Literatura
Publicado por Sílvia Marques
é
paulistana, escritora, idealista, bacharel em Cinema, cinéfila, professora
universitária com alma de aluna, doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata
na vida, filósofa de botequim, amante das artes , da boa mesa, dos vinhos, de
papos loucos e ideias inusitadas
Encontrar um bom livro é
como fazer um amigo ou apaixonar-se. Uma paixão correspondida, pois o livro não
escapa de nossas mãos ávidas por virar a próxima página e degustar a emoção
seguinte. Bons livros fazem a cama ficar mais macia, o tempo mais fluido, a
vida com mais sentido.
Prazer fino encontra aqueles que mergulham
num bom livro. Ter um bom livro na bolsa, na mochila ou simplesmente debaixo do
braço pode ser a companhia perfeita para horas no aeroporto, para um voo
doméstico, para uma tarde ociosa e para todos os tipos de espera que
enfrentamos em nosso dia a dia.
Não quero dizer que livros são estepes para
dias vazios. Quero dizer que um livro pode ser tão estimulante e enriquecedor e
aconchegante quanto uma conversa inteligente e calorosa, uma boa sessão de
cinema ou um dia com os amigos em qualquer lugar animado.
Bons livros fazem os ponteiros do relógio
dispararem e transformam uma monótona hora de espera num aeroporto em 15
minutos no máximo. Fazem um dia comum se encher de sabores, odores e cores.
Quando deixamos a imaginação fluir livre, leve e solta, nossa mente se expande
e nossos neurônios se assemelham a polvos que agarram com seus tentáculos novos
saberes, novas informações, novos olhares que rearranjam aquilo que já
conhecíamos ou imaginávamos conhecer.
Diante de um conhecimento novo, de um
parágrafo desconcertante, de uma cena impactante, ficamos com os olhos meio
estatelados e os lábios entreabertos, como os de alguém que quer engolir a
novidade e torná-la parte do próprio ser como uma boa mordida num sanduíche
delicioso, que mastigamos meio ansiosamente, com um prazer buliçoso.
Uma vida sem aprendizado, sem estudo, sem
leitura, sem filmes de arte, sem conversas densas com pessoas peculiares, sem
monólogos internos, sem livros instigantes durante voos domésticos, sem livros
avassaladores numa tarde cinzenta de domingo, em que do mundo real só existe o
cheiro de café fresco e fumegante, me parece uma vida vazia em que as pessoas
apenas seguem roboticamente gestos e regras que alguém à frente faz para elas.
Encontrar um bom livro é como fazer um amigo
ou apaixonar-se. Uma paixão correspondida, pois o livro não escapa de nossas
mãos ávidas por virar a próxima página e degustar a emoção seguinte. Bons
livros fazem a cama ficar mais macia, o tempo mais fluido, a vida com mais
sentido.
Se por um lado, bons livros nos entristecem
pois desnudam todo o nosso potencial para a tragédia, eles nos salvam mesmo que
temporariamente da mediocridade da vida.
© obvious: http://obviousmag.org/cinema_pensante/2015/11/um-bom-livro.html#ixzz3reihQIxJ
Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário