Personalidade
Patricia Sulbarán Lovera
BBC Mundo
Michelle Obama foi revelada ao mundo na convenção democrata de
2008, quando seu marido foi nomeado como candidato pelo partido
Michelle LaVaughn Robinson Obama fez história nos
Estados Unidos há oito anos, formando com Barack Obama o primeiro casal
presidencial negro na história do país.
A primeira-dama, que recentemente foi alvo de racismo ao ser chamada de
"macaca de salto alto" na internet por uma funcionária pública de uma
pequeno condado americano, em um caso que teve grande repercussão no país e no
mundo, é socióloga e jurista. Dedicou-se, durante os dois mandatos de seu
marido, a combater a obesidade infantil e a defender questões como a importância
do exercício físico, além de ter trabalhado na promoção dos direitos das
mulheres em nível internacional.
Nos últimos meses, ela participou ativamente na campanha presidencial de
Hillary Clinton, dando discursos emocionados - e que emocionaram milhões de
pessoas - a favor da candidata democrata, que, no fim, perdeu a eleição para
Donald Trump.
A poucas semanas do término do mandato de Obama, a primeira-dama tem um
índice de popularidade de 64%, de acordo com o instituto de pesquisa Gallup,
número maior do que o do atual presidente.
Alguns sugerem que a primeira-dama seria uma excelente candidata à
Presidência, embora ela negue qualquer desejo de comandar os Estados Unidos.
Veja abaixo alguns detalhes que você talvez não conheça sobre a vida e a
carreira de Michelle.
1. Pesquisa revelou parentesco com mulher
escravizada
Um estudo da árvore genealógica de Michelle Obama
encomendado em 2009 pelo jornal The New York Times revelou
seu parentesco com uma descendente de africanos escravizada da Carolina do Sul.
Ela se chamava Melvinia e pertencia a um
proprietário de terras no sul do Estado. Henry Wells Shields, segundo o New York Times, teria herdado de seu sogro a
propriedade sobre a mulher escravizada em 1852.
Aos 52 anos, Michelle é a primeira mulher negra a se tornar
primeira-dama dos Estados Unidos.
Cerca de dois anos antes da Guerra Civil Americana (1861-1865), Melvinia
ficou grávida de um homem branco e deu à luz Dolphus T. Shields, de quem
descende Michelle Obama.
Ainda segundo o New York Times,
exames de DNA indicam que o pai de Dolphus era um dos filhos de Henry, Charles
Marion Shields, que trabalhava como fazendeiro e professor. Melvinia e Charles
seriam os tataravós de Michelle. Um descendente da família Shields, Jarrod
Shields, da mesma geração que Michelle, enviou ao New York Times uma foto antiga da família e disse
sempre querer saber o destino dos afro-americanos escravizados por sua família.
"Eu sempre quis pedir perdão", disse, acrescentando que gostaria que
esses descendentes soubessem que ele fica feliz em saber que são partes da
mesma família, apesar das circunstâncias em que isso ocorreu.
Embora a primeira-dama não tenha se referido especificamente ao passado
de sua família, a luta contra o racismo foi um dos pontos centrais de vários de
seus discursos.
Durante sua fala na Convenção Democrata deste ano, Michelle causou
comoção ao dizer que ela e suas filhas acordam todos os dias em "uma casa
construída por escravos", referindo-se à Casa Branca.
2. Princeton, Harvard e racismo
Michelle tinha 17 anos quando se mudou de um apartamento em Chicago,
onde vivia com seus pais, para o campus da Universidade de Princeton, em Nova
Jersey.
Apesar de seus professores do ensino médio lhe dizerem que tinha
"aspirações demais" por querer entrar na prestigiada instituição, a
jovem desejava seguir os passos de seu irmão mais velho Craig, que se formou lá
em 1983.
No entanto, os primeiros dias em Princeton não foram fáceis.
ESCOLA DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE HARVARD
Michelle Obama, então Michelle LaVaughn Robinson, em 1988, quando
estudava Direito na Universidade de Harvard
A mãe branca de sua companheira de quarto pediu,
sem sucesso, que mudassem sua filha de lugar porque Michelle era negra,
conforme relatado por Peter Slevin, autor da biografia Michelle Obama: A Life.
"As minhas experiências em Princeton me fizeram muito mais
conscientes do fato de ser negra", escreveu na introdução de seu trabalho
de conclusão.
"Não importa o quão liberal e aberto sejam os meus professores e
colegas brancos nas suas relações comigo, às vezes, me sinto como uma visitante
no campus."
Isso não impediu que se graduasse em Sociologia com especialização em
estudos afro-americanos e, três anos mais tarde, em 1988, continuasse sua
carreira acadêmica estudando Direito em Harvard.
3. Ela foi tutora de Barack Obama
Apesar de ser mais jovem do que ele, com 25 anos de idade, Michelle foi
tutora de Barack Obama. Barack tinha 28 anos e fazia um estágio no escritório
de advocacia de Chicago, onde ambos trabalhavam.
Obama ficaria lá apenas durante o verão e depois retornaria a Harvard,
para continuar o curso de Direito.
Na metade do estágio, o futuro presidente dos Estados Unidos convidou
Michelle para um encontro.
Michelle e Barack Obama juntos no Havaí quando ele ainda era
senador do distrito 13 de Ilinois
"Foi fantástico (...) Ele foi definitivamente muito charmoso, e
funcionou", disse a futura primeira-dama em uma entrevista em 2004.
O casal veio de tipos diferentes de família. Ele nasceu no Havaí, foi
criado apenas pela mãe e viveu por um tempo na Indonésia, enquanto Michelle era
nativa da parte sul de Chicago e tinha crescido com ambos os pais.
O que os dois tinham em comum era a ambição acadêmica, que os levou a
estudar nas universidades mais prestigiadas e caras do país antes de se
casarem, em 1992.
Michelle e Barack Obama têm duas filhas, Sasha e Malia.
Os dois pediram empréstimos para pagar seus estudos e conseguiram
quitá-los só uma década depois da graduação, disse o presidente em um discurso
na Universidade da Carolina do Norte.
4. Foi contra a ideia do marido de concorrer à
Presidência dos Estados Unidos
No começo, Michelle Obama se opôs a que seu marido se lançasse como
candidato presidencial em 2008.
"A decisão foi repentina", disse à
revista Vanity Fair em 2007.
"Eu disse 'você está brincando? Não vamos fazer isso agora (...)
podemos levar as coisas com calma?'".
A futura primeira-dama justificou sua posição lembrando como havia sido
difícil quando Barack Obama, como senador de Illinois, viajava constantemente
de Chicago a Washington.
No começo, Michelle estava relutante sobre a candidatura
presidencial do marido, mas depois o acompanhou na campanha.
"Minha pergunta a ele foi: 'vamos fazer algo difícil de novo,
depois de ter feito algo muito duro?", contou à revista.
Apesar de sua recente nomeação como vice-presidente do Centro Médico da
Universidade de Chicago, o anúncio de seu marido como candidato à Presidência
em fevereiro de 2007 mudou o cenário para ela.
"Barack nunca me pediu para deixar meu trabalho (...), mas como
posso ir trabalhar todos os dias se estamos tentando realizar algo em que
acredito?", disse na época à revista.
5. Sua mãe também vive na Casa Branca
Marian Robinson, mãe de Michelle e secretária de banco aposentada,
sempre manteve um perfil discreto e em raras ocasiões deu entrevistas.
Mas a avó de 79 anos é uma parte essencial da família presidencial
norte-americana: ela também mora na Casa Branca.
Marian, cujo marido morreu de esclerose múltipla em 1991, se mudou para
a residência oficial do presidente após Barack Obama ganhar a eleição em 2008.
Marian Robinson, mãe de Michelle Obama, vive na Casa Blanca desde
2009
O objetivo, disse Michelle em várias entrevistas, era que a mãe a
apoiasse na criação de suas filhas, Sasha e Malia.
Quando as meninas eram menores, a avó era responsável por deixá-las e
buscá-las na escola ao lado de agentes do Serviço Secreto.
A vantagem de Robinson, conforme relatado pelo
jornal The Washington Post, é que pode mover-se com mais
liberdade por Washington, sem o forte aparato de segurança.
Em uma entrevista em 2009, Barack Obama disse que ela "simplesmente
sai pela porta da Casa Branca e vai até à farmácia para fazer suas
compras".
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