Curiosidade
Jaime
GonzálezDa BBC Mundo em Los Angeles
Para aqueles que acreditam que
extraterrestres nos visitam, poucos lugares no mundo são tão atraentes como o
remoto deserto de Nevada, nos Estados Unidos.
Para
muitos, as supostas naves espaciais são apenas aviões que decolam e aterrissam
em uma enorme base militar localizada no deserto. Mas essa explicação não
convence a todos.
Com
o objetivo de atrair mais visitantes ao local, as autoridades decidiram, em
1996, batizar a rodovia estadual 375 – que percorre de norte a sul o condado de
Lincoln – de "estrada dos extraterrestres".
Segundo
os responsáveis pelo turismo no Estado de Nevada, em nenhum outro lugar do país
há mais relatos de avistamento de naves extraterrestres do que nesta estrada de
cerca de 160 quilômetros, situada nos arredores da misteriosa base militar Área
51 – duas horas e meia ao norte de Las Vegas.
Paisagem marciana
A
rodovia é acessível pela rota 93, que atravessa uma paisagem de aspecto
marciano. Trata-se de um trajeto em que só se cruza com outros carros e é
preciso ter certeza de que o tanque está cheio, já que já pouquíssimos postos
de gasolina e os celulares ficam sem sinal rapidamente.
Ao
chegar a Crystal Springs o traçado se bifurca e, à esquerda, uma placa verde
com desenhos de discos voadores indica o início da "estrada dos
extraterrestres".
A
partir deste ponto, vê-se em frente uma via de duas pistas que parece levar ao
infinito, salpicada de placas que alertam para a presença de gado e de
"aeronaves que voam em baixa altitude", um lembrete de que nos
encontramos perto da base Nellis da Força Aérea americana.
O
objetivo da maioria dos viajantes que chegam à estrada é visitar a cidadezinha
de Rachel – que, apesar de ter menos de 50 habitantes, é considerada por muitos
como a "capital mundial dos óvnis".
Além das histórias sobre discos voadores nas
redondezas, o título também se deve ao famoso bar, restaurante e motel Little
A'Le'Inn (pronunciado em inglês como alien, ou
alienígena), que recebe turistas de todas as partes há décadas.
Junto
a um pequeno prato voador metálico pendurado em uma grua, um letreiro com um
alienígena de olhos enormes dá as boas-vindas "aos terráqueos".
É
uma das muitas referências aos extraterrestres que podem ser vistas dentro e
fora do local, que também tem uma loja de suvenires.
Um pequeno monumento situado no
exterior do restaurante lembra que este foi o lugar eleito pelo estúdio 20th
Century Fox para promover, em 1996, a estreia do filme Independence Day, no qual uma civilização vinda do
espaço tentava conquistar a Terra.
Na
parte traseira do local, uma série de trailers serve para receber os viajantes
que decidem passar a noite em Rachel, que começou a ganhar fama em 1989, depois
que um morador de Las Vegas chamado Bob Lazar afirmou em uma entrevista de TV
ter trabalhado com naves espaciais alienígenas na base militar de Nellis.
Ao
lado do letreiro de boas-vindas do restaurante, há uma estação de medição de
radiação, uma lembrança de que estamos também há poucos quilômetros do lugar no
qual, a partir dos anos 1950, o governo dos EUA realizou cerca de mil testes nucleares.
Isso
não parece preocupar as dezenas de turistas dentro do local. Um deles é Amanda,
uma jovem do Estado de Virgínia que passou a noite no Little A'Le'Inn junto aos
amigos, antes de dirigir-se a Las Vegas.
"Um
dos meus amigos me falou sobre Rachel e eu também havia visto o lugar em um
documentário na televisão. Por isso, tinha muita curiosidade para
visitá-lo."
"Adoro
o deserto e as estrelas, o fato de que não se vê uma alma. E se contam
histórias de extraterrestres, fica ainda mais interessante", diz a jovem,
que afirma crer em vida fora da Terra, mesmo nunca tendo tido "um encontro
com eles".
Harriette
Simon, por sua vez, percorreu junto com as amigas os mais de três mil
quilômetros de estrada entre Rachel e Mobile, no Alabama, onde vive.
"Sempre
ouvimos falar deste lugar e queríamos conhecê-lo. É divertido fazer coisas como
esta. Só se vive uma vez", diz.
Sua
amiga Gina explica que seu pai "era membro da Força Aérea dos Estados
Unidos no Novo México, onde muitos óvnis foram vistos."
"Cresci
escutando histórias sobre extraterrestres. Eu queria vir homenagear meu pai.
Ele adoraria saber que estou aqui."
'Uma experiência muito intensa'
A
estrela indiscutível do Little A'Le'Inn é Priscilla Travis, que há cerca de
três décadas comprou, junto com seu falecido marido, um pequeno bar.
"Não
esperávamos que ele se tornasse um lugar mundialmente famoso", diz Travis,
que recebe os clientes usando um avental com a imagem de um alienígena verde.
"Tudo
o que faz referência aos extraterrestres foi ideia nossa. Esse lugar foi um
presente para nós e cuidamos de tudo o que pudemos", afirma.
Perguntada
sobre a presença de extraterrestres, ela diz que "nesta região houve
encontros que não têm explicação, alguns dos quais ocorreram antes que nos
mudássemos para cá".
Ela
conta que, há alguns anos, estava à noite no restaurante com seu marido e, pela
porta traseira, "entrou um raio de luz que iluminou todo o local".
"Não
acho que era um avião. Foi uma experiência muito intensa. Até hoje me dá
arrepios quando conto essa história", diz, mostrando o braço.
Alguns
dos objetos que Travis vende em seu restaurante fazem referência à área 51, um
complexo militar situado a poucos quilômetros de Rachel, que durante décadas
esteve rodeado de segredo, sem que o governo de Washington confirmasse nem
desmentisse sua existência.
A misteriosa área 51
Somente
em 2013, depois que documentos secretos foram tornados públicos, o governo
confirmou que se tratava de um campo de provas e de treinamento da Força Aérea,
no qual, a partir dos anos 1950, foram desenvolvidos projetos como os do famoso
avião espião U-2.
A
presença das aeronaves na base militar parecem ser a explicação mais plausível
para os numerosos relatos sobre encontros com óvnis em Rachel e na
"estrada dos extraterrestres".
Apesar
disso, alguns seguem acreditando que, na realidade, trata-se de um centro de
pesquisa sobre alienígenas, para onde teriam sido levados os restos de uma nave
espacial que teria sido encontrada em 1947 próximo à cidade de Roswell, no Novo
México.
Priscilla
Travis, por sua vez, afirma que os funcionários da área 51 "são vizinhos
excelentes", que sempre ajudam quando eles precisam de algo.
No
entanto, ela diz que não é uma boa ideia tentar ultrapassar o perímetro de
segurança da base, já que "podem te multar, te prender ou te dar um
tiro".
Cerca
de 20 quilômetros à oeste de Rachel está uma das portas de entrada da base, da
qual muitos turistas se aproximam para tirar fotos.
O
aviso "Advertência: instalação militar. Proibida a entrada de pessoal não
autorizado. Pena de até um ano de prisão e multa de US$ 5 mil" pode ser
lido em um dos letreiros na entrada da instalação, oculta pelas montanhas e
situada junto ao leito do antigo lago Groom.
"Tirar
fotos desta área está proibido", diz outro cartaz junto a uma cerca e
diversos postes com câmeras de segurança, sem que se perceba a presença de
nenhum militar.
Uma
equipe da BBC que entrou por apenas alguns metros da base em 2012 conhece bem o
perigo de não respeitar estas advertências. Os jornalistas acabaram deitados no
chão, com diversos soldados apontando armas para eles.
'Coisas estranhas'
Na
"estrada dos extraterrestres", cerca de 20 quilômetros ao sul de
Rachel, estão os restos do que um dia foi uma caixa de correio pintada de
preto, que durante anos serviu de ponto de encontro para os fãs de óvnis que
acreditavam que a caixa pertencia à área 51.
Seus
verdadeiros proprietários, fazendeiros da região, acabaram retirando o objeto
do local, depois que ele foi vandalizado diversas vezes.
Outra
das paradas obrigatórias dos visitantes é o chamado Centro de Pesquisa de
Alienígenas, no extremo sul da estrada 375. Apesar do nome enigmático, o centro
é apenas uma loja de suvenires situada em um hangar metálico, diante do qual há
uma estátua gigante de um extraterrestre.
Ginny
Harris é a encarregada deste negócio, que seu pai fundou há mais de uma década
e que, segundo explica, recebe a visita de turistas de todo o mundo.
"Já
recebemos verdadeiros fanáticos por extraterrestres, gente que está convencida
de que eles existem. Alguns inclusive vieram com a cabeça envolta em papel
alumínio para evitar que controlem sua mente", disse à BBC Mundo.
Harris
diz que os vizinhos na região "viram coisas estranhas", que não
teriam nada a ver com aviões militares que cruzam os céus do deserto de Nevada
e volta e meia permitem ouvir explosões sônicas.
"Muitos
desses encontros não têm explicação. Ninguém demonstrou que não se trata de
extraterrestres", diz, convencida.
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