Literatura: artigo
Publicado por Felipe Azevedo
É quase
jornalista evita amizade com quem fala mais do que escuta. Escreve e mantém o
blog blocodenota.com.
A verdade é que eu tenho
medo. Medo de não ser um bom jornalista, medo de não agradar, medo do chefe, da
hora! Tenho medo do final de semana, de não ser bom o bastante, da vida e de
não conseguir terminar esse texto. Mas o maior medo, aquele que mais me passa o
calafrio, é o medo de não saber o meu propósito.
Cá estou eu, no futuro. Pouco tempo atrás eu
nem poderia imaginar que o relógio correria nas horas e o que eu pensei estar
tão distante agora, assim, de súbito, chegou. A gente sempre quer ser
responsável; quando começamos a entender um tantinho da vida, quando nasce o
primeiro pelinho no rosto, o coração explode e o mundo parece tão pequeno
quanto o nosso quarto. E é, só que é como outras pessoas dividissem a cama com
você.
Quando olho para trás, me vejo numa juventude
feliz, bem aproveitada. Aqueles dias eram, para mim, a preparação de uma vida
como homem adulto, cheio de compromissos e decisões dificílimas a cada dia.
Acordava e dormia num susto, as 24 horas que nos separam entre um sol e outro
passavam sem pestanejar e eu poderia facilmente nem perceber que, enfim, tinha
que voltar para casa.
A vida adulta chega mesmo sem convite. Não
estou falando aqui que preferia antes, que queria que o tempo voltasse e tudo
permanecesse tão simples quanto era. Não. O lugar do passado é na memória.
Acontece que não veio ninguém me avisar que chegou o dia: sou adulto, tenho que
correr atrás se quiser “chegar lá”. Acontece que eu não faço tanta ideia assim
onde é “lá”, é tudo muito confuso.
Vestibular, faculdade, trabalhos, novos
amigos, artigos, TCC, mestrado? Aqui vai um contexto: sempre me imaginei
“chegando lá” mas não achei que fosse assim tão possível. Minha vida agora
aponta para o fim da graduação, comecei a rascunhar o trabalho que conclui o
curso e, em breve, terei nas mãos um papel enrolado num tubo, um pedacinho do
que um dia foi árvore e que vai ser nas minhas costas o peso de uma palmeira
velha.
Formado, e agora? Não faço a mínima ideia.
Poderia facilmente esquecer de tudo, deixar de lado e me preocupar apenas em
não me preocupar com nada. Mas, aparentemente a vida nos prepara para ver no
sucesso o avanço de tudo, para sentir nas conquistas o sabor de ter vencido.
Que seja, então.
A verdade é que eu tenho medo. Medo de não
ser um bom jornalista, medo de não agradar, medo do chefe, da hora! Tenho medo
do final de semana, de não ser bom o bastante, da vida e de não conseguir
terminar esse texto. Mas o maior medo, aquele que mais me passa o calafrio, é o
medo de não saber o meu propósito. O que eu faço se eu não sei o por quê?
É aí que olho para trás, revejo toda minha
trajetória até aqui. Pesquisando autores, fichando livros e revirando teses,
vejo que o único bem indivisível que eu tenho é a minha vida e que ela é tão
única quanto curta. Imagina só desperdiçar tudo isso? A notícia boa é que uma
parte considerável daquilo que vai determinar o meu sucesso depende de mim; a
má notícia é essa também: eu sou o dono do que me acontecer. Não é fácil. Texto
publicado originalmente em blocodenota.com
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