quinta-feira, 6 de outubro de 2016

 Literatura: artigo







Colaboração de Fernando Alcoforado*


Desde a convenção republicana que o sagrou candidato à Casa Branca, Donald Trump faz uma campanha baseada no medo. Donald Trump prometeu construir um enorme muro na fronteira com o México para parar a imigração ilegal, parar as gangues e a violência e impedir que as drogas entrem nas comunidades norte-americanas. Como todo político populista de tendência fascista, Trump apela para a desesperança que muitos eleitores americanos dizem sentir. Trump incentiva seus eleitores a sentirem medo. No discurso na convenção republicana, Trump apresentou um cenário de caos e trevas, como se os Estados Unidos estivessem em uma situação de terra arrasada, para se apresentar como a solução para essa desordem. Disse que “tristemente, o sonho americano está morto” e que só ele poderá restaurá-lo.




As teses de Trump se apoiam em pesquisas que apontam que dois terços da população dos Estados Unidos não confiam no governo e acreditam que o país está no caminho errado. Quase 70% dos norte-americanos afirmam nas pesquisas temer o terrorismo ou a criminalidade, ou as duas coisas. Foi baseado neste fato que a campanha de Trump cunhou a ideia de que ele era “uma nova manhã na América”, isto é, ele era a solução para os problemas dos Estados Unidos. Donald Trump afirma que quando fizer seu juramento presidencial no ano que vem, vai restaurar a lei e a ordem. Para se posicionar como o candidato da lei e da ordem, Trump apresenta histórias de pavor e incentiva seus eleitores a sentirem medo.
Razões eminentemente políticas também ajudam a explicar o fenômeno Trump. Pela primeira vez na bicentenária história do bipartidarismo nos Estados Unidos, tanto republicanos quanto democratas enfrentam um cenário inédito: a frustração dos americanos com a classe política que levou à ascensão de populistas. Em 2014, um levantamento do instituto Rasmussen mostrou que 65% dos americanos dizem que nenhum dos dois principais partidos “representa o povo americano” e que estão insatisfeitos “com o sistema de governo e sua efetividade”.
Trump é a face mais visível de um fenômeno mundial: a ascensão do populismo nacionalista e xenófobo. Na Europa, partidos de extrema-direita ganharam terreno em países importantes como Áustria, Polônia e Suécia. Nos países da Europa Ocidental, que historicamente vivem de uma alternância de poder entre dois partidos, uma série de movimentos nacionalistas se tornou a terceira força política: caso do Alternativa para a Alemanha, da Frente Nacional da França e do Movimento Cinco Estrelas, da Itália. Sem contar os partidos e movimentos populistas de esquerda que ganharam força em países europeus e até nos Estados Unidos, como mostra a ascensão de Bernie Sanders no Partido Democrata.
O crescimento da desigualdade nas sociedades ocidentais com o processo de globalização está no âmago dessa insurgência, como mostrou o resultado do referendo sobre a saída do reino Unido da União Europeia, a Brexit. A Brexit é um sintoma de uma reação nacionalista e populista no Ocidente industrializado contra a globalização, o livre-comércio, a migração do trabalho, as políticas orientadas para o mercado, as autoridades supranacionais e, mesmo, as mudanças tecnológicas porque a globalização reduziu salários e ceifou empregos em economias mais ricas, como Inglaterra e Estados Unidos.
A ascensão do populismo nacionalista e xenófobo é a consequência desse quadro da pauperização da classe média em países desenvolvidos. Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia previu que a estagnação econômica da classe média teria graves consequências políticas. Esse dia agora chegou. As famílias das classes trabalhadoras e das classes médias não têm se beneficiado do crescimento econômico. Sabem que os bancos causaram a crise de 2008, mas veem bilhões de dólares e euros dos governos destinados aos bancos e pouco para salvar suas casas e seus empregos. Com a renda média real para um trabalhador masculino em tempo integral nos Estados Unidos menor do que há quatro décadas, um eleitorado irritado não pode ser uma surpresa.
Diante desta situação acima descrita, não é mais possível desprezar as chances de Donald Trump vencer a disputa contra a democrata Hillary Clinton e se tornar o próximo presidente dos Estados Unidos. O mapa eleitoral americano pode seguir o traçado das últimas eleições. Estados mais democratas, como Califórnia e Nova York, vão votar em Hillary. Estados mais republicanos e conservadores, como Wyoming, Texas e Tennessee, vão votar em Trump. Serão decisivos os estados com histórica falta de preferência partidária, os chamados estados-pêndulo (“swing states”, em inglês, porque votam ora num partido, ora em outro). É o caso de Carolina do Norte, Colorado, Flórida, Iowa, Nevada, New Hampshire, Ohio, Virgínia e Wisconsin, que concentram 111 dos 538 votos do Colégio Eleitoral. Para vencer, Trump precisa vencer na Flórida, Indiana, Ohio e Pensilvânia.
Em nosso artigo O renascimento do fascismo nos Estados Unidos com Donald Trump publicado em 25 de julho de 2016 afirmamos que todas as mensagens de Donald Trump apontavam na direção de que, se for eleito presidente dos Estados Unidos poderá fazer renascer o fascismo na era contemporânea. Esta é também a opinião de analistas do The Economist Intelligence Unit (EIU) que, ao apresentar estudo sobre as ameaças que afetam o mundo, considera a vitória de Donald Trump como uma ameaça em uma lista na qual o maior risco global é a queda súbita da economia chinesa. Os analistas da EUI temem uma guerra comercial se Trump chegar à presidência porque ele é excepcionalmente hostil ao livre comércio, incluindo o Tratado de Livre Comércio da América do Norte.
Além dos analistas da EUI, o vice-chanceler da Alemanha, Sigmar Gabriel, afirmou que o magnata Donald Trump, candidato do Partido Republicano na corrida para presidência norte-americana, representa uma ameaça para a paz, a coesão social e a prosperidade. Sigmar Gabriel classificou Donald Trump de "populista de direita" que, como Marine Le Pen, na França, e Geert Wilders na Holanda, prometem aos eleitores contrários à globalização o retorno a um protegido mercado interno onde a atividade econômica só aconteceria dentro das suas fronteiras. "Donald Trump, Marine Le Pen ou Geert Wilders - todos populistas de direita - não são apenas uma ameaça à paz e à coesão social, mas também ao desenvolvimento econômico", afirmou Sigmar Gabriel, em declarações ao jornal Welt am Sonntag.
É neste contexto que se situam as eleições presidenciais norte-americanas em que se confrontam Hillary Clinton que defende a globalização e a manutenção do equilíbrio de poder entre as grandes potências no plano internacional e Donald Trump que se opõe à globalização e busca a retomada da hegemonia mundial pelos Estados Unidos. Donald Trump, que representa uma reação visando reverter o declínio mundial dos Estados Unidos, adotaria um comportamento político marcado pela preocupação obsessiva contra o declínio econômico, a humilhação e a vitimização do país e na defesa do culto compensatório da unidade e energia nacional, na qual buscaria através da violência redentora e sem controles éticos ou legais objetivos de expansão externa. A atuação de Trump poderia levar ao risco de instabilidade internacional e, consequentemente, de conflagração mundial.

*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo
(Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.





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