segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O porquê de “Agora é tarde. Inês é morta”

                                      Paulo Segundo da Costa*




No Brasil ainda é corrente o aforismo: Agora é tarde. Inês é morta, veiculado pelos portugueses residentes no Brasil Colonial. Esse dito tem origem no Portugal do século XIV, ou seja, há mais de 700 anos, decorrente de um acontecimento protagonizado pelo Rei D. Pedro I (1357/1367)

            Tumulo de D. Pedro I – Rei de Portugal
O Príncipe Pedro - herdeiro do trono de seu pai, Rei Afonso IV (1325/1357) - casou-se, em 1334, com Constança Manuel, da realeza de Castela (Espanha). Quando Constança foi residir em Portugal, levou consigo Inês de Castro, jovem elegante e bonita, por quem o Príncipe Pedro ficou apaixonadíssimo. Inês correspondeu à corte do Príncipe, cujo romance “era muito comentado e mal aceito, tanto pela corte como pelo povo, em geral”. 

Constança morreu em 1345 e D. Pedro: “contra a vontade do pai, passou a viver com Inês de Castro, o que provocou escândalo na Corte. Começou então uma grande desavença entre o Rei e o Infante”. Afonso IV, por não querer que Inês, amante de seu filho, fosse rainha portuguesa, tentou casá-lo com uma mulher de sua Corte. Pedro rejeitou novo casamento real. Viúvo de Constança, ele viveu com Inês de Castro em Coimbra, com quem havia se casado secretamente. Com ela teve filhos: Afonso, em 1346, morreu ainda criança; Beatriz, em 1347; João, em 1349; Dinis, em 1354.  Doente, sentindo que seu reinado aproximava-se do fim, “em sete de janeiro de 1355, o Rei decidiu que a melhor solução seria matar Inês de Castro. Aproveitando a ausência de D. Pedro numa excursão de caça, foi com Pero Coelho, Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e outros para executarem Inês de Castro, em Santa Clara (Coimbra)”. Mataram-na e seu corpo foi  sepultado em Alcobaça. D. Afonso IV morreu em 1357. Foi sucedido por seu filho, com o título de D. Pedro I (1357/1367). O Rei D. Pedro I, que jamais esquecera sua amada, mandou matar os assassinos de Inês de Castro e, em 1361, trasladou os ossos de sua amada para o Palácio Real: colocou-os na cadeira destinada à Rainha, paramentou-os com as vestimentas reais, proclamou Inês de Castro Rainha de Portugal e obrigou seus vassalos beijarem o anel da Rainha, colocado em um osso de seu dedo. Daí adveio o dito: Agora é tarde. Inês é morta. Isto é referido ainda no Brasil de hoje quando um assunto perdeu a oportunidade de ser solucionado e não há mais como resolvê-lo.

                                                                                                                  Tumulo de Inês de Castro

*Paulo Segundo Costa nasceu no Estado do Ceará. É engenheiro e escritor. Foi Secretário de Viação e Urbanismo e Obras Públicas e Secretário Meio Ambiente e Defesa Civil da Prefeitura de Salvador, em quatro oportunidades. Dentre os livros que publicou dois se destacam como obras mestras: Octávio Mangabeira democrata irresistível e Umari, páginas de saudades. Sobre eles, escreveu Luiz Carlos Facó: “(...) vi no livro Octávio Mangabeira Democrata Irredutível uma obra irretocável, em que o espírito do político (biografado) não se desvanece como as ondas do mar rebentadas nas praias. Ele permanece incólume, intocável, por obra e graças do seu autor e condutor de pesquisa irrepreensível, com perfil de obstinação acadêmica. Poucas vezes, presenciei tal preocupação com tamanha nitidez e perseverança (...)”. E acerca de Umari: “(...) É mais um estudo genealógico, memorialista, sociológico, cujas virtudes maiores residem nas confiáveis confidências do autor, no seu estilo simples, quiçá ingênuo, melhor dito, de exacerbada pureza (...)”.
                                                                                                                         


     

 

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