Publicado por Regina Soulza.
“É graduada em Letras pela UFPR, editora de livros didáticos, guitarrista e o que mais o futuro reservar. Foco principal: a pura expressão da Arte...”
David Bowie é um e muitos outros. Colocando em prática o que já foi teorizado por Rimbaud, Fernando Pessoa e Herman Hesse, Bowie expressa todas as personas que carrega consigo. O que ele pretende demonstrar, além de pura expressão da Arte, é que todos nós somos multifacetados e, talvez por uma questão de preconceito impregnado socialmente, deixamos todas essas personas escondidas. Mas elas estão lá, dentro de cada ser pensante.
Por que falar de David Bowie? Simplesmente porque David Bowie sou eu, é você e um outro. Unicamente porque David Bowie abarca tudo e todos. Não é tietagem barata, acredite. Talvez você não esteja preparado para David Bowie. Mas ele está preparado para você. O importante é não desistir de conhecê-lo um dia. Talvez o relato de uma experiência pessoal seja o suficiente para despertar seu interesse. Então, vamos lá:
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David Bowie, Heroes mask, 1977 |
Na tão sonhada viagem a São Paulo, eis que, por coincidência do destino, estaria no MIS a exposição de David Bowie. Lembrei-me de uma amiga que mora na Inglaterra e mencionou, emocionada, ter visitado essa exposição incrível em Londres. Fiquei interessada e li o artigo que ela escreveu sobre o evento. Achei interessantíssimo!
Chega o momento de ir à aclamada exposição de David Bowie. Nesse meio tempo, não me fiz o favor de ouvir nenhuma música de Bowie. Deixamos a visita para a noite, já que o Museu ficaria aberto por toda a madrugada. Depois de bater muita perna durante o dia, emendamos a visita ao MIS. “Vamos a pé? É claro!”. 45 minutos caminhados depois, chegamos ao MIS. “Isso não pode ser a fila, pode? Pode. E é!”. Três horas e meia depois (EU DISSE TRÊS HORAS E MEIA DEPOIS) adentramos o Museu, cegas de cansaço e se perguntando “por que ficamos todo esse tempo nessa fila para ver o tal do Bowie?” (Sim, a essa altura ele já era o tal do Bowie). Depois de comprar o ingresso (5,00R$!), descobrimos que havia mais uma filinha. 30 minutos depois, recebíamos o fone.
A partir desse momento, tudo tomou outro rumo. Minha mente foi escancarada (para não dizer arregaçada) por uma força superior e intensa chamada David Bowie. Imagens e sensações da infância vieram à tona ao som de “Space Oddity” e “Starman”, seguidas da pergunta “essas músicas são dele? (?!!)”. Depois, confesso que me senti um pouco confusa com tantos manuscritos e fotos e roupas e luzes e músicas... mas logo me encontrei imersa em um céu de livros clássicos, como A Divina Comédia, 1984, Hamlet, Ecce Homo... chorei vendo e ouvindo a performance de “The man who sold the world”, lembrando minha adolescência e encantada por roupas fantásticas. Até esse momento, eu já havia me dado conta da grandeza de Bowie. Mas eu estava apenas no começo da exposição.
A cada painel, uma avalanche de emoção adentrava meu cansado ser. Assisti à pequena peça The mask, criada e encenada por Bowie; vi quadros sombriamente coloridos, pintados por ele; o manuscrito de “Fame”, composta com John Lennon; a intrigante arte da capa de Diamond Dogs; Ziggy Stardust em um caixão iluminado; muitas fotos; figurinos e mais figurinos que aguçavam minha imaginação. Até que ultrapassei uma cortina que levava a uma sala redonda, repleta de manequins vestidos com figurinos alucinantes, com uma projeção de vídeos que percorria toda a parede. Ali sentei e, enquanto uma infinidade de imagens de shows e clipes de Bowie passava diante dos meus olhos, chorei. Chorei por ter percebido coisas que, até àquele momento, estavam escondidas nas profundezas do meu ser. Estava completamente abalada, deslumbrada e emocionada, como poucas vezes estive em toda a minha vida.
Ao sair da absoluta catarse, o mundo real me deixou um pouco zonza. Senti pena da moça do café que nos disse, com o rosto exausto, que estava trabalhando há mais de 12 horas sem parar. Queria sair dali, mas ainda havia uma sala a ser visitada. Lá, descobri um pouco mais sobre o tal David Bowie: seu primeiro saxofone e violão; a placa da rua onde ele nasceu; o primeiro casaco estilizado; o primeiro discurso revolucionário contra o preconceito, aos 17 anos; e claro, lá estavam os Beatles, provando que eu tive uma boa base musical. E, depois de tudo isso, a vida se seguiu... mas, de uma maneira completamente diferente.
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Rock Haddon Mirror, 1972 |
Se depois de ler esse artigo, você sentiu o olhar penetrante de Bowie e deseja estender-lhe a mão, acesse o link para o vídeo de uma performance que ativará seus mais profundos sentimentos. Entregue-se. Liberte-se. Inspire-se.
https://www.youtube.com/watch?v=ROmdX7hXDdE
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