Brasil: literatura
Colaboração de Fernando Alcoforado*
Historicamente,
forças progressistas são constituídas por pessoas, partidos e classes sociais
que defendem o progresso político, econômico e social de uma nação. Isto
significa dizer que as forças progressistas são partidárias das mudanças na
base econômica e na superestrutura política e jurídica de uma nação para
realizarem as grandes transformações políticas, econômicas e sociais como
aquelas que ocorreram ao longo da história através de revoluções sociais como a
Revolução Gloriosa na Inglaterra (1689), a Revolução Americana (1776), a
Revolução Francesa (1789), a Revolução Meiji no Japão (1868), a Revolução Russa
(1917), a Revolução Chinesa (1949) e a Revolução Cubana (1959).
Outras
transformações políticas, econômicas e sociais ocorreram ao longo da história
através de lutas de libertação nacional como as que aconteceram, por exemplo,
no século XX tendo por objetivo a descolonização ou a independência das antigas
colônias europeias na África e Ásia, a longa luta de libertação nacional do
povo vietnamita contra os colonizadores franceses, invasores japoneses,
seguidos de novos contingentes franceses e, por fim, dos invasores
norte-americanos. Dentre os casos de luta de libertação nacional envolvendo
forças de resistência contra invasores destacam-se, também, as lutas da
resistência francesa e da resistência soviética contra as forças invasoras da
Alemanha nazista e a resistência chinesa contra as forças de invasão do Japão,
ambas durante a II Guerra Mundial.
As forças
conservadoras são constituídas por pessoas, partidos e classes sociais que
resistem às mudanças econômicas, políticas e sociais abruptas. O pensamento
conservador expandiu-se pelo mundo principalmente após o período do terror
jacobino na França que, durante o auge da Revolução Francesa, causou a morte de
35 mil a 40 mil pessoas. Para as forças conservadoras, as melhores instituições
sociais e políticas são aquelas que resultam de um lento processo de
crescimento e evolução ao longo do tempo. Os conservadores consideram que são
os constrangimentos introduzidos pelos hábitos e tradições que permitem o
funcionamento das sociedades e que qualquer regime duradouro e estável só
poderá funcionar se está baseado nas tradições.
O
impeachment de Dilma Rousseff está sendo considerado pelo PT e seus aliados
como um golpe parlamentar acionado por forças conservadoras contrárias às
mudanças sociais e que objetivam promover o retrocesso no combate às
desigualdades sociais realizadas pelos governos Lula e Dilma Rousseff.
Trata-se, entretanto, de uma gigantesca falácia o PT e partidos aliados se
colocarem como forças progressistas haja vista que, durante 13 anos, os
governos Lula e Dilma Rousseff não foram capazes nem de promover as mudanças
políticas, econômicas e sociais revolucionárias nem muito menos promover a
libertação do Brasil de sua subordinação ao capital financeiro internacional e
às empresas multinacionais.
Os governos
do PT não podem ser considerados progressistas porque o balanço de 13 anos dos
governos Lula e Dilma Rousseff representa a negação das grandes lutas do povo
brasileiro levadas avante no século XX, numa incoerência histórica traidora. A
incoerência no plano econômico se manifesta no fato de ambos os governos do PT
terem dado continuidade à política neoliberal e antinacional dos governos Fernando
Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso seguindo o que estabeleceu o
Consenso de Washington na década de 1990. Uma das grandes expectativas que se 2
criou com a vitória eleitoral dos governos do PT a partir de 2002 foi a de que
seria dada continuidade ao processo de desenvolvimento econômico e social do
Brasil e de emancipação nacional desencadeados pelos presidentes Getúlio Vargas
e João Goulart para a superação da dependência do Brasil ao capital estrangeiro
e o fortalecimento dos setores produtivos pertencentes a brasileiros. Ao
contrário, o que se verificou foi o aumento da dependência financeira e
tecnológica do Brasil em relação ao exterior e a desnacionalização da economia
brasileira.
O aumento da
dependência financeira do Brasil em relação ao exterior resultou do fato de o
modelo econômico neoliberal em vigor ter imposto a política de atrair capitais
externos para cobertura dos crônicos e crescentes déficits público e do balanço
de pagamentos em conta corrente e o aumento da dependência tecnológica resultou
da falta de investimentos no desenvolvimento da ciência e tecnologia no País e
da presença majoritária de empresas multinacionais nos setores de ponta da
indústria nacional. O Brasil se tornou paraíso do capital financeiro nacional e
internacional que nunca lucraram tanto como nos governos do PT. A abertura da
economia brasileira a partir de 1990 que beneficiou o capital estrangeiro,
mantida pelos governos Lula e Dilma Rousseff, agravou a situação da indústria
brasileira que perdeu competitividade devido à falta de proteção por parte do
governo e aos entraves representados pela sobrevalorização do câmbio e pelo
Custo Brasil (taxas de juros reais elevadas, altíssima carga tributária, altos
custos trabalhistas, elevados custos do sistema previdenciário, legislação
fiscal complexa e ineficiente, alto custo da energia elétrica, infraestrutura
precária e falta de mão de obra qualificada).
Os governos
do PT não podem ser considerados progressistas porque não impediram a
fragilização da indústria brasileira e contribuíram para que a metade do
investimento estrangeiro direto realizado no Brasil nos últimos anos fosse
destinada à aquisição de muitas indústrias nacionais sucateadas. Além disso, os
governos Lula e Dilma Rousseff comprometeram as finanças públicas ao elevar
exorbitantemente a dívida pública que poderá alcançar R$ 3,3 trilhões no final
de 2016. De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a relação entre a
dívida bruta e o PIB do Brasil deve manter a curva ascendente, subindo de 73,7%
registrados em 2015 para 91,7% em 2021. A deterioração da economia brasileira é
tão flagrante que o Brasil está sofrendo a maior retração econômica de sua
história. O Brasil é um país cuja economia está em estágio terminal graças aos
governos do PT.
Os governos
Lula e Dilma Rousseff não podem ser considerados progressistas porque
fracassaram, também, no plano social que se traduz no fato de não terem
promovido a verdadeira inclusão social da população pobre com sua inserção ao
mercado de trabalho como consequência do crescimento do PIB, isto é, do aumento
da riqueza nacional. Houve uma falsa inclusão social porque ela se realizou com
a concessão de “esmolas” a 50 milhões de brasileiros pobres através do programa
de transferência de renda Bolsa Família com recursos do Tesouro Nacional cujo
propósito maior foi o de tornar seus beneficiários eleitores “escravos” do PT.
Os governos Lula e Dilma Rousseff não podem ser considerados progressistas
porque mantiveram a flexibilização das relações trabalhistas que passou a
existir desde o governo Fernando Henrique Cardoso em prejuízo dos
trabalhadores.
A primeira e
grande consequência do desastroso governo Dilma Rousseff já se manifesta na
insolvência dos governos federal, estaduais e municipais, a falência
generalizada de cerca de metade das empresas de pequeno, médio e grande portes
do 3 País e o desemprego em massa de mais de 10 milhões de desempregados em
consequência da avassaladora crise econômica atual que compromete o futuro
econômico do Brasil. Se os governos Lula e Dilma Roussef não podem ser
considerados progressistas, eles foram, em consequência, conservadores porque
não mudaram o “status quo” econômico, político e social do Brasil. Muito pelo
contrário, promoveram sua regressão, seu retrocesso econômico, político e
social. As classes dominantes do Brasil e o capital estrangeiro foram bastante
beneficiados com as políticas econômicas adotadas pelos governos do PT. Não
justifica, portanto, a defesa dos governos do PT e, em particular, do governo Dilma
Rousseff sob o argumento de que se tratam de governos progressistas que
estiveram e estariam a serviço da promoção do progresso econômico, político e
social do Brasil.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de
Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros
Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a
Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o
Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento
do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.
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