segunda-feira, 3 de junho de 2013

MADRE VITÓRIA DA ENCARNAÇÃO - A PRIMEIRA SANTA BAIANA


Texto de Salvador de Ávila,
                                                                                extraído do livro “Bahia de Mil Encantos”

Figura das mais curiosas pela vida edificante que levou, pela sua humildade, e pelo seu grande amor a Deus, foi Madre Vitória da Encarnação. Filha do Capitão de Infantaria Bartolomeu Nabo Correia e D. Luísa Bixarxe, Vitória foi um dos cinco filhos do casal.
Desde a infância, revelou a maior inclinação pelas coisas de Deus. Nasceu a seis de março de 1661, e dotada de grande beleza, rejeitou mais de uma vez pedidos de casamento, dizendo sempre, quando lhe tocavam nesse assunto, que preferiria morrer a deixar de seguir a sua verdadeira vocação, que era a vida monástica. Juntamente com uma sua irmã, ingressa para o convento de Santa Clara (Desterro), onde tomou hábito em 29 de setembro de 1686.

O noviciado foi feito, dando exemplo de verdadeira humildade e abandono às coisas do mundo. Era comum sair do refeitório com o seu prato de alimento (intocado) e dar a sua refeição ao cão de guarda do convento. Certa feita, ao ser ofendida com palavras grosseiras por parte de outra freira, teria dito com grande humildade: “Vá, minha irmã, vá adiante, ainda não disse tudo”.
Tão grande era sua vontade de santificação, que todas as sextas-feiras da Quaresma, corria os Passos da Paixão, inventando sempre uma nova maneira de mortificação. Em um desses dias, (per)correu os quadros da Via Sacra, tendo atravessado na boca um osso da perna de um defunto em estado de putrefação. Outras vezes fazia a Via Sacra carregando às costas uma pesada cruz. Era muitas vezes alvo das chacotas das negras escravas do convento, chegando, certa feita, a ser esbofeteada por uma delas.
A respeito de Madre Vitória, o grande Arcebispo da Bahia, D. Sebastião Monteiro da Vide escreveu um livro intitulado “História da vida e da morte de Madre Vitória da Encarnação, religiosa professa no convento Santa Clara do Desterro da Cidade da Bahia”, livro publicado em Roma, no ano de 1720. O historiador Pedro Calmon, em seu livro Figura de Azulejo, assim se refere a Madre Vitória: “Fora bonita, inteligente, inquieta; pois se fez estúpida, lerda e feia como uma escrava boçal. Ambicionou todas as dores, numa gula de sacrifício, que a uns edificava, a outros enchia de horror. Fugia ao ser vista. Fingia-se de sombra. Pedia às irmãs de hábito a graça de servir como escrava a todas. Não lhe consentiam e lhe advertiam muitas vezes: Soror Vitória, cuidai de vós... Exagerais, irmã!”
Morreu madre Vitória com fama de Santidade, aos 19 de julho de 1715, estando os seus restos mortais sepultados no convento do Desterro. Assim é a Bahia, tem também a sua santa.
NR/ Atribuem-se a madre Vitória inúmeros milagres. Contudo, sua beatificação jamais ocorreu, quiçá pela fama adquirida entre as próprias colegas de irmandade que a considerava exagerada. Talvez por inveja, talvez por ignorância. Mas, pelo clamor popular, foi uma verdadeira santa. Vox populi, Vox Dei! 

  

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