Turismo: curiosidade
John
LeeDa BBC Travel
Guarda da Torre existe desde 1485, mas
hoje funções são administrativas
São 11h dentro dos
muros fortificados de uma das atrações mais visitadas de toda a Grã-Bretanha, e
estou em um lugar que pouca gente sabe que existe: um pub cujo acesso é vetado
ao público.
Desde o início de sua construção, em 1078, a Torre
de Londres já serviu como palácio de reis e rainhas, fortaleza, prisão e local
de execuções. Mas também é um ótimo lugar para tomar uma cerveja. Isso se você
for um Yeoman Warder, como são chamados os guardas do castelo.
Também conhecidos em inglês como “Beefeaters”, os
Yeomen foram introduzidos em 1485 pelo rei Henrique 7º para ajudar a fazer a
segurança da Torre – na época um complexo onde viviam centenas de pessoas, além
de prisioneiros e nobres.
Os guardas se tornaram um dos mais famosos e
fotografados ícones deste monumento que, só em 2014, atraiu mais de 3 milhões
de visitantes.
Os 37 homens que atualmente trabalham no local
estão sempre ocupados fazendo visitas guiadas ou posando para selfies com
turistas, além de participar de cerimônias que pouco mudaram em todos esses
séculos.
Dos
dois lados do balcão
“Havia dezenas de
bares e estalagens na Torre durante os séculos 18 e 19, mas este pub é o último
a permanecer funcionando”, explica Alan Kingshott, chefe da guarda.
O local se chama
Yeoman Warders Club e serve bebidas como o Beefeater Gin e a Beefeater Bitter,
feitas especialmente para os Yeomen pela cervejaria britânica Marston.
O pub é fechado ao
público, mas aberto a convidados, como eu. Os Yeomen se revezam no balcão. E tudo
o que for consumido precisa ser pago do próprio bolso – não há subsídios.
Com poltronas
vermelhas e mesas de madeira escura, o bar chama a atenção pela decoração e
pelas fotos de celebridades que já o visitaram.
Mas o mais
intrigante é a sua conexão direta com os Yeomen: dezenas de placas nas paredes
representam os regimentos de onde cada um deles vem. Antes de serem
considerados, novos postulantes precisam ter servido as Forças Armadas com
honrarias por pelo menos 22 anos.
Em outro canto, uma
fileira de canecas de cerveja prateadas nos lembra de uma cerimônia típica dos
Beefeaters que poucas pessoas conhecem. “Cada um tem a sua caneca, e fazemos os
novos guardas prestarem juramento em torno de uma grande vasilha de vinho do
Porto”, conta Kingshott.
Morar
e trabalhar na Torre
Antigamente, os
guardas recebiam refeições e moradia como parte do emprego (o fato de, no
início, serem parcialmente pagos com carne deu origem ao apelido Beefeaters).
Hoje, eles mantêm
aposentos dentro das velhas muralhas da Torre, mas têm que pagar aluguel.
Segundo Kingshott, cujo apartamento fica no alto de uma escada em espiral com
48 degraus, a maioria dos Beefeaters também tem uma casa “normal” lá fora.
O papel desses
guardas também mudou ao longo dos séculos: em vez de fazerem a segurança da
prisão e das Joias da Coroa, como seus antepassados, eles agora têm a função de
receber e orientar os visitantes.
Muitos gostam de
interagir com os turistas, mas para outros, trata-se de uma função cujo
aprendizado pode demorar. “Ter que posar para fotos no instante em que deixo
meu apartamento é algo difícil de me acostumar”, conta o mais novo sentinela da
Torre, Spike Abbott, apontado em abril passado.
Tradições
seculares
Apesar das mudanças,
algumas tradições permanecem. A mais famosa é um ritual de mais de 700 anos: a
Cerimônia das Chaves, que ocorre toda noite, depois que a Torre é fechada ao
público.
Outros ilustres
residentes do endereço são os corvos – tão icônicos quanto os próprios
Beefeaters. E é um dos guardas quem exerce a importante função de Ravenmaster
(“mestre dos corvos”).
“Ninguém sabe como
os corvos vieram se instalar aqui, mas diz a lenda que, se eles forem embora, a
Torre e o reino vão cair”, explica Chris Skaife, o atual Ravenmaster. “Por
isso, o rei Carlos 2º decretou que é preciso sempre haver pelo menos seis
corvos dentro do castelo.”
O trabalho de Skaife
envolve limpar as gaiolas dos sete corvos que atualmente moram no local e
garantir que eles estejam sendo bem alimentados.
“Compro carne crua
no mercado de Smithfield (famoso entreposto de açougueiros no centro de
Londres), e ofereço aos pássaros todos os dias”, conta. “Uma vez por semana,
eles comem um ovo – e, de vez em quando, um coelho inteiro.”
Outro Yeoman
essencial nos bastidores é o escriturário Philip Wilson, que, com 18 anos no
emprego, é o Beefeater que serviu mais tempo à Torre de Londres.
Além de ser o
responsável pela Cerimônia das Chaves, ele também cuida para que os uniformes
dos guardas estejam sempre impecáveis.
Todo novo Yeoman
recebe roupas feitas sob medida. “O uniforme vermelho e dourado que usamos em
cerimônias oficiais ou quando a rainha visita a Torre mudou muito pouco desde
1549. Mas o uniforme que usamos diariamente, vermelho e azul, só foi
introduzido em 1858”, conta Wilson.
Manter um equilíbrio
entre o trabalho e o lazer é um desafio para a maioria dos Beefeaters, pois
estão constantemente de plantão e por passarem a maior parte do tempo de folga
no local.
Mas para Kingshott,
de 63 anos, ter um emprego tão peculiar compensa. “Não tem nenhum outro
trabalho como este, e para mim tem sido um privilégio poder fazer isso”, conta.
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