Cultura/Arquitetura
Por Pedro Azevedo
"...e os arquitetos que
construíram o Vaticano almoçavam com o Papa."
Além de todos os motivos já conhecidos para a
eterna insatisfação e desencanto de alguns com a vida de arquiteto terminado o
período académico, existem fatores que não são exclusivos desta profissão e que
podem ajudar um pouco a perspectivar a “crise” e a alterar o resultado. Os
arquitetos são peritos a comunicar entre si, muitos falham na comunicação para
fora do círculo restrito. Durante os anos de formação a esmagadora maioria dos
arquitectos é treinado a defender com toda a determinação as suas ideias através
da construção de conceitos e realidades para aplicar na resolução de um
determinado problema/projeto. Esta defesa e argumentação são realizadas em
circuito fechado (e provavelmente bem) numa linguagem muitas vezes hermética,
citando e utilizando um imaginário que, devido à especialização, só os
arquitetos conhecem. Genericamente os cursos são todos iguais na sua estrutura
e objetivos. Centram a atenção no desenvolvimento do projeto e apoiam-se numa
série de campos paralelos, mas complementares como a história e o desenho.
Grande parte do “sucesso” pós-curso vem precisamente daquilo que se fez durante
e fora do mesmo. É este percurso que vai
marcar a diferença na fase em que se faz a transferência do “modus operandi”
académico para o “modus operandi” profissional. É uma tontice pensar que os
melhores alunos na academia podem vir a ser os arquitetos com maior e melhor
produção profissional. O mundo está cheio de exemplos em que os melhores
alunos da turma foram contratados pelo aluno que passava à tangente e que
ninguém conhecia muito bem. Há uma justificada demonização dos estágios pelas
condições em que muitos deles se desenvolvem. No entanto não se pode subestimar
o estágio. É uma oportunidade muitas vezes única de se puder cair na
“realidade” e de fazer a mudança necessária. Não é difícil seguir uma certa
linha de continuidade entre alguns arquitetos de referência com uma produção
intensa e de qualidade, com alguns ateliers mais recentes que se vão destacando
e que à sua maneira tentam transpor o modo de funcionamento do atelier onde
estagiaram. Tal como se relembram saudosamente os colegas de turma, há muitos
casos em que se relembram os colegas do escritório e a partir daí alguns
caminhos podem ser seguidos, nomeadamente as “parcerias” e agrupamentos mais ou
menos informais para ganhar escala. Obviamente que o título deste texto é uma
metáfora para que alguns arquitetos saiam do círculo vicioso de algum queixume
e se relacionem com o mundo. Afinal o circuito da encomenda consistente, na
maior parte das vezes, sempre foi feito em regime de aconselhamento e
proximidade, e os arquitetos que construíram o Vaticano almoçavam com o Papa.
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