terça-feira, 17 de novembro de 2015

UM BOM LIVRO

Literatura





Publicado por Sílvia Marques
é paulistana, escritora, idealista, bacharel em Cinema, cinéfila, professora universitária com alma de aluna, doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata na vida, filósofa de botequim, amante das artes , da boa mesa, dos vinhos, de papos loucos e ideias inusitadas


Encontrar um bom livro é como fazer um amigo ou apaixonar-se. Uma paixão correspondida, pois o livro não escapa de nossas mãos ávidas por virar a próxima página e degustar a emoção seguinte. Bons livros fazem a cama ficar mais macia, o tempo mais fluido, a vida com mais sentido.


Prazer fino encontra aqueles que mergulham num bom livro. Ter um bom livro na bolsa, na mochila ou simplesmente debaixo do braço pode ser a companhia perfeita para horas no aeroporto, para um voo doméstico, para uma tarde ociosa e para todos os tipos de espera que enfrentamos em nosso dia a dia.

Não quero dizer que livros são estepes para dias vazios. Quero dizer que um livro pode ser tão estimulante e enriquecedor e aconchegante quanto uma conversa inteligente e calorosa, uma boa sessão de cinema ou um dia com os amigos em qualquer lugar animado.
Bons livros fazem os ponteiros do relógio dispararem e transformam uma monótona hora de espera num aeroporto em 15 minutos no máximo. Fazem um dia comum se encher de sabores, odores e cores. Quando deixamos a imaginação fluir livre, leve e solta, nossa mente se expande e nossos neurônios se assemelham a polvos que agarram com seus tentáculos novos saberes, novas informações, novos olhares que rearranjam aquilo que já conhecíamos ou imaginávamos conhecer.
Diante de um conhecimento novo, de um parágrafo desconcertante, de uma cena impactante, ficamos com os olhos meio estatelados e os lábios entreabertos, como os de alguém que quer engolir a novidade e torná-la parte do próprio ser como uma boa mordida num sanduíche delicioso, que mastigamos meio ansiosamente, com um prazer buliçoso.
Uma vida sem aprendizado, sem estudo, sem leitura, sem filmes de arte, sem conversas densas com pessoas peculiares, sem monólogos internos, sem livros instigantes durante voos domésticos, sem livros avassaladores numa tarde cinzenta de domingo, em que do mundo real só existe o cheiro de café fresco e fumegante, me parece uma vida vazia em que as pessoas apenas seguem roboticamente gestos e regras que alguém à frente faz para elas.
Encontrar um bom livro é como fazer um amigo ou apaixonar-se. Uma paixão correspondida, pois o livro não escapa de nossas mãos ávidas por virar a próxima página e degustar a emoção seguinte. Bons livros fazem a cama ficar mais macia, o tempo mais fluido, a vida com mais sentido.
Se por um lado, bons livros nos entristecem pois desnudam todo o nosso potencial para a tragédia, eles nos salvam mesmo que temporariamente da mediocridade da vida.



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