Brasil:
(O maior romancista brasileiro)
Publicado por Jonathas
Rafael
Machado de Assis é, sem dúvida, um
exemplo de superação. Mesmo sendo
considerado pela elite burguesa de
sua época um “ninguém”, não desistiu de seus objetivos, tanto é que se tornou
um dos principais literatos do mundo. Com efeito, este artigo tem por objetivo
discorrer, de maneira sucinta, acerca de sua vida, bem como evidenciar
peculiaridades de sua obra.
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu na
cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente no Morro do Livramento, em 1839.
Nessa época, a cidade era composta por, em média, duzentos mil habitantes. A metade
dessa população era escravizada. A expectativa de vida para os escravos era de
vinte e cinco anos de idade; para o restante da população, trinta e quatro.
Machado era filho de Francisco José de Assis,
brasileiro, mestiço, pintor e dourador, e de Maria Leopoldina Machado de Assis,
açoriana e lavadeira agregada. Até seus onze anos de idade, não há quase nenhum
registrado a seu respeito. Óbvio, registrar dados da história de um menino
pobre, criado no morro, sem nenhuma perspectiva de vida, é uma tarefa inútil. É
sabido apenas que ele era neto de escravos e residia em uma chácara com seu
pai, sua mãe, sua irmã caçula e sua madrinha, a proprietária dessa chácara. Aos
dez anos de idade, devido a doenças deletérias, perdeu-as. Essa lacuna na vida
do escritor suscita demasiada frustração em muitos biógrafos, especialmente ao
se depararem com sua genialidade, que até hoje é um enigma a ser decifrado. É
custoso, para a elite, aceitar que um sujeito parco pode sobressair-se mais do
que um sujeito abastado.
Aos quinze anos de idade, seu pai casou-se
novamente, com a mulata Maria Inês. Ela se incumbiu de inscrever Machado na
escola pública, a única que ele frequentou. Em consequência, tornou-se aprendiz
de gráfico na Tipografia Nacional, presidida por Manuel Antônio de Almeida. Em
certa ocasião quase foi demitido: Manuel Antônio foi informado de que um de
seus empregados estava fugindo do trabalhado para ler os livros que imprimia.
Portanto, começou a investigar. Logo, legitimando a denúncia. O fato é que, ao
invés de demiti-lo, admirou-o, aumentou seu salário e o inseriu no contexto de
escritores e literatos da época, suscitando sua ascendência social e
intelectual.
Com efeito, Machado de Assis foi se
aprimorando e ascendendo cada vez mais, tanto social quanto intelectualmente.
Exerceu vários cargos públicos. Participou como co-fundador e designado
presidente várias instituições, sobretudo da ABL (Academia Brasileira de
Letras), em 1897. Dominou as línguas francesa e latina, além de elaborar, em
média, um total de 10 (dez) romances, 206 (duzentos e seis) contos, 253
(duzentas e cinquenta e três) poesias, 24 (vinte e quatro) crônicas, 10 (dez
teatros), 45 (quarenta e cinco) críticas, 3 (três) traduções e 10 (dez)
miscelâneas.
Após esse percurso, Machado faleceu, mais especificamente
no dia vinte e nove de setembro de 1908, aos sessenta e nove anos de idade,
exercendo cargo público. Foi sepultado conforme sua determinação: no mesmo
sepulcro de sua esposa no Cemitério de São João Batista. Foi reconhecido, ainda
em vida, como o maior escritor brasileiro de prosa e de ficção. Quem diria que
um menino descendente de escravos, mulato, epiléptico, gago e, por isso tudo,
muito tímido, conseguiria chegar aonde chegou e conquistar o que conquistou.
Quem diria que esse menino conseguiria sequer sobreviver. Nasceu um “ninguém”,
segundo a classe elitizada; faleceu cronista, contista, dramaturgo, jornalista,
poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Antes que este parágrafo
finde, é imprescindível ressaltar mais um dado acerca de Machado de Assis, se
todos esses acima já não foram suficientes: ele era autodidata.
Analisando os fatos, é possível perceber que
Machado de Assis começou a elaborar suas obras na Cultura oitocentista,
adjetivado assim o século XIX, período em que escritores e artistas do mundo
descreviam traços culturais de seus países através de suas obras. Sendo eles
influenciados eminentemente pelo Romantismo. Machado, por sua vez, foi um dos
primeiros escritores a questionar as finalidades desse movimento no Brasil,
porque o concebia como uma maneira de circunscrever e padronizar a literatura.
Aliás, já na condição de escritor conspícuo, questionou os intentos de
movimentos literários ulteriores que, para ele, tinham as mesmas pretensões.
Tanto é que, durante toda a elaboração de sua obra, não seguiu nenhum tipo
exclusivo de movimento literário.
A partir de então, teve por objetivo elaborar
romances que propiciassem análises dos caracteres dos seus personagens. Mais
especificamente, teve por objetivo elaborar romances que propiciassem análises
psicológicas dos seus personagens e dos seus conflitos internos. Portanto,
distanciando-se da tipologia literária hegemônica no Brasil à época, que era
influenciada, sobretudo, por americanos e portugueses, ou seja, inclinada ao
relato de fatos referentes à sua própria cultura. Com efeito, foi considerado
um gênio, mais até, Um Mestre na Periferia do Capitalismo, por motivos
plausíveis, porque ele se achava anos frente à sua época. Empenhou-se, por
exemplo, nessa árdua tarefa, em média, noventa anos precedentes à vigência da
Psicologia como ciência no Brasil.
A crítica, ao se deparar com essa situação,
teve por objetivo analisá-la. Com efeito, declarando que, realmente, algumas
características legitimavam a distinção da obra machadiana das demais de sua
época. A saber: (1) metalinguagem; (2) intertextualidade; (3) digressão
(narrativa não linear); (4) vocabulário objetivo (seus leitores têm certas
dificuldades para compreendê-la atualmente devido ao contexto
histórico-social); (5) estilo culto (apresenta traços característicos de
diversos escritores clássicos do Ocidente); (6) descrição detalhada das cenas
apresentadas; (7) universalidade; (8) psicologismo; (9) ironia; (10)
pessimismo. A partir disso, sendo considerado um escritor enigmático,
suscitando, portanto, várias interpretações de sua obra no transcorrer dos
séculos. Uma obra literária, assim como a machadiana, é rica quando permite
múltiplas interpretações, não se circunscrevendo a um determinado modismo,
época ou cultura, mas aberta a várias gerações em diferentes contextos sociais.
Essas características tão peculiares na
elaboração de sua obra, de maneira sutil direcionam críticas à sociedade. Para
isso, seu ardil principal é a dissimulação. Suas ideias não são explicitadas,
mas se acham esparsas na pragmática do texto. Sua narrativa baseia-se nisso. É
vital ter uma visão mais holística do contexto para apreender o conteúdo por
ele transmitido. Na obra machadiana, as ideias podem ser, às vezes, capciosas,
feitas para ludibriar o amigo leitor, que é demasiado impaciente.
Sua obra não é circunscrita. Está sempre
inclinada ao estabelecimento de laços entre seus personagens e o contexto
histórico-social como susceptível à ampliação a fim de intenções de
universalidade. Fornece exemplos daquilo que há de mais representativo a ser
interpretado e que está manifesto na “mente” dos seres humanos. Tanto é que,
com muita frequência, é possível perceber seus leitores se identificando com
seus personagens.
Ao se identificar, o leitor transpõe o campo
do anonimato existencial, não menos, vivencia intensamente seus desejos mais
escusos. Através da identificação, libertar-se da realidade externa que o
frustra e usufrui de sua imaginação. Quer queira quer não, todo ser humano
deseja ser um herói: agir conforme solicitam seus desejos. Eles não participam
apenas imaginariamente das tramas, mas as modifica. Têm a vantagem de fazer
isso sem a crítica incisiva do outro. Um fator capital a ser evidenciado é que
a identificação com o personagem está análoga ao grau do conflito elucidado
pela obra.
Enfim, cumpre dizer que embora Machado não
tenha seguido exclusivamente os modismos de uma escola literária específica,
não implica dizer que sua obra tenha um valor reduzido. Muito pelo contrário,
sua resistência fez sua obra ser atemporal, foco de leitura das mais diversas
gerações. Esse é um dos motivos mais imponentes que o fez receber a intitulação
de clássico.
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