Internacional – Política
Em nota, diplomacia brasileira faz advertência a Maduro
sobre manobras na Assembleia.
Flávia Marreiro
Para o El País – O Jornal Global
Maduro e Dilma em 2015. Ebc
O processo eleitoral na Venezuela, e seus desdobramentos, já
vinham se desenhando como uma encruzilhada para a diplomacia brasileira:
dependendo do comportamento do Governo de Nicolas Maduro frente a uma derrota,
ficaria insustentável para o Ministério das Relações Exteriores e o Governo
Dilma Rousseff manter a política de advertências mais privadas do que públicas
a eventuais desvios do venezuelano às normas democrática e do Mercosul. Nesta
terça, veio a mudança mais significativa. Horas antes da esperada e tensa
instalação da nova Assembleia da Venezuela, com maioria qualificada da oposição
pela primeira vez em 16 anos, o Itamaraty lançou uma dura nota sobre a
situação. Ante os movimentos do chavismo de usar seus tentáculos na Justiça
para arrebatar a vantagem opositora, a diplomacia brasileira afirmou: "Não
há lugar, na América do Sul do século XXI, para soluções políticas fora da
institucionalidade e do mais absoluto respeito à democracia e ao Estado de
Direito".
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O texto é uma crítica inequívoca à tentativa do chavismo de
impugnar, via Justiça, a posse de deputados da oposição. Sem eles, os
antichavistas perdem a maioria capaz de propor mudanças constitucionais e
indicar postos-chaves na Administração públicas, entre outras prerrogativas.
Por outro lado, preocupa também o Brasil a ascensão de um discurso radicalizado
na oposição, com a escolha do dinossauro Henry Ramos Allup, do tradicional
partido Ação Democrática, como presidente da Casa. Na queda de braço, ganham os
radicais de ambos os lados, e não interlocutores de Brasília, como o governador
de Miranda, o opositor Henrique Capriles.
Não é a primeira vez que o chavismo lança mão de
"soluções políticas fora da institucionalidade" ante uma derrota.
Depois de reveses importantes, como nas eleições municipais na década passada,
o então presidente Hugo Chávez praticamente esvaziou a prefeitura metropolitana
de Caracas, cuja eleição fora vencida por um opositor, para nomear uma espécie
de interventor chavista. Lá, como agora, choveram críticas à vista grossa
brasileira à manobra - a diplomacia brasileira sempre repetiu que fazia chegar
a Caracas suas ponderações. Ocorre que, agora, a conjuntura internacional
também mudou. Trata-se do Poder Legislativo, central para o já precário
equilíbrio democrático da Venezuela. Sem falar no fator Mauricio Macri. O novo
presidente argentino traz para mesa do MERCOSUL o desconforto com Maduro e
pressiona Brasília. Tanto na Argentina como no Brasil, a Venezuela é um assunto
de alta voltagem na política interna, mas Macri, à diferença de Dilma Rousseff,
ganha pontos com sua base cada vez que fustiga publicamente Caracas.
Sinais prévios e militares
A nota soma às advertências prévias da gestão Dilma Rousseff
a Maduro a respeito do processo. Antes das eleições, a presidenta enviou uma
carta privada a Maduro com observações sobre o pleito. Ainda no começo do ano,
o Itamaraty também lançou nota criticando a prisão do prefeito opositor Antonio
Ledezma.
Entre diplomatas latino-americanos com longa experiência na
região, inclusive entre simpatizantes do chavismo, o momento é de preocupação.
O aprofundamento da crise econômica na Venezuela e a ofensiva de sobrevivência
de um dividido chavismo povoado de militares em posições-chave, inclusive
econômicas, traz dúvidas a respeito da efetividade de advertências
diplomáticas.
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