Literatura: histórias
infantis
Publicado por Rubinho Borges
Ao se criar o estereótipo de
princesa loira e magra, é excluída do mundo de fantasia e roubada à esperança
de toda menina que não é assim. E se na brincadeira, o menino quiser ser a
princesa ou a menina quiser ser a bruxa, qual o problema? É um mundo de
fantasias e as crianças nascem sem preconceitos, quem os coloca nas cabeças dos
pequenos somos nós.
A maioria das pessoas, quando criança, ouvia contos de fadas. Eles, (os contos), são muito importantes para desenvolver o lado lúdico das crianças, as faz viajar para reinos encantados com príncipes elegantes e princesas charmosas e delicadas, duendes e dragões, bruxas e vilões. A maioria das pessoas vai ler para seus filhos contos de fada, mas há algo muito importante para se pensar quando se conta uma dessas histórias infantis. A lição de moral. Poucos são aqueles que percebem que na maioria desses contos há uma grande e significativa lição de moral a ser passada para as nossas crianças.
O bom de contar uma história para as crianças
é que não existem limites para a imaginação e para despertar nelas a
consciência de que é possível, sim, vencer medos, conquistar grandes feitos e
ser a princesa ou o príncipe, mas é preciso tomar cuidado para se contar os
verdadeiros fatos da narrativa.
Ninguém quer criar, acredito eu, uma menina
que acha que sua vida só terá sentido apenas quando encontrar um homem que a
salve dos problemas, mas todas as mães querem criar uma menina que saiba que um
“final feliz” só acontece depois de lutar e vencer os obstáculos que aparecem
na vida e que o príncipe é, na verdade, apenas mais um elemento que compõe o
desfecho de toda a história de garra e vitória.
Contos de fadas foram criados há muito tempo
atrás e em uma sociedade cujos membros eram em sua maioria brancos. Isso não
invalida a importância de contá-los para crianças de qualquer raça. Quem disse
que as princesas e os príncipes só podem ser brancos? Salvo algumas exceções
como a história da Branca de Neve, a princesa e o príncipe podem ser de
qualquer etnia.
É dever do pai e mãe contar a história
estimulando o desenvolvimento imaginativo dos filhos. O “Era uma vez...” abre a
porta de um mundo onde bonecos de madeira ganham vida, feras têm coração bom e
animais cantam e dançam. Usando esse recurso é possível criar uma pessoa melhor
que entende que, na "vida real", nem sempre apenas o previsível
acontece.
Muito melhor do que, simplesmente, ligar a
televisão e deixar as crianças “hipnotizadas” por ela, o que é trabalho de pais
preguiçosos que não querem dedicar tempo aos seus filhos, ou em ocasiões quando
não há, de fato, tempo, o melhor é sentar com as crianças numa sala e pedir que
elas ajudem a contar a história. Deixe que a criança decida como será a
Cinderela, ainda que isso possa fazer com que essa princesa seja roxa, com
cabelo azul e um olho só. Deixe que a criança decida.
Ao se criar o estereótipo de princesa loira e
magra, é excluída do mundo de fantasia e roubada a esperança de toda menina que
não é assim, o que, no Brasil, representa 90% delas. E se na brincadeira, o
menino quiser ser a princesa ou a menina quiser ser a bruxa, qual o problema? É
um mundo de fantasias e as crianças nascem sem preconceitos, quem os coloca nas
cabeças dos pequenos são, em sua maioria, primeiramente, os pais, depois a
sociedade. Nos países mais desenvolvidos, onde o desenvolvimento intelectual e
as taxas de discriminação racial, social ou religiosa são baixas, educadores e
pais disseminam a ideia de inclusão desde cedo. E, se a Ariel é uma sereia, ela
pode ter a pele de uma índia, como a Iara, personagem do folclore brasileiro,
ou um cabelo crespo.
Um conto de fada tem uma função que vai muito
além da de entreter as crianças, é por meio dele que as crianças têm seu
primeiro contato com uma sociedade diferente da qual elas convivem. “O Alfaiate
e o Gigante” é aquela história do menino pobre que vence um homem malvado com
mais de dez metros de altura. Por que não contar essa história e depois dar um
exemplo real de um “gigante” vencido?
Criar “heróis” e “princesas” da vida real,
não é transformar as crianças em adultos que não aceitam a realidade. Esse é o
papel mais importante na criação dos meninos e meninas, é fazer com que eles
entendam que heróis existem não apenas no mundo dos contos de fadas, mas também
no mundo em que eles vivem. O bom dessas histórias é que elas são abertas a
tudo o que a imaginação e a realidade são capazes de “inventar”. E se a
Cinderela for uma menina pobre de algum subúrbio brasileiro que sempre teve que
ajudar o pai e mãe em casa nas tarefas?
Não há problema em dar “pitadas” de realidade
à fantasia e as crianças ouvem e acreditam em tudo. Por isso, ao invés de
apenas distrair esses novos cidadãos do mundo, é importante, desde cedo,
prepará-los para serem fortes e estarem prontos para lutar contra as
adversidades da vida. Se na “vida real” não existem bruxas, dragões, hienas
invejosas, há coisa muito pior para as quais nossos filhos não estão
preparados.
Na verdadeira história de Chapeuzinho
Vermelho não havia um lobo mau, mas sim um homem misterioso que seduzia as
meninas que acabavam de se tornarem “mocinhas”, tendo como marco para isso a
menstruação, daí a alusão à capa vermelha, como uma bandeira agitada avisando
aos “lobos” que aquela já não era uma menina, mas a mulher que podia ser
seduzida, e a vovó, não era a velhinha que ficava, pacientemente, esperando sua
netinha, mas antes uma mulher mais velha, rica e solitária que se deixava
enganar por um rapaz com olhos grandes e boca faminta.
Esse é apenas um exemplo do caráter moral que
os contos de fadas tinham na época em que foram criados: passar, de forma
lúdica, a sabedoria dos mais velhos e ensinar os mais novos. Esse sempre foi o
papel dos pais e educadores: preparar a nova geração para um mundo muito mais
perigoso do que o "reino das trevas". É nosso dever, usar os contos
de fadas para educar nossas crianças, ensiná-las que pessoas pobres podem ser
bem-sucedidas com esforço e que a princesa não é só a filha de nobres, mas a
menina que se torna mulher mesmo com todos os problemas.
Contos de fadas servem para encantar uma
criança e também para abrir sua mente para um mundo novo e diferente. Quando
pais e filhos interagem de forma sadia, a confiança das crianças cresce e é
possível, sim, transformar um menino ou menina em heróis que vencem dragões,
heroínas que superam a perda dos pais, sereias que vencem as barreiras sociais,
Irmãos João e Maria que aprendem que, quando há problemas, eles devem trabalhar
juntos e encontrar uma solução. Leia contos de fadas para seus filhos e você
mesmo pode aprender muito com a inteligência e criatividade deles e romper seus
próprios medos e preconceitos, além de criar pessoas melhores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário