a urgência que envolvia todo o projeto. As poucas árvores que existiam na Serra eram as da Mata de São Domingos de Benfica, as da Tapada da Ajuda, e ainda algumas oliveiras que ladeavam as estradas que dividiam os terrenos.

À Mocidade juntaram-se os trabalhadores desses terrenos e os prisioneiros do Forte de Monsanto, numa luta contra o tempo, plantando árvores de crescimento rápido como a Acácia Austrália (Acácia melanoxylon) e o eucalipto (Eucaliptus globulus lab). Plantaram também pinheiros mansos (Pinus pinea), pinheiros de alepo (Pinus halepensis) e Cedros do Bugaço (Cupressus lusitanicus) com um carácter de recreio, e espécies típicas da floresta portuguesa, como o Carvalho Cerquinho (Quercus faginea), o Sobreiro (Quercus suber) e a Azinheira (Quercus rotundifolia), com um intuito didático.

Ao mesmo tempo que prosseguem as plantações, Keil do Amaral faz uma viagem, de investigação, pela Europa, aos parques urbanos de Inglaterra, França, Alemanha e Holanda.


Jardim de Montes Claros, Monsanto (Arq. Keil do Amaral)

Em Monsanto, Keil do Amaral optou pela imagem de bosque selvagem interrompido apenas por percursos essenciais, aproveitando-se das vistas e ambientes que a Serra acidentada oferecia. Quanto à metodologia, foi o Boschplan, em Amsterdam, ainda em execução quando Keil do Amaral o visitou, que mais atenção lhe captou. Desde os diversos estudos elaborados por diversas equipas de diferentes especialidades, até à


forma como atraíam o interesse dos cidadãos, era um projeto muito bem estruturado e programado, que poucos imprevistos teria devido á exaustiva preparação de todos os aspectos. Em Portugal não era possível tal detalhe, a intenção de criar um parque público já tinha muitas décadas e a urgência em melhorar a imagem do acesso a Lisboa acelerou o processo, sendo Duarte Pacheco o principal responsável pelo avanço de várias obras públicas que há muito eram desejadas. Obras que modernizaram Lisboa, mantendo o seu carácter português.

O plano foi executado por secções, os trabalhos de arborização iam avançando consoante eram realizadas as expropriações, e ao mesmo tempo era construída a autoestrada e os equipamentos. As intervenções começaram na 1ª e 2ª zona, que corresponde à faixa poente da Serra, entre o estádio do Pina Manique e Montes Claros. É nesta fase que se desenvolvem vários projetos de Miradouros, como o Miradouro e Casa de Chá de Montes Claros, o Miradouro dos Moinhos do Mocho, o Miradouro Moinho de Alferes, o Miradouro Pedreira do Penedo e o Miradouro da Luneta dos Quartéis. Este ultimo alberga agora também um restaurante, mas cujos moinhos se encontram abandonados e degradados.


Clube de ténis (Arq. Keil do Amaral)

Em 1940 foi projetado o Centro de Desportos do qual só foi construído o seu miradouro. Localizado perto da atual Alameda Keil do Amaral que foi em 2003 transformada em zona de desportos radicais e de manutenção física bastante frequentada. São cerca de 1300 metros de circuito livre de automóveis com uma área todo-o-terreno para BTT, um ringue com obstáculos e rampas para skate, BMX e patins, um circuito de manutenção, um parque de merendas e um anfiteatro com vista para o Rio Tejo e para a margem sul.


Em 1943, morre o Engenheiro Duarte Pacheco, vítima de um acidente de viação, não vendo concluída a sua obra.

A ampliação da Casa de Chá dos Montes Claros para Restaurante aconteceu em 1949, não se alterando o seu miradouro; este é também o ano da concretização do Clube de ténis. Em 1953 foram projetados os Parques Infantis do Alvito e o do Alto da Serafina, este último não construído na altura. Eram equipamentos inovadores na época, sendo a primeira vez em Portugal que se fazia parques especificamente para crianças.


No panorama habitacional foram construídos, pela CML, o Bairro da Boavista, projetado por Keil do Amaral em 1943, o do Caramão em 1945, e o Bairro de Caselas, em 1947.


Parque do Alvito


Parque do Alto da Serafina

Após as obras de Keil do Amaral foram feitas muitas outras levando ao desespero de quem luta por manter os limites definidos pelo plano Gröer que não chegaram a ser legalmente estabelecidos. Alguns terrenos privados, como as Quintas de St.º António e S. José, a Fábrica do Rajá e outros de pequenas dimensões, não chegaram a ser expropriados. Construiu-se o centro emissor da RTP - Rádio Televisão Portuguesa em 1952, o Quartel da Força Aérea, em 1955, e o Bairro da GNR em 1958, em 1962, são cedidos terrenos ao Clube Português de Tiro ao Chumbo, equipamentos não previstos no plano de Keil do Amaral.


É nos anos 90 que surge Parque Urbano do Alto da Serafina, constituído pelo Parque Recreativo do Alto da Serafina, que tem diversas atrações infantis, e o Parque do Calhau, ideal para jogos ao ar livre, passeios e para contemplar Lisboa. Entre ambos foi criado um caminho que acompanha o Aqueduto das Águas Livres fazendo a ligação pedonal contínua entre Campolide e a Buraca. Com a solicitação de várias escolas interessadas em programar atividades educativas no Parque surgiu, em 1993, o Parque Ecológico de Monsanto. O Parque Ecológico tem uma zona vedada com três lagos artificiais, uma ETAR, dois observatórios e o CRESPEM, á qual são feitas visitas guiadas. Para apoiar o Parque Ecológico foi construído, em 1996, um Centro de Interpretação, atualmente chamado de Espaço Monsanto. Lá são programadas diversas atividades, para todas as idades mas em especial para crianças, de sensibilização ambiental e conhecimento do Parque Florestal de Monsanto. Em 1999 a Mata São Domingos de Benfica é recuperada, tendo um novo campo de jogos e uma parede de escalada, e o Parque Recreativo dos Moinhos de Santana é aberto ao público, tendo os seus dois moinhos em funcionamento, com parque infantil, anfiteatro e restaurante.

Atualmente, o Parque Florestal de Monsanto, tem a dimensão aproximadamente de 900ha, mas já teve cerca de 1000ha, tendo sido cedido em 2005 uma extensa faixa para possibilitar a construção da Radial de Benfica. É da responsabilidade da DMAU, do DAEV e da DESA, entidades que se preocupam em garantir a segurança e as condições necessárias, para que se possa usufruir de tudo o que Monsanto tem para oferecer. Assiste-se em Lisboa obras que põem em prática o Plano do Corredor Verde, pensado pelo Arquiteto Paisagista Gonçalo Ribeiro Telles há mais de trinta anos atrás, sendo o responsável pela decisão de avançar com as obras é o vereador dos Espaços Verdes da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes.


O Corredor Verde é um plano que tem o objetivo de ligar entre si todos os espaços verdes desde o Parque Eduardo VII até Monsanto. Estão previstas, e já em construção, diversas ciclovias, pontes e passagens de peões, recuperação e melhoramento do parque de estacionamento, e equipamentos de apoio, como uma recepção em Campolide, cafetarias, aluguer de bicicletas e carrinhos eléctricos. Espera-se que este plano se concretize e ligue os lisboetas e Lisboa ao seu afamado, mas pouco usufruído, “pulmão”…


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