quinta-feira, 6 de outubro de 2016

BLUR: ARQUITETURA EM FORMA DE NUVEM

Arquitetura











Publicado por Izabelalima


O Blur Building foi uma experimentação arquitetônica efêmera construída para a Expo 2002, na Suíça, ancorada no lago Neuchâtel, em Yverdon-les-Bains. Os arquitetos Elizabeth Diller e Ricardo Scofidio elaboraram a instalação como uma resposta ao que chamam de arquitetura de alta definição, à saturação causada pelo excesso de estímulos visuais imposto pelo estilo de vida contemporâneo.




© wiki commons - Diller & Scofidio, Blur Building, Yverdon-les-Bains, Switzerland.
“Entrar no Blur é como entrar num meio sem forma, sem características, sem profundidade, sem escala, sem volume, sem superfície e sem dimensões.” - assim explicaram os arquitetos este projeto.
Mas em que consiste um edifício em forma de nuvem? Sua base era uma estrutura metálica com 100 metros de largura, 60 metros de profundidade e 25 metros de altura acima da água.

© Fotografia de Izabela Americano
O efeito de nuvem foi produzido após o estudo minucioso das mais altas tecnologias. A água do próprio lago passava por processo de filtragem para então ser expelida como um nevoeiro através de 31500 aspersores de alta pressão espalhados por toda a estrutura metálica de sustentação da instalação. Todo o sistema era controlado por um computador; a temperatura externa, a humidade e a direção e velocidade do vento eram constantemente verificadas a fim de ajustar automaticamente a pressão da água.
A sensação de estar no Blur era a de não pertencer a nenhuma dimensão. Ali perdia-se a noção de espaço, de profundidade, de altura e de largura. Era como habitar o vazio.
A espessura da nuvem impedia o reconhecimento das pessoas, e essa dificuldade de identificação foi utilizada por Diller e Scofidio para explorar mídias interativas. A capa para a chuva fornecida na entrada do edifício não era somente para a proteção contra a umidade. Antes de entrar na nuvem através da rampa de acesso, as pessoas faziam um pequeno cadastro contendo algumas informações sobre os gostos e desgostos pessoais. Então recebiam a capa de chuva com um hardware embutido, o Lily Pad, composto de alguns sensores e transmissores que continham as informações pessoais do portador fornecidas no momento do cadastro.
Dentro do Blur, quando duas capas de chuva se cruzavam, ocorria troca de informações cadastrais. Quando eram detectadas informações comuns aos portadores, as capas ficavam vermelhas. Quando as informações sobre os gostos pessoais eram predominantemente divergentes, a capa ficava verde. Aqui ficava bem patente uma das características das obras desta empresa: investigar a arquitetura como um campo de relações sociais.
O planejamento para a construção do Blur foi um processo longo. Primeiramente foi construído um protótipo, mas a empresa de engenharia ignorou as especificações fornecidas pelos arquitetos e o modelo falhou. Houve grande pressão para que a instalação não fosse feita.
Foram construídos mais dois protótipos, para testes e melhoria da nuvem. A organização da Expo 2002 ficou realmente convencida de que deveria investir no Blur quando, após um teste, a imprensa passou a especular sobre a obra.
Durante o processo de construção, os responsáveis pela edificação foram notificados pela fiscalização local que seria obrigatória a instalação de sistemas de sprinkler no blur. Eles não haviam notado ainda que tratava-se do maior sistema de sprinkler já construído em toda a história! Ficou então determinado que, enquanto houvesse gente na estrutura, a nuvem teria que estar obrigatoriamente ativada.
Dentro do edifício foi projetado o Angel Bar, onde são servidos inúmeros tipos de água de diversos lugares do mundo. Ali, segundo Diller e Scofidio, o público poderia beber o edifício.
Após a Expo 2002, um livro de autoria dos próprios arquitetos foi publicado com todos os detalhes da edificação, com o nome de “Blur: The Making of Nothing”. Além dos esquemas estruturais e demais detalhes técnicos, no livro estão documentados inclusive os e-mails de comunicação entre as equipes responsáveis pelo edifício.
Diller e Scofidio costumam focar em seus trabalhos mais a natureza dos espaços do que a criação dos mesmos. Suas obras consistem em uma combinação do design com performance, mídias eletrônicas com a teoria cultural e arquitetônica.




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