Artes visuais
Publicado por Mônica Franco,
é brasileira
e balzaquiana, paulista de nascença e paulistana de coração. Formada em Artes e
apaixonada por todas as suas linguagens. Ama cinema e fotografia, café e papo
bom. Gosta do velho e do novo. Quer desbravar lugares. Quer desbravar-se. Pelas
letras já passeou por algumas prosas e participa do projeto Comunidade do Conto
na cidade de Suzano, desenvolvido pela Associação Cultural Literatura no
Brasil, que reúne mensalmente contistas para estudo e produção de contos. Tem
textos publicados em antologias literárias e fanzines. Prefere acreditar nas
pessoas e na coletividade. E concorda com Ferreira Gullar : "a arte existe
porque a vida não basta".
Se você já passou pela
situação de visitar uma exposição e contemplar uma parede completamente vazia e
pensar : "cadê?" ou se deparar com um único objeto minúsculo em meio
a uma sala enorme e olhar de soslaio para ver se tem mais alguém
"boiando" , ou ainda se deseja fazer parte do incrível mundo da Arte
Contemporânea, porém desacompanhado do sentimento de estar numa festa onde não
tem ninguém da sua turma ou vá lá qualquer humano que fale a sua língua, quem
sabe esse texto possa te ajudar.
Na palavra Arte mora um verdadeiro oceano de
significados e concepções. Não é fácil emergir desse mergulho com respostas na
ponta da língua, seja lá qual for nossa intimidade com o assunto.
E quando se passa na Arte do agora, nosso
tempo, o fundo desse mar pode ser ainda mais profundo.
Não existe outra época em que os ânimos ficam
mais acirrados em discutir até que ponto isso ou aquilo é Arte como quando na
época das Bienais. A de São Paulo, no Brasil, inspirada na de Veneza, completa
65 anos e chegou à sua 32ª edição em 2016. Uma Bienal de Artes, em função de
suas características próprias de apresentação, pode funcionar como uma boa
oportunidade para deixar de lado aquela desconfiança da arte de hoje e se jogar
sem tanto receio.
A insegurança quanto a matéria que apresenta
ao nosso olhar (ou quando muito a total ausência de) pode gerar um sentimento
de incompreensão e soar desconfortável. Aquele certo receio de deixar os
sapatos de fora para entrar em uma instalação, por exemplo, tem um significado
para além do gesto. São novos modos ao qual não estávamos acostumados ao
passear pelos espaços de nossos velhos e queridos conhecidos. Pois é preciso se
despir um pouco do que vai dentro de nós para se sensibilizar com esse tipo de
nova arte. Feito esvaziar uma bexiga para entrar ar outra vez.
Pois as fronteiras da Arte estão se alargando
numa aparentemente elasticidade sem fim, e lá estamos eu e você, vagando por
uma gigante e nova galeria, sentindo o toc-toc dos próprios
pés no chão, muitas vezes sem saber em que ponto parar porque até agora não
achamos. Ainda não topamos com A ARTE. E se tal encontro ainda não se deu é
porque toda experiência estética tem várias pontas e uma delas é o que a gente
carrega na nossa bagagem. O que é feio ou bonito? O que faz ou não faz sentido?
Esse "pré-achismo" pessoal influencia diretamente na relação
arte-espectador. Acima de qualquer tipo de conhecimento prévio, são nossas
experiências anteriores que sinalizam para o nosso cérebro se aquilo que nossos
sentidos estão percebendo é agradável ou não, belo ou não, interessante ou não.
Uma Bienal de Artes costuma ter um único
tema, muitos artistas, diversos países. Sim, muitas fronteiras. Para despertar
todo tipo de sentimento: afirmação, choque, escárnio, respeito e outros cem
mais. Para o protesto, como quando na famosa "Bienal do Vazio",
apelido gravado para a posteridade da 28ª Bienal de São Paulo, onde foi
apresentado todo um andar sem obras, em alusão a uma possível crise da arte.
Fez muito barulho com direito a várias intervenções nas tais paredes nuas. Ou
quando Nuno Ramos, em 2010, apresentou três urubus vivos na instalação
"Bandeira Branca", só para ficar num exemplo mais famoso.
Controverso, no mínimo.
Mas não é caso de desanimar. Munidos de
algumas pistas, é possível seguir o mapa da Arte Contemporânea com mais coragem
e determinação de "se encontrar". Lá vai elas:
1) Desapegue.
É preciso soltar algumas ideias das mãos.
Lembra da bexiga? Seguindo a mesma toada, pensemos em balões de gás cheio de
nossas concepções, gostos, verdades. Abra a mão e tente soltar pelo menos
alguns desses balões. Fazendo isso poderá ser mais leve entender que
2) O conceito é mais importante que o objeto.
Arte conceitual é o que nutre praticamente
qualquer manifestação artística contemporânea. A ideia e o seu processo é mais
importante que a matéria final. Não esqueça disso. Sério, é importantíssimo. E
talvez seja nesse terreno que mora a principal pedra no sapato da fruição desse
tipo de arte. Nem sempre nós sabemos "qual é a do cara". Por isso
3) Seja curioso.
Investigue. Antes, durante e depois de
visitar uma exposição. E já nela, deixe seu corpo livre para escalar as
múltiplas paredes sensoriais. Vale quase tudo: abaixar, virar o pescoço,
cheirar (respeitando o "pode e não pode" de cada obra, lógico). Posso
tocar? Se não tiver certeza, pergunte. Seja meio desavergonhado. Permita-se
fazer caretas. Faça anotações aleatórias. Tenha espírito de aventura e curiosidade
de detetive. Difícil fazer isso? É porque talvez seja melhor que você
4) Vá só.
São muitas as vantagens. É importante gostar
da própria companhia e de conversar consigo mesmo, num processo investigativo
que no geral não vai ocorrer se você estiver com alguém do lado, seja lá qual
for o seu nível de intimidade com esse outro ser que lhe acompanha. Sozinho
você pode fazer o percurso que lhe der na telha, e ficará mais à vontade para
interagir com as outras pessoas ao redor, nem que seja para soltar um
"sabe me dizer se aqui eu posso sentar?". Mas a melhor vantagem é não
ter que se preocupar com o "que" e "quando" comentar . Para
iniciados e desconfiados em geral isso será um tremendo alívio. Nada pior do
que ficar com um comentário entalado na garganta no medo de soar bobo. Pode ser
uma grande sacada que só você percebeu, mas e aquela vergonha de dizer? É
possível sentir-se mais encorajado
5) Prestando atenção naquele arte-educador
com um turma de crianças.
É pouco provável que você não cruze com um grupo
desses. Se acontecer "cole" um pouco neles. A linguagem que o
educador usará dificilmente vai ser a mesma que ele usaria para falar com você,
e acredite, isso vai fazer diferença. Tudo vai parecer mais leve e crianças são
extraordinárias. Um comentário qualquer e sincero de uma delas é capaz de tirar
duas ou três nuvens do nosso olhar.
E assim, um pouco mais livres de nossos
pré-conceitos, um pouco mais desnudos, que a gente deixa se vestir da nova
Arte. Sem (menos) insegurança.
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