ARTE CINEMATOGRÁFICA
(O MAIOR ÍCONE DO CINEMA MUNDIAL)
Publicado por Vitor Dirami
Pouco se sabe sobre ela, uma das verdades é que foi uma das
mulheres mais fascinantes do século XX. Afinal, quem era Greta Garbo? Embarque
agora numa viagem pela vida da dama mais misteriosa do cinema.
A mulher mais misteriosa do século se chamava na verdade
Greta Lovisa Gustafsson, nascida em Estocolmo - capital do Reino da Suécia - em
18 de setembro de 1905. Vinda de uma família pobre, ela era a caçula de dois
irmãos. Começou a trabalhar muito cedo, aos 14 anos, e por consequência teve de
abandonar os estudos. A carreira artística nasceu quando Greta começou a fazer
pequenos filmes publicitários para lojas de departamento de Estocolmo. Aos
poucos, ela começou a se destacar e chamar atenção do público. Em um comercial
de padaria Greta conseguiu ser engraçada e se fazer notar. Ironicamente, aquela
que viria a ser uma das maiores atrizes dramáticas do cinema, deu seus
primeiros passos como comediante.
Após conseguir uma bolsa de estudos na Academia Real de
Teatro Dramático, onde estudou por dois anos, Greta foi descoberta pelo diretor
finlandês Mauritz Stiller, que passou a ser um grande entusiasta da jovem Greta
Gustafsson. Os dois fizeram um único filme juntos, A Saga de Gösta Berling
(Gösta Berlings Saga, 1924); onde ela desabrochou seu talento e dava sinais da
grande atriz que viria se tornar. Em consequência do sucesso do filme, Greta e
Stiller foram contratos pelo chefão da MGM Louis B. Mayer, que ficara encantado
com a performance da atriz em A Saga de Gösta Berling. Nesse momento nasceu
aquela que todo o mundo conheceria com o nome de Greta Garbo. Pouco antes,
Garbo fizera sua segunda e última aparição no cinema europeu - foi no filme
alemão A Rua das Lágrimas (Die Freudlose Gasse, 1925); do diretor austríaco
Georg Wilhelm Pabst - um dos primeiros filmes do movimento Nova Objetividade e
recheado de conotação social, A Rua das Lágrimas permanece como um dos
trabalhos mais sérios e menos famosos da atriz.
Ao chegar em Hollywood, o sucesso não foi imediato. Garbo
ainda não era a mulher belíssima imortalizada nas telas de cinema. Como quase
toda atriz na antiga Hollywood, Garbo passou por uma transformação, teve de
perder peso, seus dentes foram corrigidos e seus cabelos loiros foram
escurecidos. Realmente, ela aparece loira em poucos filmes, parece que as
loiras ainda não faziam tanto sucesso em Hollywood naquela época. Mas, seu
grande desafio era a língua, ela ainda não falava inglês e o forte sotaque
sueco era um enorme incômodo. Com o tempo ela se tornou fluente na língua, e
seu inglês parecia mais com o britânico com acento charmoso.
O primeiro sucesso foi em Laranjais em Flor (The Torrent,
1926), onde ela provou que viria a ser a maior estrela do cinema mudo da
década. Aclamada pela crítica e amada pelo público, o sucesso prosseguiu em
filmes comoTerra de Todos (The Temptress, 1926); A Carne e o Diabo (Flash And
The Devil, 1926); Anna Karenina (Love, 1927) e Mulher de Brio (A Woman of
Affairs, 1928). Em A Carne e o Diabo, Garbo contracenou com John Gilbert, um
dos maiores astros do cinema mudo, surgia ali um dos pares românticos mais
inesquecíveis da história do cinema. Os dois iniciaram um tórrido
relacionamento amoroso de idas e vindas, Gilbert a pediu em casamento, mas
Garbo o abandonou poucos meses antes da cerimônia.
A essa altura, Garbo já era a maior estrela de cinema da
época e a mulher mais bela e desejada do mundo. Seu último filme mudo foi O
Beijo (The Kiss, 1929); e sua carreira foi posta à prova quando os filmes mudos
foram substituídos pelos falados. Todos se perguntaram: como seria sua voz?
Será que ela falava inglês? Sim e sim. Garbo brilhou em seu primeiro filme
sonoro Anna Christie (1930), um sucesso de público e crítica que a tornou uma
estrela do cinema sonoro e lhe garantiu uma nomeação ao Oscar de melhor atriz -
a primeira das quatro que recebeu ao longo da carreira. Outros monstros do
cinema mudo não tiveram a mesma sorte, vários sucumbiram ao ostracismo e à
morte. Incluindo John Gilbert, cujo grande amor da vida foi Garbo.
Poucas vezes na história do cinema se viu uma atriz como
Garbo. Seu estilo a fazia única dentre todas as grandes estrelas da época. Sua
beleza estonteante aliada a um poderoso magnetismo pessoal e a eterna aura de
mistério que permeava sua imagem, deslumbrava o público que ficava entorpecido
com a arte daquela mulher incrível. Garbo se comunicava com a plateia através
do rosto e de sua expressão facial, seu olhar era fulminante e exprimia todas
as emoções necessárias. A expressão facial era de suma importância na era do
cinema mudo pois com a ausência de som os atores precisavam fluir os
sentimentos através dos gestos e expressões faciais, mas a interpretação de
Garbo era algo inacreditável, inalcançável. Garbo elevava a arte dramática ao
máximo, ela exprimia tudo o que é o cinema de verdade. Ela era a dama
misteriosa, igual ao título de seu filme de 1928.
Em 1929, o famoso fotógrafo Edward Steichen fotografou Garbo
para a revista Vanity Fair. A foto de Garbo apoiando as mãos na cabeça se
tornou lendária. Extensamente copiada, ela parece refletir um profundo
desespero interior da atriz, ao passo que o medo e o terror transpassam a
profundidade da própria fotografia.
Ao longo dos anos 30 Garbo manteve-se como uma das maiores
estrelas do cinema da época. Filmes como Mata Hari (1931); Grande Hotel (Grand
Hotel, 1932); Rainha Cristina (Queen Christina, 1933); Anna Karenina (1935); A
Dama Das Camélias (Camille, 1937) e Ninotchka (1939); alimentavam sua fama, seu
sucesso e o mito de uma grande diva. Grande Hotel foi um dos maiores êxitos de
Garbo, considerado o primeiro filme all-star do cinema, por juntar muitos
astros numa mesma produção. Nele, ela interpreta a melancólica bailarina
Grusinskaya, que pronuncia a frase que marcaria Garbo pelo resto de sua vida: "I
want to be alone" (Eu quero ficar sozinha). Na época temeu-se que a
bilheteria do filme não correspondesse aos dinheiro gasto com os salários de
seus protagonistas, contudo o sucesso foi incontestável e Grande Hotel obteve o
Oscar de melhor filme de 1932.
Sem dúvidas, A Dama Das Camélicas foi o maior sucesso de sua
carreira. Baseado no romance de Alexandre Dumas Filho, Marguerite Gautier foi o
personagem da vida de Garbo. A interpretação dela para a cortesã que se
apaixona por Armand Duval (Robert Taylor) e vive um amor impossível até as
últimas consequências é emocionante, e o resultado não podia ser outro se não
um sucesso avassalador. Apesar de ser um romance muito melancólico, Garbo está
especialmente diferente nesse filme, ela adiciona um pouco mais de ternura e
ironia a história triste de Marguerite Gautier.
A sua aposentadoria prematura do cinema, aos 36 anos, é um
mistério até hoje. Muito se falou sobre o que teria influenciado a atriz a
abandonar a profissão. A idade, a 2ª Guerra Mundial, o declínio da carreira e
sua vida privada foram ditas como possíveis razões para a atitude de Garbo. O
fato é que após o fracasso da comédia Duas Vezes Meu (Two-Faced Woman, 1941);
dirigida por George Cukor, Garbo simplesmente resolveu dar um tempo na carreira
- um tempo que durou mais de 50 anos. Durante décadas acreditou-se que Duas
Vezes Meu fora o responsável pelo fim da carreira da atriz, apesar de muitos já
terem dito que essa afirmação é pretensiosa, porque apesar dela ter ficado
profundamente abalada com o insucesso do filme, isso não seria o bastante para
fazê-la desistir da carreira de atriz.
A verdade é que ninguém sabia muito bem o que estava
acontecendo com Garbo, dizia-se que ela voltaria a filmar depois que a guerra
terminasse, e de fato ela continuava contratada da MGM. O prazo para a volta da
atriz às telas foi sendo adiado cada vez mais ao mesmo tempo que as
especulações cresciam. Como Garbo não anunciava definitivamente o fim da
carreira, ao longo das décadas de 40 e 50 choviam notícias de uma volta às
telas, algumas verdadeiras mas a maioria falsas. Ela recebia inúmeras propostas
e convites de produtores para um retorno ao cinema; um dos que mais a
interessou foi A Duquesa de Langeais, de 1949, baseado no romance homônimo de
Honoré de Balzac, que deveria ser produzido por Walter Wanger. Garbo realmente
quis interpretar esse papel e por muito pouco a grande atriz não retomou sua
carreira, entretanto, na última hora, após vários empecilhos, a produção acabou
se tornando impossível devido ao estouro de orçamento.
Muitas vezes, o insucesso dos projetos devia-se a indecisão
de Garbo em escolher um roteiro ou a incompetência dos seus agentes, de fato
sempre havia um obstáculo à sua volta ao cinema. Poucas estrelas se mantém no
topo por mais de 10 anos e Garbo esteve lá por pelo menos 15, artistas que
gozam da popularidade que ela possuía raramente são esquecidos, como se vê, não
foi mesmo o caso de Garbo. Mas, a medida que o tempo passava, todos já sabiam
que ela nunca voltaria às telas novamente. Garbo já tinha se tornado um mito
maior do que ela mesma. Embora muitos achem que pelo lado profissional o melhor
foi ter posto fim a carreira ainda jovem, por outro lado Garbo acabou privando
o mundo de sua grande arte, e se tornando refém do próprio mito. Abandonar sua
carreira foi uma perda irreparável para o cinema.
Garbo nunca se casou, sempre recusou ou declinou a todos as
inúmeras propostas de casamento. Garbo nunca ganhou um Oscar, mesmo tendo sido
indicada várias vezes. Recebeu somente um Oscar especial em 1954, dedicado às
'suas inesquecíveis performances', e como já era de costume não compareceu à
cerimônia. Garbo viveu o resto de sua vida reclusa em seu gigantesco
apartamento na East Side, rua 52, nº 450, em Nova York. Evitando qualquer tipo
de contato com a imprensa e fotógrafos que ela detestava. A sueca mais famosa
do cinema faleceu na manhã do dia 15 de abril de 1990, aos 84 anos.
Um dos maiores mitos do século XX, nunca saberemos ao certo
quem foi Greta Garbo. A dama misteriosa, sempre envolta numa névoa de fascínio,
falou muito pouco ao longo da carreira. Não gostava de dar entrevistas, sequer
autógrafos. Preferia se manter distante. Garbo é a personificação da diva
inalcançável. Parece que nunca envelheceu, assim como os astros que morrem jovens
e conservam sua imagem no tempo, Garbo também parou no tempo. Bela, jovem e
talentosa. À ela o poeta Mario Quintana dedicou dois versos.
Dois versos para Greta Garbo "O teu sorriso é imemorial
como as Pirâmides E puro como a flor que abriu na manhã de hoje…"
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