Astronomia
Publicado por João Pedro
Lobato
A colisão entre galáxias
é um dos fenômenos mais espetaculares da natureza, mas até os vermos em toda a
sua força e beleza foi preciso esperar pelas fotografias do Telescópio Espacial
Hubble. Pelos vistos, o Universo é como um enorme salão de dança, onde algumas
galáxias se divertem num demorado bailado cósmico.
Galáxias NGC 2207 and IC 2163 © NASA, ESA, and The Hubble Heritage Team (STScI)
As estimativas dos astrónomos apontam para
entre 50 a 100 mil milhões o número de galáxias que estão espalhadas pelo nosso
Universo. A Via Láctea é uma delas e contém cerca de 200 mil milhões de
estrelas, mas existem muitas mais que são diferentes, quer mais pequenas, quer
maiores, em espiral (como é o caso da nossa), elípticas ou irregulares. É ao
gosto do freguês.
Tal como os humanos, as galáxias também mudam
ao longo do seu ciclo de vida, muito devido à interação que estabelecem entre
si - patrocinada pela força da gravidade. Sendo assim, as colisões entre
galáxias constituem fenómenos bastante comuns e ao mesmo tempo fantásticos, com
as maiores a engolirem as mais pequenas até se fundirem numa só. Um testemunho
deste "canibalismo galáctico" encontra-se nas imagens que o
Telescópio Espacial Hubble (lançado para a órbita terrestre em 1990) continua a
enviar-nos. Contudo, mais do que imagens de horror, o que vemos são
deslumbrantes bailados e rodopios intensos que nos deixam boquiabertos perante
as maravilhas que o Cosmos alberga.
Galáxias M51
e NGC 5195 © NASA, ESA, S. Beckwith (STScI), and The Hubble Heritage Team
(STScI/AURA)
A galáxia espiral M51, também conhecida como
galáxia "redemoinho", é uma das meninas queridas dos
astrónomos, e as imagens que o Hubble captou deixam perceber a razão do porquê.
O seu aspecto majestoso e rico em pormenores tem o poder de nos tirar o fôlego,
com um par de braços rodopiantes que brilham no escuro, ora em tons de azul,
ora em rosa, como se fizessem parte de um sonho psicodélico. Só que o M51 é bem
real, embora estejamos a olhar para um objeto cósmico que está a 31 milhões de
anos-luz da Terra, o que em quilómetros redunda num número começado por 293...
seguido de mais 18 dígitos. Todavia, não deixa de ser uma distância bastante
curta, tendo em conta as enormes potencialidades do Hubble.
No centro desta galáxia, a amarelo,
resguardam-se as estrelas mais velhas, e a girar em seu redor temos as jovens
estrelas (a azul) acompanhados de uns quantos "bebés" bem grandes, ou
seja, sóis que ainda estão em processo de formação. Aliás, o segredo da M51
está nas suas espirais, as quais se comportam como autênticas fábricas, pois
permitem comprimir as nuvens de gás hidrogénio e criar fornadas de novas
estrelas.
Contudo, um dos elementos fulcrais em toda a
trama esconde-se no lado direito da imagem. Eis a galáxia NGC 5195, o pequeno
"borrão" amarelo responsável por enviar ondas gravitacionais em
direção à sua grande vizinha, o que faz com que os seus tentáculos se apertem e
propiciem a formação de mais estrelas. Entretanto, alguns astrónomos culpam a
NGC 5195 pela proeminência dos braços da M51, e à primeira vista parece que
o"pequenote" está mesmo a arrancar um dos membros ao
"matulão". Mas as aparências iludem, pois a diminuta galáxia está
apenas a deslizar, suavemente, pela sua companheira, num ato de carícia que tem
demorado centenas de milhões de anos, pois no Universo tudo leva o seu (longo)
tempo.
Galáxias NGC
4038 e NGC 4039 © NASA, ESA, and the Hubble Heritage Team (STScI/AURA)-ESA/Hubble
Collaboration
O duo que se segue (a NGC 4038 e a NGC 4039)
só entrou nestas andanças dos bailados cósmicos há algumas centenas de milhões
de anos, quando a atração gravitacional começou a aproximá-las e as obrigou a
interagir. Para além de parecerem irremediavelmente emaranhadas uma na outra,
distinguem-se por serem as galáxias, em rota de colisão, que mais perto de nós
se encontram (45 milhões de anos-luz), sendo igualmente o par mais novo, nestas
condições, de que há registo.
Do abalroamento que está em curso irão nascer
milhares de milhões de estrelas, com as regiões mais brilhantes e compactas a
gerarem super-enxames de estrelas luminosas. Eis, portanto, uma das maiores
"maternidades" do Cosmos.
Colisão galáctica Arp 272 ©
NASA, ESA, the Hubble Heritage (STScI/AURA)-ESA/Hubble Collaboration, and K.
Noll (STScI)
O poder de visão do Hubble é sem dúvida
admirável. A 450 milhões de anos-luz de distância (e aqui deixa de fazer
sentido qualquer cálculo em quilómetros), encontramos uma das colisões galácticas
mais peculiares do Universo. Os astrónomos deram-lhe o nome de Arp 272 e
representa duas galáxias num enorme e enrolado abraço.
Galáxia NGC
3256 © NASA, ESA, the Hubble Heritage (STScI/AURA)-ESA/Hubble Collaboration,
and A. Evans (University of Virginia, Charlottesville/NRAO/Stony Brook
University)
Para os mais nostálgicos existem também as
galáxias que, atualmente, mais não são do que relíquias dos choques de titãs
que ocorreram no passado. A galáxia NGC 3256 é um desses exemplos, possuindo
duas extensas e luminosas caudas, para além de dois núcleos no seu centro, que
servem de testemunho à fusão que sobreveio.
Par galáctico
em interação ESO 69-6 © NASA, ESA, the Hubble Heritage (STScI/AURA)-ESA/Hubble
Collaboration, and A. Evans (University of Virginia, Charlottesville/NRAO/Stony
Brook University)
Uma pauta colossal, onde sobressaem duas
singelas notas musicais. As semelhanças são inconfundíveis assim que colocamos
os olhos em cima da ESO 69-6 (que engloba um par de galáxias em interação). As
enormes caudas que se esticam são o indício inconfundível de que a força da
gravidade está aqui a fazer "das suas", tendo despido as duas
galáxias, que estão na imagem, do gás e estrelas que as compunham.
Par galáctico
em interação ARP 240 © NASA, ESA, the Hubble Heritage (STScI/AURA)-ESA/Hubble
Collaboration, and A. Evans (University of Virginia, Charlottesville/NRAO/Stony
Brook University)
Um par de dançarinos, de mãos dadas, a
elaborar uma difícil pirueta. Eis o duo galáctico Arp 240, ambos em forma de espiral
e com a mesma massa e tamanho, como se fossem gémeos separados que estão
destinados a unir-se. Todavia, um terrível segredo esconde-se nas suas
entranhas: cada um deles carrega no seu ventre um buraco negro supermassivo.
Eis uma dança perigosa, mas que felizmente prefere desfilar-se em palcos muito
distantes, a 300 milhões de anos-luz dos terráqueos.
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