Vikram
Barhat
BBC
Charutos são um dos produtos mais conhecidos de Cuba
Em uma era de desaparecimento de locais para fumantes e de imenso lobby
antitabagista, os charutos continuam contando com colecionadores ávidos. Unidos
em seu gosto por Havanas enrolados à mão, aficionados não os consideram um
produto, mas sim obras de arte.
Dominique
Gyselinck, por exemplo, é uma devota. A belga fumou charuto pela primeira vez
em 2001, com o marido, mas foi apenas 10 anos mais tarde que ela se tornou uma
colecionadora ávida.
Desde
então, tem comprado apenas séries especiais de produções cubanas - consideradas
as melhores do mundo. Sua coleção tem hoje pelo menos 150 mil unidades e inclui
alguns dos mais desejados tipos de charutos.
A
belga, que é dona de cinco lojas de charutos em seu país, investiu mais de 3
milhões de euros (R$ 10,8 milhões) na coleção, que inclui exemplares enrolados
antes do embargo econômico a Cuba, decretado pelo então presidente dos Estados
Unidos, John Kennedy, em 1962.
Graças
a itens raros como um Cohiba Behike de 2006, com valor de 5 mil euros (R$ 18
mil), seu arsenal de raridades agora está avaliado em mais de 5 milhões de
euros (R$ 18 milhões), segundo a empresária.
Gyselinck
somente compra marcas cubanas que considera mais exclusivas e vê nos charutos
do país algo tão colecionável como vinhos franceses.
Charutos podem ser vendidos por milhares de dólares em leilões
E,
segundo especialistas, o apelo está aumentando. "Antes, os charutos eram
um produto direcionado para consumidores mais requintados", diz Rocky
Patel, dono de uma empresa produtora nos EUA.
"Mas
hoje temos fumantes de todos os tipos interessados no produto."
Novos mercados
A
democratização abriu novas fronteiras. Os EUA não são mais o maior mercado,
tendo sido ultrapassados por países asiáticos como China e Japão.
"Os
principais colecionadores hoje estão na Europa e na Ásia", explica
Mitchell Orchant, diretor C.Gars Ltd, uma empresa londrina que vende charutos
cubanos.
As
limitações do produto em Cuba (o embargo ainda está em vigor, apesar da
aproximação com os EUA) e a escassez de edições limitadas de charutos fazem com
que especialistas como Orchant esperem um crescimento estável do mercado de
colecionadores.
E
mesmo o fim do embargo não deve mudar isso. "Quando isso acontecer, a
demanda (pelos charutos) vai crescer em curto prazo. A oferta pode não ser
suficiente para lidar com isso e os preços vão subir."
Guimba de charuto fumado por Churchill foi vendido por US$ 6 mil
Mas
há um risco: sem o embargo, o efeito "fruto proibido" dos charutos
cubanos pode se dissipar.
É
o diz que Danny Carroll, um colecionado aficionado e fundador do Bombay Cigar
Club, um clube de degustadores em Mumbai, na Índia.
"Quando
os fumantes perceberem que os cubanos estão décadas defasados em suas técnicas
de produção e que o produto é altamente inconsistente, os charutos cubanos
perderão mercado rapidamente."
Charutos
de qualidade também são produzidos em outros países latino-americanos, como
Honduras, Nicarágua, República Dominicana e mesmo o Peru.
Orchant
se refere a esses países como o "novo mundo" do mercado, referindo-se
à nomenclatura dada pelo setor de vinhos à bebida vinda da Nova Zelândia e da
Austrália.
"Não
apenas a qualidade do tabaco e sua apresentação são magníficas. O controle de
qualidade nesses locais é legendário. Cada cigarro é perfeitamente
produzido."
Raro, logo caro
Assim
como vinhos finos, os charutos premium valorizam por duas razões. Eles se
tornam raros à medida em que são consumidos e, se estocados corretamente, ficam
com um gosto ainda melhor com o tempo.
Logo,
edições limitadas e envelhecidas sob as condições ideais são as mais cobiçadas.
Em 2007, marca Gurkha vendeu cinco caixas de uma edição limitada dos charutos His
Majesty's Reserve, cujo tabaco recebe uma infusão do exclusivo conhaque Louis
XIII, por nada que menos que US$ 125 mil por caixa, o equivalente a R$ 403 mil
(cada uma delas contendo 100 charutos).
O renomadíssimo charuto Gurkha
"Em
2012, uma dessas caixas entrou para o Livro Guinness dos Recordes como a mais
cara de todos os tempos, pois foi vendida por US$ 658 mil (R$ 2,1 milhões) em
um leilão", conta Carroll.
Enrolados
à mão em fábricas em Honduras e Nicarágua, os Gurkhas são considerados os
"Rolls-Royces" do mundo dos charutos e têm um festival de
celebridades como usuários - os atores Matthew Conaughey e Brad Pitt, bem como
o ex-presidente americano Bill Clinton, por exemplo.
Mas
as marcas cubanas ainda mandam no mercado. Edições limitadas de Dunhill,
Davidoff, Cohiba, Partagas e Montecristo estão entre as mais valorizadas.
Fama e luxo
As
celebridades, por sinal, também ajudaram a tornar os produtos mais populares -
e de maneiras nem sempre previsíveis. Em 2010, um charuto fumado pela metade
pelo ex-premiê britânico Winston Churchill, por exemplo, foi vendido em leilão
por US$ 6 mil (R$ 19,3 mil).
Charutos
caros e raros não são encontrados em tabacarias comuns ou no free shop. E para
disputar a preferência da clientela mais abastada, fabricantes e vendedores
mimam seus clientes a ponto de oferecer visitas às fábricas para obter edições
personalizadas, o que inclui sabores customizados.
"O
maior luxo de um colecionador é ter o charuto que ele mesmo criou",
explica Carroll.
Desembolsar
grandes quantidades de dinheiro pelo produto em si é apenas parte da história,
porém. Para preservar seu valor, um charuto requer condições especiais de
preservação.
Nada
estraga um charuto mais rápido do que calor e umidade. O produto precisa ser
colocado em um receptáculo climatizado, que não custa menos de US$ 500 (R$ 1,6
mil), em condições de umidade do ar de 67% a 72% e com uma temperatura que não
ultrapasse os 23°C graus.
Celebridades como o ator Matthew McConnaughey ajudam a aumentar o
apelo dos charutos
"Se
o charuto ficar muito seco, terá o gosto muito amargo. Se estiver muito úmido,
vai queimar de forma inconsistente e perder valor", explica Patel.
Muitos
comerciantes de charutos hoje oferecem o armazenamento de coleções para os
clientes e isso serve também como garantia de que o produto foi guardado
corretamente, garantindo um bom preço de venda.
Esse
serviço custa cerca de US$ 460 (R$ 1,5 mil) por ano, incluindo seguro, e
permite, segundo Orchant, que clientes armazenem até 300 charutos.
Mas
o principal conselho sobre preservação de valor vem de Gyselinck.
"Não
os fume".
Ex-presidente americano Bill Clinton também ficou conhecido por
apreço por charutos
Charutos,
então, não são um investimento comum, já que é preciso conhecimento
especializado sobre compra, armazenamento e venda. "A não ser que você
saiba o que está fazendo, as chances de perder dinheiro são grandes. Melhor é
apenas curtir sua degustação" diz Carroll.
Mas
é possível unir paixão e investimento. Muitos compradores de charutos gostam de
adquirir duas caixas de um produto. Uma para fumar e outra para guardar para
revenda. "Em muitos casos, a segunda caixa acaba pagando por ambas na hora
da venda", finaliza Patel.
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