Literatura: infanto-juvenil
Por Marina Ferreira
“Sonhadora
por natureza, circense por amor e escritora por atrevimento.”
"Todas as pessoas grandes foram
um dia crianças, mas poucos se lembram disso"
A literatura infanto-juvenil, repleta de
fantasias e alegorias de todos os tipos, caracteriza-se por ser dedicada
especialmente às crianças e jovens adolescentes. Perceba, porém, que ela é produzida especialmente e
não exclusivamente para esse público.
Então por que essa categoria de livros é tão
facilmente desprezada pelos adultos, “detentores de toda razão e conhecimento”?
Por que, apesar da riqueza de detalhes, da inesgotável criatividade, do cuidado
estético e das diversas camadas interpretativas que um livro infanto-juvenil
pode apresentar, ele dificilmente é considerado um cânone? Talvez, Antoine de
Saint-Exupéry, em seu livro O Pequeno Príncipe, já tenha respondido
com clareza essa questão: “Os adultos nunca conseguem compreender nada
sozinhos” (SAINT-EXUPÉRY, 2015, p.10).
Acredita-se que ao crescer as pessoas possuem
tempo apenas para o que diz respeito à complexa atividade humana e seu
respectivo mundo capitalizado, ignorando, portanto, tudo que é do âmbito
infantil. Supõe-se, também, que a fantasia em geral é pueril, pois algo que
exige tanto da imaginação só pode ser coisa de criança. Aqueles que pensam
assim se esquecem que toda ficção se baseia na imaginação, tanto de
quem a cria quanto de quem a consome.
A aparente ingenuidade das obras infantis é,
na verdade, um artifício para apresentar questões importantes e complexas de
forma compreensível aos jovens leitores, uma vez que leem o mundo a partir de
um raciocínio diferente, mas não menos eficaz, do raciocínio de um adulto.
Dessa forma, é perceptível que um livro infantil não é necessariamente menos
elaborado, menos intrigante, menos crítico e com menos cunho moral do que um
livro voltado para um público restritamente adulto. A diferença está
apenas na forma de abordagem.
De acordo com a obra Psicanálise dos
Contos de Fadas, o psicólogo infantil, Bruno Bettelheim, diz que para
dominar problemas psicológicos do crescimento, como: decepção, narcisismo,
complexo edipiano, rivalidade fraternal, e outros, a criança precisa entender o
que está passando dentro de seu “eu” consciente para que também possa enfrentar
o que se passa em seu “eu” inconsciente. Nesse contexto, os “contos de
fadas” desempenham um papel importante na formação do caráter dos leitores,
pois tratam de temas polêmicos de maneira sutil, entretanto, sem omitir
totalmente a crítica (BETTELHEIM, 2002).
É nesse ponto que entra em cena o talento do
escritor. Não é qualquer um que consegue escrever um bom livro para crianças. É
necessário ter imensa sensibilidade, domínio das palavras e uso de alegorias
para conseguir apresentar a conflitante realidade social dentro da perspectiva
infantil, sem jamais subestimar a capacidade do pequeno leitor de enxergar
aquilo que o autor pode e deve colocar nas entrelinhas. Só a satisfação
de admirar um bom trabalho de escrita, feito para um público tão específico, já
faz valer a leitura.
Diante disso, resta aos adultos, “detentores
do saber”, abandonar suas ideias de superioridade e seus preconceitos e
resgatar sua sabedoria de criança, mergulhando por inteiro em um universo
completamente diferente, recheado de magia, seres mitológicos, acontecimentos
sobrenaturais e fantasia. Um lugar onde, sem perder a leveza e o encantamento,
as questões humanas e os conflitos sociais também são amplamente
debatidos, só é preciso querer enxergá-los.
Então por que ler livros infanto-juvenis?
A questão é: Por que não lê-los?
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