Por Raymundo Pinto,
É desembargador aposentado e
imortal pela Academia de
Ciências Jurídicas da Bahia.
Segundo
dados oficiais fornecidos pelo IBGE, existem no Brasil atualmente cerca de 12
milhões de desempregados. Faço a seguinte indagação: alguém já presenciou um
sindicato ou uma central sindical patrocinar uma manifestação de rua contra
essa gravíssima situação? É fácil explicar a injustificável omissão. Estão no
comando de tais entidades fiéis seguidores do PT e de correntes esquerdistas,
justamente o partido e seus aliados que dominaram o poder nos últimos mais
treze anos e provocaram a enorme onda de escândalos de corrupção que gerou como
consequência o esfacelamento da economia brasileira, que completa três anos
seguidos de brutal recessão. Vale lembrar que, na época do impeachment, as
mesmas entidades foram bem ativas na promoção de muitas passeatas, em várias
cidades do país, se solidarizando e defendendo a então presidente Dilma. Dizem
que não faltou dinheiro para alugar ônibus a fim de transportar os
participantes “espontâneos”, que recebiam R$ 50,00 por cabeça, além de um
sanduiche de mortadela.
Diante do tratamento
desumano que sofriam os trabalhadores no início da Revolução Industrial (século
XVIII), os prejudicados logo perceberam que seriam mais fortes caso se
organizassem em grupos, o que deu origem aos sindicatos. Foi uma luta de longa
duração, mas o exemplo nascido na Inglaterra se expandiu mundo afora. Um
filósofo alemão chamado Karl Marx, em meados do século XIX, construiu o
conjunto de ideias que serviu de base teórica para sustentar os movimentos a
favor da classe operária. Nesse tempo, devido ao avanço das reivindicações do
proletariado, os países passaram a ter consciência de que era preciso proteger
os mais fracos, por meio de novas legislações que lhes concedessem mais
direitos. Tais fatos históricos deram ensejo ao surgimento do Direito do Trabalho.
No nosso país, como sempre, as repercussões desses acontecimentos chegaram com
atraso. A Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada em 1943 no governo de
Getúlio Vargas, consagrou poucas vantagens antes existentes e instituiu uma
série de conquistas em prol do trabalhador. Uma particularidade interessante a
destacar é que o ditador da época, admirador do fascismo italiano, teve o
cuidado de estabelecer restrições às atividades dos sindicatos, que ficaram
muito submissos ao Poder Executivo. O uso do termo pejorativo “pelego” vem
dessa época, que era aplicado aos dirigentes sindicais que faziam o jogo dos
ocupantes do poder.
Apesar das limitações legais, os movimentos ligados à classe trabalhadora
ganharam força, a ponto de até ameaçarem a tomada do poder no governo João
Goulart. A reação que se seguiu, com o golpe militar de 1964, quase aniquilou
os principais líderes sindicais e muitos deles seguiram o caminho do exílio. A
atuação vigorosa recomeçou na região metropolitana de São Paulo, na década de
70, que projetou e consolidou a liderança de Lula. Todos têm conhecimento dos
fatos que se sucederam e que levaram o PT ao cargo máximo da República.
Há que se reconhecer que o fato de ter alcançado o poder não fez bem ao
movimento sindical. Como suas entidades representativas se atrelaram
demasiadamente aos partidos que ocuparam os mais altos cargos da Nação, ficaram
impedidos de protestar contra um governo que arrasou a economia do país e
desempregou milhões de humildes cidadãos. Cumpre salientar a defesa dos
interesses dos trabalhadores é a principal missão dos sindicatos. Em face
disso, fica claro que os dirigentes das entidades sindicais (incluídas as
centrais) foram, sem dúvida, os “pelegos” da era moderna, enquanto duraram os
mandatos de Lula e Dilma, felizmente já defenestrados. Nas últimas eleições, as
acachapantes derrotas dos candidatos do PT e aliados demonstram que a velha
bandeira do “impeachment é golpe” deve ser recolhida, por imprestável.
Agora, os sindicalistas assumem posições radicais contra o presidente Temer.
Admito que ele não é o político ideal para enfrentar a grave crise econômica
que atravessamos, porém, como escolheu técnicos competentes na área das
finanças e tenta aprovar no Congresso Nacional certas medidas que poderão
solucionar os maiores problemas do Brasil, é preciso dar-lhe, ao menos, um
crédito de confiança. Os dirigentes sindicais, em especial os que revelam
tendência esquerdista, sabem muito bem fazer oposição. Numa democracia, ela é
imprescindível. Contudo, por terem sido legítimos “pelegos” de governos
anteriores, isso não lhes confere o direito de se opor, com radicalismos, a
determinadas providências legislativas para consertar os absurdos erros
administrativos e inúmeros atos de corrupção praticados por quem estava no
poder há mais de treze anos e que eles próprios tanto apoiaram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário