Literatura: crônica
Publicado por Luana
Peres
Ansiamos pelos 18 anos e quando
vemos já estamos omitindo nossa verdadeira idade por medo de parecermos
"velhos". Por que o "velho" dá medo?

Há algumas semanas, assisti à peça "Agora
Que Eu Vou Ficar Bonita" que a atriz Regina Braga construiu ao lado do
marido, o médico Dráuzio Varella, sobre um tema profundo e, apesar de comum a
todos nós, bastante delicado: o envelhecimento.
Cinco instrumentistas com violões,
cavaquinhos e pandeiros abrem o cenário para que Regina e seu parceiro de cena,
Celso sim, elaborem o drama da melhor forma possível, utilizando-se do samba e
da poesia para encantar o espectador.
Na peça são citados autores renomados como
Paulo Leminski, Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana, além de grandes
músicos, como Cartola, Nelson Cavaquinho e Candeia. A dança entre cadeiras,
cordas e emoções distintas, chama a atenção para o afrontamento de uma questão
factual: a finitude!
Sabe-se que, tanto a finitude, quanto a
velhice são características fundamentais da humanidade, pois, ainda que se
nasça pronto para esta condição, na medida em que os anos avançam, a velhice
anuncia o que até então pareceu ser evitado: a morte. A ideia é viver dia-a-dia
fugindo da iminência do fim, no entanto, quando os anos se aproximam, as
visitas médicas se tornam mais frequente e os filhos tem filhos que já caminham
para terem outros filhos, sabe-se que o limite entre o viver e o morrer se
aproxima.
As tentativas de nos distanciarmos do que é
fato fala do nosso medo e do nosso não controle sobre a vida. Falamos com
cuidado do que é raso porque ainda não sabemos lidar com o que há de mais
profundo.
E, não fosse o bastante ter que lidar com a
angústia do fim, ainda temos que lidar com a bagagem que a velhice evoca: as
quedas, as fraquezas, as rugas, as dores, os cabelos brancos. É o medo do
adoecer sozinho, é o medo de morrer só. É o medo de deixar de ser quem foi. O
medo de ser tratado como criança, medo de não reconhecer seus parentes, medo de
perder a autonomia, a força, a libido, a fé, a beleza.
Envelhecer é temer, pois se sabe que o que
vem com o envelhecimento não está sob nosso controle. No entanto, é, necessário
e fundamental, reconhecer que há nesse processo um ganho único e inviolável que
diz do “como” e do “quem” será durante sua existência. Por isso, mesmo entre
tantas angústias - desde a incômoda ruga, até a certeza da morte - é importante
pensarmos que há beleza em tudo! Desde o nascimento até o caminho que conduz ao
fim, a peça citada acima remete a ideia do prazer que há na vivência de cada instante
e merece ser vista e sentida como ensaio para tudo que há por vir.
E, pra quem tem dúvidas de que há beleza em
toda e qualquer idade, segue ensaio que o colega e colaborador Marcelo Vinicius
publicou por aqui mesmo!
Velhos e bonitos.
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