Arquitetura
O Blur Building foi uma
experimentação arquitetônica efêmera construída para a Expo 2002, na Suíça,
ancorada no lago Neuchâtel, em Yverdon-les-Bains. Os arquitetos Elizabeth
Diller e Ricardo Scofidio elaboraram a instalação como uma resposta ao que
chamam de arquitetura de alta definição, à saturação causada pelo excesso de
estímulos visuais imposto pelo estilo de vida contemporâneo.
© wiki
commons - Diller & Scofidio, Blur Building, Yverdon-les-Bains, Switzerland.
“Entrar no Blur é como entrar num meio sem
forma, sem características, sem profundidade, sem escala, sem volume, sem
superfície e sem dimensões.” - assim explicaram os arquitetos este projeto.
Mas em que consiste um edifício em forma de
nuvem? Sua base era uma estrutura metálica com 100 metros de largura, 60 metros
de profundidade e 25 metros de altura acima da água.
© Fotografia de Izabela Americano
O efeito de nuvem foi produzido após o estudo
minucioso das mais altas tecnologias. A água do próprio lago passava por
processo de filtragem para então ser expelida como um nevoeiro através de 31500
aspersores de alta pressão espalhados por toda a estrutura metálica de
sustentação da instalação. Todo o sistema era controlado por um computador; a
temperatura externa, a humidade e a direção e velocidade do vento eram
constantemente verificadas a fim de ajustar automaticamente a pressão da água.
A sensação de estar no Blur era a de não
pertencer a nenhuma dimensão. Ali perdia-se a noção de espaço, de profundidade,
de altura e de largura. Era como habitar o vazio.
A espessura da nuvem impedia o reconhecimento
das pessoas, e essa dificuldade de identificação foi utilizada por Diller e
Scofidio para explorar mídias interativas. A capa para a chuva fornecida na
entrada do edifício não era somente para a proteção contra a umidade. Antes de
entrar na nuvem através da rampa de acesso, as pessoas faziam um pequeno
cadastro contendo algumas informações sobre os gostos e desgostos pessoais.
Então recebiam a capa de chuva com um hardware embutido, o Lily Pad, composto
de alguns sensores e transmissores que continham as informações pessoais do
portador fornecidas no momento do cadastro.
Dentro do Blur, quando duas capas de chuva se
cruzavam, ocorria troca de informações cadastrais. Quando eram detectadas
informações comuns aos portadores, as capas ficavam vermelhas. Quando as
informações sobre os gostos pessoais eram predominantemente divergentes, a capa
ficava verde. Aqui ficava bem patente uma das características das obras desta
empresa: investigar a arquitetura como um campo de relações sociais.
O planejamento para a construção do Blur foi
um processo longo. Primeiramente foi construído um protótipo, mas a empresa de
engenharia ignorou as especificações fornecidas pelos arquitetos e o modelo
falhou. Houve grande pressão para que a instalação não fosse feita.
Foram construídos mais dois protótipos, para
testes e melhoria da nuvem. A organização da Expo 2002 ficou realmente
convencida de que deveria investir no Blur quando, após um teste, a imprensa
passou a especular sobre a obra.
Durante o processo de construção, os
responsáveis pela edificação foram notificados pela fiscalização local que
seria obrigatória a instalação de sistemas de sprinkler no blur. Eles não
haviam notado ainda que tratava-se do maior sistema de sprinkler já construído
em toda a história! Ficou então determinado que, enquanto houvesse gente na
estrutura, a nuvem teria que estar obrigatoriamente ativada.
Dentro do edifício foi projetado o Angel Bar,
onde são servidos inúmeros tipos de água de diversos lugares do mundo. Ali,
segundo Diller e Scofidio, o público poderia beber o edifício.
Após a Expo 2002, um livro de autoria dos
próprios arquitetos foi publicado com todos os detalhes da edificação, com o
nome de “Blur: The Making of Nothing”. Além dos esquemas estruturais e demais
detalhes técnicos, no livro estão documentados inclusive os e-mails de
comunicação entre as equipes responsáveis pelo edifício.
Diller e Scofidio costumam focar em seus
trabalhos mais a natureza dos espaços do que a criação dos mesmos. Suas obras
consistem em uma combinação do design com performance, mídias eletrônicas com a
teoria cultural e arquitetônica.
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