Literatura: artigo
Publicado por rejane
borges
As grandes cidades têm algo de
fascinante. Não somente pela imponência da arquitetura ou miscelânea das ruas
que misturam modernidade e tradição. Mas, especialmente, por causa de um
passado em comum, um passado no qual sonhava-se com um futuro grandioso. Um
futuro de cidades prósperas, pioneiras, possíveis, grandes.
Lisboa: Chegada a Lisboa de Bernardino Machado Chefe de Estado Maior
(1916)
Eu aprecio lugares calmos, quietos e rodeados
de natureza. Qualquer pessoa é capaz de apreciar isto. Mas creio que não
conseguiria viver uma vida absorta, apenas ouvindo os pássaros ou o vento
golpeando as folhas das árvores. Deixo isto para as férias ou para algum
momento de solidão necessária. A vida assim tão tranquila parece-me um tanto
romântica, um tanto saudável. Mas pouco provável que assim eu fosse feliz.
Eu preciso de movimento, de sons, de luzes,
de faixas de pedestres. É isso. Sinto necessidade de ouvir as vozes das pessoas
vendendo suas mercadorias, xingando umas às outras em um trânsito frenético,
rindo em peças de teatro ou acenando para o taxista. Sinto necessidade do som
dos trilhos do metrô, do cheiro das comidas dos mercados de rua, dos milhares
de guarda-chuvas abertos na Avenida Paulista, do delivery do restaurante
chinês. Dos metais, dos vidros, dos violinos de algum artista nas estações de
trem. Um grande e desordenado coro desafinado das metrópoles. Bagunçado,
imperfeito, humano, belíssimo.
Algumas pessoas simplesmente gostam disso
tudo. Mas muito antes dessas cidades se transformarem nesse caos urbano, que
hoje é nosso estranho refúgio, elas foram mais plácidas, mais cinzas, mais
vazias. Pertenciam a um passado do qual os mais velhos e saudosistas tanto
falam, do qual os mais novos e apreciadores tanto querem ouvir.
Foram aqueles pequenos e calmos vilarejos de
ruas com charretes e meninos com estilingues. Aquelas ruas com estórias
centenárias, emolduradas por cenas monocromáticas de um cotidiano tranquilo.
Cenas que, hoje, só vemos em fotografias raras, as quais tentam acrescentar à
nossa parca noção de como um dia foram os lugares que hoje estamos.
Lisboa: Praça D. Pedro IV (1920)
Lisboa: Praça da Figueira (1885)
É claro que também existiam as grandes
cidades que, na época, provocavam o mesmo efeito nas pessoas mais urbanas:
fascinação. No entanto, é interessante olharmos o desenvolvimento dessas
cidades que, de grandes, passaram a gigantescas e frenéticas mega-metrópoles.
Imagino que - mais do que ver o
desenvolvimento das cidades em fotografias velhas - seja emocionante lembrar
desse desenvolvimento. Alguns entre nós cresceram com as grandes cidades,
acompanharam toda a trajetória.
Cidades que certamente àquela época eram
tomadas por uma atmosfera de possibilidade, esperança e prosperidade. Cidades
com pessoas que também tinham o ímpeto pela vida urbana, que optaram pelo
choque violento de transformar suas pacatas ruas em avenidas tumultuosas.
Talvez para que, quando oportuno, soubessem apreciar completa e verdadeiramente
aqueles momentos longe disto tudo, aqueles momentos de calmaria anestésica que
não vemos em nenhuma esquina dessas grandes cidades. E de que, às vezes, tanto
necessitamos.
São Paulo: Rio Tamanduatei
São Paulo: Largo de São Bento
As grandes cidades podem ser tão inspiradoras
quanto a natureza. Elas são, e sempre foram, o entusiasmo criador de alguns
artistas, de muitos poetas. E carregam estórias, tradições, muros e memórias
jamais abalados, jamais esquecidos.
São Paulo: Largo São Francisco (1862)
Nova Iorque: Quinta Avenida com a Rua 51ª (1913)
Nova Iorque (1912)
Detroit, Michigan Avenida Woodward (1917)
Chiocago: Avenida Wabash (1907)
Atlantic
City, The Jersey Shore (1910)
Washington
D.C, Nineth Street (1915)
Veja os filmes do estúdio dos Lumière que
mostram algumas grandes cidades no início do século XX:
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