Arte cinematográfica
“Paulistana,
escritora, idealista em crise, bacharel em Cinema, cinéfila, professora
universitária com alma de aluna, doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata
na vida, filósofa de botequim, com a alma tatuada de experiências trágicas,
amante das artes , da boa mesa, dos vinhos, de papos loucos e ideias
inusitadas. Serei uma atleta no dia em que levantamento de xícara de café se
tornar modalidade esportiva. Sim, eu acredito realmente que um filme possa
mudar a sua vida! Autora do blog Garota desbocada. Lancei recentemente em
versão e-book pela Cia do ebook o romance O corpo nu...”
Embora o fato de Carol ser
homossexual seja determinante para o desenrolar da trama, não consegui ver esta
obra como um filme sobre a homossexualidade. Para mim é apenas um filme sobre o
amor e como a vida social insiste em mutilar o melhor da nossa existência,
resinificando o que é belo e limpo em condutas sujas e nefastas. O amor
anticonvencional é apenas amor para quem o vive. Porém, para quem está de fora
é uma nota destoante na orquestra social. É uma espécie de
"aberração" moral.

O filme "Carol" que conta com a
desconcertante Cate Blanchet no papel protagonista, uma mulher que precisa
escolher entre a guarda da filha e assumir a sua homossexualidade nos convida a
uma reflexão poderosa. Ela necessita escolher entre o maior amor da vida dela e
ser ela mesma. Como fazer tal escolha sem sair despedaçado? Tudo bem que o
contexto do filme é a década de 1950 e muitas coisas mudaram de lá para cá.
Mas, de qualquer forma, mesmo que de maneira mais sutil e subliminar, ainda
somos , muitas vezes, convidados a fazer escolhas insuportáveis.
Bons filmes extrapolam o universo narrativo
ficcional e nos conduzem aos nossos próprios dilemas, às escolhas dolorosas que
precisamos fazer, aos amores que precisamos renunciar, às palavras que
precisamos calar, aos sentimentos que precisamos sufocar, às situações penosas
as quais precisamos nos adequar.
Embora o fato de Carol ser homossexual seja
determinante para o desenrolar da trama, não consegui ver esta obra como um
filme sobre a homossexualidade. Para mim é apenas um filme sobre o amor e como
a vida social insiste em mutilar o melhor da nossa existência, resinificando o
que é belo e limpo em condutas sujas e nefastas. O amor anticonvencional é
apenas amor para quem o vive. Porém, para quem está de fora é uma nota
destoante na orquestra social. É uma espécie de "aberração" moral.
Sim, para mim "Carol" vai muito
além da homossexualidade. "Carol" fala sobre a perplexidade do
primeiro encontro visual. Sobre a timidez do primeiro almoço compartilhado.
Sobre o constrangimento poético ou alegria confusa do primeiro esbarrar de mãos
quase acidental. Sobre o medo do primeiro beijo...reticente e tépido. Sobre o
calor eufórico e meio ensandecido de tudo que vem depois. Sobre o início do
amor, tão puro, tão limpo de mágoas e lembranças tristes, tão livre de
fantasmas rondando pela relação. Sobre a separação forçada e dolorosa. Sobre o
reencontro, melancólico e profundo. Sobre a capacidade de sublimar a própria
dor e orgulho para perdoar e reviver o amor.
Carol e Terry se amam. E qualquer mulher que
já tenha amado um homem e qualquer homem que já tenha amado uma mulher tem
condições de saber que não há nada de tão absurdo entre Carol e Terry. É só amor.
E quando elas finalmente fazem sexo, não há nada de tão bizarro entre Carol e
Terry. Mais uma vez, é só amor. Um amor que precisa gemer baixinho num mundo em
que as pessoas não conseguem reconhecer os sons afetivos. Apenas os da
conveniência e poder.
"Carol" não garante emoções
arrebatadoras nem momentos ultra catárticos. É uma obra plácida, em que muitos
conteúdos ficam nas entrelinhas. É um filme contido sobre sentimentos e
relações não contidas, passionais e apaixonadas, cheias de um vigor muito poderoso.
A fotografia é belíssima e ajuda a compor o quadro romântico e suavemente
erótico que se forma entre a magnética e irreverente Carol e a tímida e
profunda Terry. Mais do que um filme sobre a homossexualidade,
"Carol" é um filme sobre o amor e as escolhas mais dolorosas que
precisamos fazer para vivê-lo.
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