Ciência
Gabriela
Torres
Da BBC Mundo
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O HAWC fica em um dos pontos mais altos do México, a 4,1 mil metros de altitude |
No vulcão Sierra Negra, no México,
300 tanques de água têm uma missão: "caçar" os chamados
"mensageiros do espaço", para descobrir seu ponto de origem.
Mensageiros do espaço são, na verdade,
raios cósmicos, descobertos em 1912 pelo físico austríaco Victor Hess. Receberam esse apelido porque levam
informações das partes distantes do espaço a bilhões de anos-luz. E, desde o
descobrimento desses raios, ninguém conseguiu determinar de onde eles vieram.
Os
tanques fazem parte do Observatório de Raios-Gama HAWC que está funcionando há
pouco mais de um ano na elevação mais alta do México. Cada um com 7,3 metros de
diâmetro e 4,5 metros de altura, os tanques estão em uma área de 20 mil metros
quadrados a uma altitude de 4,1 mil metros.
"Os
raios cósmicos têm um papel muito importante na quantidade de energia que
existe em nossa galáxia. Nos dão informações sobre como as estrelas maiores
morrem", disse à BBC Mundo o professor-associado Ignacio Taboada, do
Instituto de Tecnologia da Georgia, nos Estados Unidos, e coordenador científico
do projeto.
Estudar
estes raios para descobrir sua trajetória, massa, energia e, acima de tudo, sua
origem, vai ajudar os astrônomos a entender melhor o Universo, sua estrutura,
composição e processos.
Os
raios cósmicos são partículas subatômicas que chegam de todas as partes e têm
uma radiação muito alta. E é muito difícil estudá-los justamente porque eles
chegam de todas as partes: é complicado traçar sua trajetória.
A
atmosfera da Terra nos protege desses raios e os torna praticamente
inofensivos. Mas aprender a nos proteger deles é fundamental para uma futura
viagem tripulada à Marte, por exemplo.
"É
importante entendê-los porque são eles que limitam a quantidade de tempo que
(os humanos) podem passar no espaço", disse Taboada.
Aliado
A
ciência conta com aliados no espaço: os raios-gama, que também são
subpartículas de luz com 1 bilhão de vezes mais energia que a da luz visível.
"Há
teorias que indicam que, se uma fonte produz raios cósmicos, também deve
produzir raios-gama simultaneamente", explicou Taboada. Sendo assim,
afirmou, buscar a fonte de raios-gama, a princípio, possibilita a busca da
fonte dos raios cósmicos.
E
é aí que entram em ação as centenas de tanques com quase 190 mil litros de água
em cada um: eles funcionam como uma câmera que detecta as partículas quando
estas passam através deles.
"Quando
se tem uma partícula de elétron em um tanque de água, ela viaja muito rápido,
quase na velocidade da luz", afirmou Taboada.
Esse
processo é captado pelos sensores óticos presentes nos tanques. E quanto mais
alto estes dispositivos estiverem instalados, maior a quantidade de partículas
de raios-gama que podem ser captadas.
Os raios cósmicos se chocam contra a atmosfera terrestre e suas
partículas viajam na velocidade da luz
O Parque Nacional Pico Orizaba, onde
ficam o vulcão e os tanques, não apenas tem as condições geográficas ideais,
mas também as melhores condições econômicas.
"O México é um país com muitas
montanhas de grande altitude com acesso relativamente fácil. Poderíamos ter ido
para o Chile, onde há terrenos mais elevados, mas o custo de produção também
teria sido maior", disse o cientista venezuelano.
Foram necessários quatro anos de
construção até o laboratório iniciar seu funcionamento, em abril de 2015.
Desde então ele já detectou 40 fontes
de raios-gama, nove delas nunca vistas antes. "Ao passar através dos
tanques do HAWC, estas partículas produzem um pouco de luz que nos permite
fazer uma fotografia desta cascata atmosférica de partículas que vai chegando
ao solo."
Quando esta cascata atmosférica passa
pelo detector, alguns dos tanques de água verão a luz antes que outros, o que
permite saber qual a sua direção.
"O crucial em astronomia é poder
dizer: 'Lá em cima existe algo, (indo) nesta direção'. Se não pudermos detectar
a direção, não há astronomia", afirmou Taboada.
Energia
Maioria das partículas
detectadas no México tem a mesma energia que as produzidas pelo Grande Colisor
de Hádrons
O HAWC pode detectar os raios cósmicos
exatamente da mesma forma.
Estes detectores estão traçando um
mapa de alta energia para determinar a fonte dos raios cósmicos.
Para se ter uma ideia da quantidade
de energia envolvida, o site Techinsinder explica que a maioria das partículas
detectadas pelo HAWC tem a mesma energia que as produzidas pelo Grande Colisor
de Hádrons, acelerador de partículas gigantesco que fica na fronteira entre a
França e a Suíça.
"Mas algumas delas podem ser até
sete vezes mais energéticas e poderosas do que qualquer coisa que tenha sido
criada na Terra", afirmou Taboada.
Quanto mais tempo esse detector
estiver funcionando, maior será a energia que ele vai capturar.
E isso é o que torna o centro HAWC um
lugar único: diferente de outros detectores de raios-gama, que só funcionam na
escuridão ou durante a lua nova, esse observatório funciona 24 horas por dia e
todos os dias, o que permite que ele espie todo o céu ao seu alcance.
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