terça-feira, 11 de outubro de 2016

SINDICALISMO E PELEGUISMO

 Literatura: artigo







                                                 Por  Raymundo Pinto,
É desembargador aposentado e
 imortal pela Academia de Ciências Jurídicas da Bahia.

 

            Segundo dados oficiais fornecidos pelo IBGE, existem no Brasil atualmente cerca de 12 milhões de desempregados. Faço a seguinte indagação: alguém já presenciou um sindicato ou uma central sindical patrocinar uma manifestação de rua contra essa gravíssima situação? É fácil explicar a injustificável omissão. Estão no comando de tais entidades fiéis seguidores do PT e de correntes esquerdistas, justamente o partido e seus aliados que dominaram o poder nos últimos mais treze anos e provocaram a enorme onda de escândalos de corrupção que gerou como consequência o esfacelamento da economia brasileira, que completa três anos seguidos de brutal recessão. Vale lembrar que, na época do impeachment, as mesmas entidades foram bem ativas na promoção de muitas passeatas, em várias cidades do país, se solidarizando e defendendo a então presidente Dilma. Dizem que não faltou dinheiro para alugar ônibus a fim de transportar os participantes “espontâneos”, que recebiam R$ 50,00 por cabeça, além de um sanduiche de mortadela.

            Diante do tratamento desumano que sofriam os trabalhadores no início da Revolução Industrial (século XVIII), os prejudicados logo perceberam que seriam mais fortes caso se organizassem em grupos, o que deu origem aos sindicatos. Foi uma luta de longa duração, mas o exemplo nascido na Inglaterra se expandiu mundo afora. Um filósofo alemão chamado Karl Marx, em meados do século XIX, construiu o conjunto de ideias que serviu de base teórica para sustentar os movimentos a favor da classe operária. Nesse tempo, devido ao avanço das reivindicações do proletariado, os países passaram a ter consciência de que era preciso proteger os mais fracos, por meio de novas legislações que lhes concedessem mais direitos. Tais fatos históricos deram ensejo ao surgimento do Direito do Trabalho.

            No nosso país, como sempre, as repercussões desses acontecimentos chegaram com atraso. A Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada em 1943 no governo de Getúlio Vargas, consagrou poucas vantagens antes existentes e instituiu uma série de conquistas em prol do trabalhador. Uma particularidade interessante a destacar é que o ditador da época, admirador do fascismo italiano, teve o cuidado de estabelecer restrições às atividades dos sindicatos, que ficaram muito submissos ao Poder Executivo. O uso do termo pejorativo “pelego” vem dessa época, que era aplicado aos dirigentes sindicais que faziam o jogo dos ocupantes do poder.

            Apesar das limitações legais, os movimentos ligados à classe trabalhadora ganharam força, a ponto de até ameaçarem a tomada do poder no governo João Goulart. A reação que se seguiu, com o golpe militar de 1964, quase aniquilou os principais líderes sindicais e muitos deles seguiram o caminho do exílio. A atuação vigorosa recomeçou na região metropolitana de São Paulo, na década de 70, que projetou e consolidou a liderança de Lula. Todos têm conhecimento dos fatos que se sucederam e que levaram o PT ao cargo máximo da República.

            Há que se reconhecer que o fato de ter alcançado o poder não fez bem ao movimento sindical. Como suas entidades representativas se atrelaram demasiadamente aos partidos que ocuparam os mais altos cargos da Nação, ficaram impedidos de protestar contra um governo que arrasou a economia do país e desempregou milhões de humildes cidadãos. Cumpre salientar a defesa dos interesses dos trabalhadores é a principal missão dos sindicatos. Em face disso, fica claro que os dirigentes das entidades sindicais (incluídas as centrais) foram, sem dúvida, os “pelegos” da era moderna, enquanto duraram os mandatos de Lula e Dilma, felizmente já defenestrados. Nas últimas eleições, as acachapantes derrotas dos candidatos do PT e aliados demonstram que a velha bandeira do “impeachment é golpe” deve ser recolhida, por imprestável.

            Agora, os sindicalistas assumem posições radicais contra o presidente Temer. Admito que ele não é o político ideal para enfrentar a grave crise econômica que atravessamos, porém, como escolheu técnicos competentes na área das finanças e tenta aprovar no Congresso Nacional certas medidas que poderão solucionar os maiores problemas do Brasil, é preciso dar-lhe, ao menos, um crédito de confiança. Os dirigentes sindicais, em especial os que revelam tendência esquerdista, sabem muito bem fazer oposição. Numa democracia, ela é imprescindível. Contudo, por terem sido legítimos “pelegos” de governos anteriores, isso não lhes confere o direito de se opor, com radicalismos, a determinadas providências legislativas para consertar os absurdos erros administrativos e inúmeros atos de corrupção praticados por quem estava no poder há mais de treze anos e que eles próprios tanto apoiaram. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário