segunda-feira, 10 de outubro de 2016

DOS PEQUENOS VILAREJOS AO CAOS URBANO

 Literatura: artigo







Publicado por rejane borges



As grandes cidades têm algo de fascinante. Não somente pela imponência da arquitetura ou miscelânea das ruas que misturam modernidade e tradição. Mas, especialmente, por causa de um passado em comum, um passado no qual sonhava-se com um futuro grandioso. Um futuro de cidades prósperas, pioneiras, possíveis, grandes.



Lisboa: Chegada a Lisboa de Bernardino Machado Chefe de Estado Maior (1916)
Eu aprecio lugares calmos, quietos e rodeados de natureza. Qualquer pessoa é capaz de apreciar isto. Mas creio que não conseguiria viver uma vida absorta, apenas ouvindo os pássaros ou o vento golpeando as folhas das árvores. Deixo isto para as férias ou para algum momento de solidão necessária. A vida assim tão tranquila parece-me um tanto romântica, um tanto saudável. Mas pouco provável que assim eu fosse feliz.
Eu preciso de movimento, de sons, de luzes, de faixas de pedestres. É isso. Sinto necessidade de ouvir as vozes das pessoas vendendo suas mercadorias, xingando umas às outras em um trânsito frenético, rindo em peças de teatro ou acenando para o taxista. Sinto necessidade do som dos trilhos do metrô, do cheiro das comidas dos mercados de rua, dos milhares de guarda-chuvas abertos na Avenida Paulista, do delivery do restaurante chinês. Dos metais, dos vidros, dos violinos de algum artista nas estações de trem. Um grande e desordenado coro desafinado das metrópoles. Bagunçado, imperfeito, humano, belíssimo.
Algumas pessoas simplesmente gostam disso tudo. Mas muito antes dessas cidades se transformarem nesse caos urbano, que hoje é nosso estranho refúgio, elas foram mais plácidas, mais cinzas, mais vazias. Pertenciam a um passado do qual os mais velhos e saudosistas tanto falam, do qual os mais novos e apreciadores tanto querem ouvir.
Foram aqueles pequenos e calmos vilarejos de ruas com charretes e meninos com estilingues. Aquelas ruas com estórias centenárias, emolduradas por cenas monocromáticas de um cotidiano tranquilo. Cenas que, hoje, só vemos em fotografias raras, as quais tentam acrescentar à nossa parca noção de como um dia foram os lugares que hoje estamos.

Lisboa: Praça D. Pedro IV (1920)

Lisboa: Praça da Figueira (1885)
É claro que também existiam as grandes cidades que, na época, provocavam o mesmo efeito nas pessoas mais urbanas: fascinação. No entanto, é interessante olharmos o desenvolvimento dessas cidades que, de grandes, passaram a gigantescas e frenéticas mega-metrópoles.
Imagino que - mais do que ver o desenvolvimento das cidades em fotografias velhas - seja emocionante lembrar desse desenvolvimento. Alguns entre nós cresceram com as grandes cidades, acompanharam toda a trajetória.
Cidades que certamente àquela época eram tomadas por uma atmosfera de possibilidade, esperança e prosperidade. Cidades com pessoas que também tinham o ímpeto pela vida urbana, que optaram pelo choque violento de transformar suas pacatas ruas em avenidas tumultuosas. Talvez para que, quando oportuno, soubessem apreciar completa e verdadeiramente aqueles momentos longe disto tudo, aqueles momentos de calmaria anestésica que não vemos em nenhuma esquina dessas grandes cidades. E de que, às vezes, tanto necessitamos.

São Paulo: Rio Tamanduatei

São Paulo: Largo de São Bento
As grandes cidades podem ser tão inspiradoras quanto a natureza. Elas são, e sempre foram, o entusiasmo criador de alguns artistas, de muitos poetas. E carregam estórias, tradições, muros e memórias jamais abalados, jamais esquecidos.

São Paulo: Largo São Francisco (1862)

Nova Iorque: Quinta Avenida com a Rua 51ª (1913)

Nova Iorque (1912)

Detroit, Michigan Avenida Woodward (1917)

Chiocago: Avenida Wabash (1907)

Atlantic City, The Jersey Shore (1910)

Washington D.C, Nineth Street (1915)
Veja os filmes do estúdio dos Lumière que mostram algumas grandes cidades no início do século XX:



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