Celebração
Publicado por Fernanda Villas Boas
Natal é a festa do consumo, da comilança
familiar. E entre tantas e diferentes famílias, a alegria é instantânea e, nem
sempre, verdadeira. É preciso refletir sobre as almas solitárias e excluídas
nesta festa de Papai Noel e árvores ilusórias, de pessoas sem noção gastando
tudo o que têm numa certa demonstração de insanidade.
O fim de ano vai chegando
avassalador com seus recortes. Por um lado, tem-se a praça da alegria falsa.
Compras por todo o lado em todas as classes sociais, ninguém deixa de tirar um
pedaço do seu tempo e do seu dinheiro tayloristas para ir gastando até o último
dia do ano.
Desde que o consumo aumentou sua
autoridade sobre os consumidores, estes não param de andar pra lá e pra cá em
busca de uma lembrança, seja para o chefe, marido, filhos, cunhadas, primos,
ex-cunhados, porteiro, garçom, colegas ocultos que trabalharam com você o ano
todo. É um excesso perigoso. Pela armadilha que nos traz de presente colada ao
símbolo de Papai Noel. Gordo, velho e sorridente.
As crianças querem pedidos, os
velhos querem carinho, os de meia idade querem beber também. Aí, a festa
aumenta e se prolonga nos bares de todas as cidades do mundo. É uma festa
instituída pelo capitalismo. Antes, a história pendia mais para a festa
católica celebrando o nascimento de Jesus Cristo. Mas, há cerca de quarenta
anos desde o último século, a coisificação dos objetos de desejo fizeram do
Natal a grande hit parade. "Seja rico, seja pobre, o velhinho sempre
vem". O rei chegou e mandou todos comprarem para uma total satisfação
imediatista e fugaz de prazeres, sem tempo de se abraçar com vontade, com a mão
no copo e outra no verão.
E aqueles que não curtem a festa?
E todos os excluídos dessa louvação epicurista ao sabor e à sagrada família?
Sem que o leitor saiba, a grande parcela da sociedade tem seus membros
excluídos. O tio sem filhos, a moça solteira, o pai viúvo, a mulher velha e sem
filhos, os eus que se somados entram em depressão e choram escondidos e calados
para não atrapalhar a festança.
É preciso estar atento a estes
que não falam de Natal nem participam da euforia insana de shopping centers,
compras embaladas com sucesso extraordinário. Bem, seria preciso escutar estas
almas mais sensíveis e coerentes ao seu viver. Natal se tornou sinônimo de
comilança e brigas familiares. Há de se preservar algo dentro de si. A alma. O
destino da humanidade tecido no dia a dia de 365 dias. A ausência, a solidão, o
inverso desta festa pagã. É preciso tomar cuidado das almas caladas, do coração
carente e descuidado de tantos que desconhecemos na multidão. Não, o Natal
definitivamente não é uma data alegre. É uma farsa, uma armadilha que se repete
aos nossos olhos com aquelas estrelinhas e pisca-pisca de tantas árvores
coloridas em lares preto e branco.
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