Verdade X
Mentira
A
palavra verdade pode
ter vários significados, desde “ser o caso”, “estar de acordo com os fatos ou a
realidade”, ou ainda ser fiel às origens ou a um padrão. Usos mais antigos
abrangiam o sentido de fidelidade, constância ou sinceridade em atos, palavras
e caráter. Assim, "a verdade" pode significar o que é real ou
possivelmente real dentro de um sistema de valores. Esta
qualificação implica o imaginário, a realidade e a ficção, questões centrais tanto em antropologia cultural, artes, filosofia e a própria razão. Como não há um consenso entre filósofos e acadêmicos, várias teorias e
visões a cerca da verdade existem e continuam sendo debatidas.
Filosofia
O primeiro problema para os filósofos é estabelecer
que tipo de coisa é verdadeira ou falsa, qual
o portador da verdade (em inglês truth-bearer). Depois há o
problema de se explicar o que torna verdadeiro ou falso o portador da verdade.
Há teorias robustas que tratam a verdade como uma propriedade. E há teorias
deflacionárias, para as quais a verdade é apenas uma ferramenta conveniente da
nossa linguagem. Desenvolvimentos da lógica formal trazem alguma luz sobre o modo como nos
ocupamos da verdade nas linguagens naturais e em linguagens formais.
Para Nietzsche, por exemplo, a verdade é um ponto de vista. Ele
não define nem aceita definição da verdade, porque não se pode alcançar
uma certeza sobre a definição do oposto da mentira. Daí
seu texto "como filosofar com o martelo".[1]
Mas para a filosofia de René Descartes a certeza é o critério da verdade.
Quem concorda sinceramente com uma frase está se
comprometendo com a verdade da frase. A filosofia estuda a verdade de
diversas maneiras. A metafísica se ocupa da natureza da verdade. A lógica se
ocupa da preservação da verdade. A epistemologia se ocupa do conhecimento da verdade.
Há ainda o problema epistemológico do conhecimento da verdade. O modo como sabemos que estamos
com dor de dente é diferente do modo como sabemos que o livro está sobre a
mesa. A dor de dente é subjetiva, talvez determinada pela introspecção. O fato do livro estar sobre a mesa é objetivo,
determinado pela percepção, por observações que podem ser partilhadas com
outras pessoas, por raciocínios e cálculos. Há ainda a distinção entre verdades relativas à
posição de alguém e verdades absolutas.
Os filósofos analíticos apontam que a visão relativista é
facilmente refutável.
A refutação do relativismo, segundo Tomás de Aquino, baseia-se no fato de que é difícil para
alguém declarar o relativismo sem se colocar fora ou acima da declaração. Isso
acontece porque, se uma pessoa declara que "todas as verdades são
relativas", aparece a dúvida se essa afirmação é ou não é relativa. Se
a declaração não é relativa, então, ela se auto-refuta, pois é uma verdade
sobre relativismo que não é relativa. Se a declaração não é relativa,
conclui-se que a declaração "todas as verdades são relativas" é
uma declaração falsa.
Por outro lado, se todas as verdades são relativas,
incluindo a afirmação de que "todas as verdades são
relativas", então, o interlocutor não é obrigado a crer na afirmação.
Ele é livre para acreditar, inclusive, que "todas as verdades são
absolutas"
O Portador da Verdade
Alguns filósofos chamam muitas entidades, que de
alguma forma podemos afirmar que ela é verdadeira ou falsa, de portador
da verdade. Assim, portadores da verdade podem ser pessoas, coisas,
sentenças assertivas, proposições ou crenças.
Tipos de Verdade
A verdade é uma interpretação mental da realidade transmitida
pelos sentidos, confirmada por outros seres humanos com cérebros normais e
despidos de preconceitos (desejo de crer que algo seja verdade), e confirmada
por equações matemáticas e linguísticas formando um modelo capaz de prever
acontecimentos futuros diante das mesmas coordenadas.
Verdade material é a adequação
entre o que é e o que é dito.
Verdade formal é a validade de uma conclusão à qual se chega seguindo as
regras de inferência a partir de postulados e axiomas aceitos.
É uma verdade analítica a frase na
qual o predicado está contido no sujeito. Por exemplo: "Todos os porcos
são mamíferos".
É uma verdade sintética a frase na
qual o predicado não está contido no sujeito.[4]
Sofisma é todo tipo de discurso que se baseia num
antecedente falso tentando chegar a uma conclusão lógica válida.
Teorias
metafísicas da verdade
Verdade
como correspondência ou adequação
A teoria correspondentista da verdade é encontrada
no aristotelismo (incluindo o tomismo). De acordo com essa concepção, a verdade é
a adequação entre aquilo que se dá na realidade e aquilo que se dá na mente.
A verdade como correspondência foi definida
por Aristóteles no tratado Da Interpretação, no
qual ele analisa a formação das frases suscetíveis de serem verdadeiras ou
falsas. Uma frase é verdadeira quando diz que o que é, é, ou que o que não é,
não é. Uma frase é falsa quando diz que o que é, não é, ou que o que não é, é.
O problema dessa concepção é entender o que
significa correspondência. É um tipo de semelhança entre
o que é e o que é dito? Mas, que tipo de semelhança pode haver entre as palavras e as coisas?
O método científico, por exemplo, estabelece procedimentos para
se realizar essa correspondência. Nesse caso um juízo de verdade V é então
legitimado, de forma tal que a comunidade de cientistas (que partilham entre si
conhecimento e experiências) aceita/certifica como verdadeira a proposição P,
oriunda da correspondência realizada entre P(V) e a "realidade
empírica", via método científico.
Verdade
por correspondência
O conceito de verdade como correspondência é o mais
antigo e divulgado. Pressuposto por muitas das escolas pré-socráticas, foi pela primeira vez, explicitamente
formulado por Platão com a definição do discurso verdadeiro,
no diálogo Crátilo: "Verdadeiro é o discurso que diz as coisas
como são; falso é aquele que as diz como não são." (Crtas.,385b;v.Sof.,262
e; Fil.,37c). Por sua vez Aristóteles dizia: "Negar aquilo que é, e
afirmar aquilo que não é, é falso, enquanto afirmar o que é e negar o que não
é, é a verdade." (Met.,IV,7,1011b 26 e segs.;v.V,29.1024b 25).
Aristóteles enunciava também os dois teoremas fundamentais deste conceito da verdade. O
primeiro é que a verdade está no pensamento ou na linguagem, não no ser ou na coisa
(Met.,VI,4,1027 b 25). O segundo é que a medida da verdade é o ser ou a coisa,
não o pensamento ou o discurso: de modo que uma coisa não é branca porque se
afirma com verdade que é assim; mas se afirma com verdade que é assim, porque
ela é branca. (Met., IX, 10,1051 b 5).
Desmenção
De acordo com a teoria desmencionista da verdade,
para chegarmos à verdade de uma proposição basta tirarmos as aspas da mesma. Por
exemplo, a proposição "A neve é branca" é verdadeira se, e somente
se, a neve é branca.
Deflacionismo
De acordo com o deflacionismo, o predicado de
segunda ordem "É verdade que …" não acrescenta nada à frase de
primeira ordem à qual ele é aplicado. Por exemplo, não há nenhuma diferença
lógica entre a frase "É verdade que a água é molhada" e a frase
"A água é molhada".
Desvelamento
Segundo esta concepção, verdade é desvelamento.
Conhecer a verdade é deixar o ser se manifestar. É estar aberto para o ser. Nas
versões modernas do desvelamento, mais pragmáticas, a verdade é
algo "sempre em construção", e que portanto sempre vai possuir
"valor verdade" inferior a 100%.
Posição típica de Martin Heidegger (em Ser e tempo, parágrafo 44, e na conferência "A essência da verdade").
Pragmatismo
Para o pragmatismo a verdade é o valor de
uma coisa. Em Habermas a verdade se confunde com a
validade intersubjetiva, ou consenso. Se uma proposição não é submetida ao crivo da
comunidade, nada se pode dizer sobre sua falsidade.
No Empirismo o pragmatismo não se opõe
à correspondência, mas se funde a ela: a "verdade
empírica" como correspondência obtida por consenso na
comunidade científica.
Teorias Formais
A lógica se
preocupa com os padrões de razão que
podem nos ajudar a dizer se uma proposição é verdadeira ou não. No entanto, a lógica não
lida com a verdade no sentido absoluto, como a metafísica. Os lógicos usam linguagem formal para expressar as verdades. Assim só existe
verdade em alguma interpretação lógica ou dentro de algum sistema lógico.
Uma verdade lógica (também chamada verdade
analítica ou verdade necessária) é uma afirmação que é verdadeira em todos os
mundos possíveis ou segundo todas as possíveis interpretações, em
contraste com um fato (também chamado proposição sintética ou uma contingência) que só é verdadeiro neste mundo, tal
como se desenvolveu historicamente. Uma proposição, como "Se p e q, então
p", é considerada uma verdade lógica por causa do significado dos símbolos e palavras que a constituem e não por causa de
qualquer fato de qualquer mundo particular. Verdades lógicas são tais que não
poderiam ser falsas.
Verdade
em matemática
Existem duas abordagens principais para a verdade
em matemática: o modelo da teoria da verdade e a teoria da prova da verdade.
Com o desenvolvimento da álgebra booliana no século XIX, modelos matemáticos de
lógica começaram a tratar a "verdade", também representada como
"V" ou "1", como uma constante arbitrária.
"Falsidade" é também uma constante arbitrária que pode ser
representado por "F" ou "0". Em lógica proposicional, esses símbolos podem ser manipulados de
acordo com um conjunto de axiomas e regras de inferência, muitas vezes dadas na forma de tabelas verdade.
Além disso, desde pelo menos a época do programa de Hilbert, na virada do século XX, até a prova
dos teoremas da incompletude de Gödel e o desenvolvimento da tese de Church-Turing, no início daquele século, afirmações
verdadeiras em matemática foram geralmente assumidas como demonstráveis em
um sistema axiomático formal.
Os trabalhos de Gödel, Turing e
outros abalaram este pressuposto, com o desenvolvimento de proposições que são
verdadeiras, mas não podem ser comprovadas dentro do sistema. Dois
exemplos podem ser encontrados nos Problemas de Hilbert. O trabalho sobre os 10 problemas de Hilbert
levou, no final do século XX, à construção de equações diofantinas específicas, para as quais é
indecidível se têm uma solução, ou, se tiverem, se teriam um número finito ou
infinito de soluções. Mais fundamentalmente, o primeiro problema de Hilbert estava na hipótese do continuum. Gödel e Paul Cohen mostraram que essa hipótese não pode
ser provada ou refutada usando os axiomas padrão da teoria dos conjuntos. Na opinião de alguns é, então,
igualmente razoável tomar tanto a hipótese do continuam quanto a sua negação, como um novo
axioma.
Teoria
semântica da verdade
O lógico e filósofo Alfred Tarski desenvolveu a teoria das linguagens formais
(como lógica formal). Aqui, ele a restringiu desta forma:
nenhuma língua poderia conter seu próprio predicado de verdade - ou seja, a
expressão "é verdade" somente seria aplicável a sentenças em outro
idioma. A este idioma ele chamou língua objeto - o idioma
sobre o qual se fala. O motivo para sua restrição era que as línguas que contêm
seu próprio predicado de verdade conteriam frases paradoxais como "Esta sentença não é
verdade". Tais sentenças podem, porém, conter um predicado de verdade
aplicável a sentenças em outro idioma.
Fonte:
Wikipédia
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