Ciência
Colaboração
de Fernando Alcoforado*
O fenômeno
da superlua que ocorre no momento levou-me a elaborar este artigo para mostrar
a importância do satélite da Terra para a vida no planeta. A Terra se formou há
uns 4,6 bilhões de anos, a partir do disco de gás e pó que formou o Sol e os
demais corpos do Sistema Solar. . É importante observar que a Lua se formou há
cerca de 100 milhões de anos depois da Terra, após um violento impacto de um
corpo do tamanho de Marte, denominado Theia. O enorme impacto arrancou parte da
Terra, que na época era uma esfera de magma, e a colocou em órbita terrestre.
Os fragmentos que resultaram do choque entre Terra e Theia formaram a Lua.
O
recém-criado sistema Terra-Lua começou a exercer uma atração gravitacional
mútua. Tal atração produziu (e continua produzindo) a dissipação de uma enorme
quantidade de energia decorrente da fricção dos oceanos com os fundos marinhos
durante as idas e vindas das marés. Como consequência de tal dissipação, a
velocidade de rotação da Terra se reduziu de cerca de 6 horas que durava o
primitivo dia terrestre sem Lua até as 24 horas atuais. Na atualidade a Lua
continua freando a rotação da Terra a uma taxa de cerca de 1,5 milésimos de
segundo a cada século. Para compensar essa diminuição na velocidade de rotação
da Terra, a energia de rotação lunar precisa aumentar o que produz um gradual
afastamento da Lua em relação à Terra, a uma velocidade de uns 3,82 centímetros
a cada ano (Stacey, , F.D. Physics of the Earth, John Willey & Sons, 1969).
O
afastamento da Lua em relação à Terra se deve à fricção entre a superfície da
Terra e a enorme massa de água que está sobre ela e faz com que, ao longo do
tempo, a Terra gire um pouco mais lentamente sobre o seu eixo. A Terra e a Lua
são unidas por uma espécie de abraço gravitacional. Então, à medida que o
movimento da Terra diminui, o da Lua acelera. E, quando algo que está em órbita
acelera, essa aceleração a empurra para fora. Para cada ação há uma reação
igual e oposta. Esta é a terceira lei de Newton. A distância da Lua afeta nosso
planeta de várias formas. Para começar, à medida que a Terra gira mais devagar,
os dias ficam mais longos. Eles já estão mais longos, em dois milésimos de
segundo a cada século.
O que
aconteceria com a Terra se a Lua se afastasse continuamente? Seria catastrófico
para o planeta Terra porque os dias poderiam ser 48 vezes mais longos. Durante
a noite, as temperaturas matariam todo mundo de frio. Ao longo do dia, ninguém
suportaria o calor. No litoral, haveria ventos violentíssimos de 200 km/h. Em
termos de vida não sobraria quase nada, a não ser bactérias e vermes
super-resistentes. Tudo isso mostra como a Terra é dependente dessa bola
estéril de minerais que chamamos de Lua. Só para dar uma ideia, antes de o
satélite começar a orbitar nosso planeta, um dia durava algo entre seis e oito
horas. De lá para cá, a interação com a Lua vem freando a rotação do planeta.
Pela mecânica celeste, isso acontece conforme a Lua se afasta.
Há mais de 4
bilhões de anos, estima-se que a Lua ficava a apenas 25 mil quilômetros da
Terra. Hoje, a distância é 15 vezes maior. Com este afastamento da Lua em
relação à Terra, a velocidade de rotação do planeta foi diminuindo aos poucos.
Em cerca de 3 bilhões de anos, a duração do dia já tinha saltado para 18 horas.
Seguindo esta tendência, o dia de 24 horas que prevalece hoje não vai durar
para sempre. A Lua 2 continuará se distanciando agora, a um ritmo mais rápido
do que antes, a uma taxa de 3,8 centímetros por ano. Esse processo deve
continuar até que o satélite esteja a 560 mil quilômetros de distância. Quando
isso ocorrer, a rotação da Terra vai se estabilizar, os dias vão ter 1 152
horas e a vida no planeta será inviável. Este processo vai demorar pelo menos
uns 4 bilhões de anos para acontecer. Segundo, esse cenário caótico provavelmente
não vai ter seres humanos para testemunhá-lo porque no próximo bilhão de anos,
o Sol vai estar 10% mais quente que será suficiente para inviabilizar qualquer
forma de vida na Terra.
Muitos se
perguntam: o que aconteceria se a Lua desaparecesse de repente? De imediato,
alguém diria que poderíamos desfrutar das estrelas, da Via Láctea e de outras
maravilhas do cosmo sem ser ofuscados pela luz lunar. Deixariam de existir
também os eclipses solares e os lunares. Além disso, desapareceria todo o romantismo
e o mistério associado ao nosso satélite, que inspirou tantas canções, poemas,
contos, romances, e tantos artistas, mas, aconteceria só isso se nosso satélite
desaparecesse de repente? Claro que não!
As
principais consequências do desaparecimento repentino da Lua seriam: 1) o
desaparecimento do fenômeno das marés; 2) o fim da estabilidade do eixo de
rotação da Terra; 3) o fim de muitas espécies e plantas terrestres; e, 4)
mudanças climáticas drásticas e globais decorrentes do desaparecimento das marés
e da desestabilização do eixo de rotação da Terra. O desaparecimento do
fenômeno das marés resultantes da gravidade da Lua levaria ao enfraquecimento
das correntes oceânicas cujas águas tenderiam a se estancar. As margens dos
mares perderiam seu sistema de drenagem e limpeza natural decorrente do avanço
e recuo das águas. A água oceânica tenderia a redistribuir-se, tomando o rumo
dos polos, e o nível do mar se elevaria nas costas. A consequência de tudo isso
seria uma mudança drástica do clima da Terra.
O fim da
estabilidade do eixo de rotação da Terra ocorreria com a precessão terrestre
que se tornaria mais lenta sem a Lua, como quando um pião começa a balançar,
prestes a cair, podendo variar seu eixo de forma caótica entre 0 e 90 graus. O
eixo de rotação da Terra está a 23 graus em relação ao plano de sua órbita
provocado pelo movimento orbital da Lua que é responsável pela existência das
estações do modo como as conhecemos. O fim da estabilidade do eixo de rotação
da Terra resultaria em uma mudança climática em escala global, que poderia
produzir verões com temperaturas que superariam os 100 graus, e invernos com
temperaturas abaixo de 80 graus negativos. No caso mais extremo, o eixo de
rotação terrestre poderia alinhar-se diretamente na direção do Sol, o que faria
com que zonas do planeta ficassem sob uma permanente insolação e outras, em
permanente obscuridade. As gigantescas diferenças térmicas entre uma metade e a
outra da Terra provocariam ventos extremos, com velocidade de mais de 300
quilômetros por hora e outros fenômenos meteorológicos dramáticos.
O fim de
muitas espécies e plantas terrestres ocorreria com o desaparecimento da Lua que
afetaria também a vida na Terra. O efeito mais imediato seria o desaparecimento
da própria luz solar refletida pela Lua, que alteraria os ritmos biológicos de
muitas espécies animais e vegetais que se adaptaram e evoluíram sob a presença
cíclica da luz lunar. Muitas espécies precisariam adaptar-se de repente à
obscuridade total das noites sem lua. O desaparecimento das marés lunares
afetaria sobretudo as espécies adaptadas aos fluxos e correntes marinhos, como
as que vivem nas costas às quais o fluxo das marés 3 leva os nutrientes, ou as
que habitam mares e oceanos, acostumadas aos atuais padrões das correntes marinhas.
As mudanças
climáticas drásticas e globais, decorrentes do desaparecimento das marés e da
desestabilização do eixo de rotação da Terra, seriam os fatores que produziriam
as consequências mais terríveis sobre a vida terrestre. Os ritmos vitais de todas
as espécies animais e vegetais seriam alterados por essas mudanças climáticas:
as migrações, a época do cio, a hibernação etc. O crescimento das plantas
também seria afetado pelas variações térmicas extremas. Muitas espécies seriam
incapazes de se adaptar, haveria extinção maciça de plantas e animais. No caso
muito extremo em que o eixo de rotação terrestre acabasse apontando para o Sol,
a vida na Terra tal como a conhecemos seria impossível em qualquer dos dois
hemisférios, e somente seria talvez viável no equador, entre os hemisférios
ardente e gelado do planeta.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de
Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros
Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a
Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o
Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento
do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes
Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV,
Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net).
E-mail: falcoforado@uol.com.br.
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