Salvador de Ávila*
Em nenhuma das ciências tem o Folclore tantas manifestações como na medicina, a sublime arte de curar. No seu livro “Linguagem Médica Popular do Brasil”, o grande mestre da medicina baiana, Fernando São Paulo, diz: “Como é sabido, nenhum país, através dos tempos, tem menosprezado a medicina plebéia, que se deve examinar, estudar e meditar. Ela vive pertinho da medicina científica.”
Mo nordeste do Brasil, principalmente, as manifestações folclóricas da medicina são representadas pelas rezas, mezinhas e garrafadas que se constituem a terapêutica campestre.
Nas populações rurais, as duas pessoas mais respeitadas são: o padre e o médico. Entretanto, talvez, pela dificuldade de se encontrar na hora precisa um médico, o homem do campo, ao primeiro sintoma de qualquer mal, procura o rezador ou rezadeira, que geralmente tem uma reza para tudo. E para cada qual existe uma reza e o modo de usá-la. Daremos a seguir algumas rezas mais comuns e procuraremos dar exatamente os nomes como são pronunciados pelos rezadores, e o modo como é realizada a reza.
Espinhela caída
O que é espinhela caída? É nada mais, nada menos que uma anormalidade do apêndice xifóide ou espinhela, o qual provoca dores fortes nos seus portadores. Procurado o rezador, este coloca o paciente com a face voltada para o poente, e fazendo cruzes sobre o peito do doente, pronuncia as seguintes palavras, usando para benzer um galho de vassourinha (planta silvestre):
“Na casa em que Deus nasceu/Tudo resplandeceu/Na hora em que Deus foi nado/Todo mundo foi iluminado/Seja em nome do Senhor/Esse teu mal curado/Espinhela caída e ventre derrubado/Eu te ergo, curo e saro/Fica-te espinhela em pé/Santana Santa Maria/Em nome de Deus Padre, Filho e Espírito Santo.”
Azia
Outra reza muito comum é feita para curar a pessoa que está sofrendo de azia. Pega-se o paciente, coloca-se com a face voltada para o nascente, e com um galho de relógio (planta silvestre), fazendo cruzes sobre o estomago do paciente, reza-se o seguinte:
“Minha Santa Sofia/Tinha três “fia”/Qui” uma bordava/”Qui” outra cosia/E a outra curava/De mal de azia/com os poderes de Deus Padre/E da Virgem Maria.”
Curioso o aspecto da fé, tanto do rezador como do rezado, pois executavam esse mister com muita seriedade, e sempre usando os nomes de Deus, da Virgem Maria e dos Santos .
Para luxação
Usa-se um galho de arruda.
“Reza-se: “Carne trilhada/Nervo torcido/ossos e veias/E “cordoveias”/ Tudo isso eu coso/ E recoso/ Com o louvor de São Francisco.”
Para curar erisipela
Usa-se um galho de Vassourinha (planta silvestre).
Reza-se: Jesus Cristo ia para Belém/No caminho encontrou São Pedro/ Perguntou: que há por lá?/Mal do monte de ”izipramá”/Vai com Deus Pai/E o Sacramento do Altar/Assim tu és de ficar livre/Com a proteção do altar/Do sofrimento desse mal/Que é mal de monte de “izipramá”.”
Contra mau olhado
Essa reza é muito comum, e é usada por muita gente culta, que acredita piamente nos maus olhados, e as rezadeiras são frequentemente solicitadas para rezar contra o mau olhado.
“Com olho ruim te olharam/Com olho bom eu retiro/Com dois te botaram/Com dois de botaram/Com três eu te tiro/Com os poderes de Deus Padre/e Nossa Senhora do Retiro.”(...)
NR/ * Extraído do livro Bahia de Mil Encantos
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