Série: grandes
cientistas brasileiros
Nise da Silveira nasceu em 1905, em
Maceió, Alagoas. Foi a única mulher, entre os 156 alunos da Faculdade de
Medicina da Bahia, que graduou-se em 1926. Em 1927 com a morte de pai, mudou-se
para o Rio de Janeiro onde começou sua carreira em psiquiatria no hospital que
na época era popularmente chamado de hospício da Praia Vermelha (hoje Hospital
Pinel), sem nunca aceitar as formas agressivas de tratamento da época, tais
como internação, eletrochoques, insulinoterapia e lobotomia. Presa como
comunista, por manter livros socialistas em sua estante no hospital, é afastada
do serviço público de 1936 a 1944. Nise foi presa; ficou na Casa de Detenção durante
um ano e quatro meses. Lá conheceu Olga Benário, Graciliano Ramos e outros
participantes do movimento comunista, que se tornaram amigos seus.
Anistiada, cria em 1946, a Seção de Terapia Ocupacional no Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, posteriormente conhecido como Centro Psiquiátrico Pedro II.
Em 1952 funda o Museu de Imagens do Inconsciente, um centro de estudo e pesquisa que reúne obras produzidas nos ateliês de pintura e modelagem. Por meio desse trabalho introduz a psicologia junguiana no Brasil. Alguns anos mais tarde, em 1956, mobilizando um grupo de pessoas, motivadas pelas mesmas ideias, Nise realiza mais um projeto revolucionário para a época: a criação da Casa das Palmeiras, uma clínica destinada ao tratamento de egressos de instituições psiquiátricas, onde atividades expressivas são realizadas livremente, em regime de externato.
É responsável pela formação do Grupo de Estudos C.G.Jung, do qual foi presidente desde 1968. Suas pesquisas deram origem, ao longo dos anos, a exposições, filmes, documentários, audiovisuais, simpósios, publicações, conferências e cursos sobre terapêutica ocupacional, com destaque para a importância das imagens do esquizofrênico. Nise era já profunda conhecedora de Freud, mas viu principalmente na psicologia de Carl Gustav Jung uma fonte preciosa de conhecimento, que poderia ajudar na busca do sentido das vivências dos pacientes, dramaticamente representadas por seu trabalho plástico. Foi também pioneira na pesquisa das relações afetivas entre pacientes e animais, aos quais chamava de co-terapeutas.
Procurava apontar para a importância do
contato afetivo para que aquelas pessoas, que passavam pelo grande sofrimento
do rompimento com a realidade, do mergulho, sem proteção, nos abismos do
inconsciente, pudessem tentar o caminho de volta para a superfície, para a
possibilidade de recuperar a autonomia perdida. Além da dor provocada pela
doença mental, os pacientes sofriam com a discriminação no meio social e no
próprio hospital.
Como reconhecimento da importância de sua obra, Nise da Silveira recebeu condecorações, títulos e prêmios em diferentes áreas do conhecimento: saúde, educação, arte e literatura. Foi membro fundadora da Sociedade Internacional de Psicopatologia da Expressão, com sede em Paris, França. Seu trabalho e seus princípios inspiraram a criação de museus, centros culturais e Instituições psquiátricas, no Brasil e no exterior.
Nise faleceu em 30 de outubro de 1999, aos 94 anos, na cidade do Rio de Janeiro.
No ano 2000, o Centro Psiquiátrico Pedro II é municipalizado e, em homenagem à fundadora do Museu passa a chamar-se Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira
Obras:
- Jung, vida e obra. José Álvaro Editor, 1968.
Síntese precisa e muito clara da Psicologia Analítica de Jung, excelente para quem quiser começar a tomar conhecimento das suas teorias.
- Terapêutica Ocupacional - teoria e prática. Edição Casa das Palmeiras, 1979.
- A emoção de lidar. Coordenação e prefácio de uma experiência em psiquiatria na Casa das Palmeiras. Ed. Alhambra, 1987.
- Imagens do Inconsciente. Editora Alhambra, 1987.
- A farra do boi. Ed. Numen, 1989.
- Artaud, a nostalgia do mais. Ed. Numen, 1989.
- Cartas a Spinoza. Ed. Numen, 1990. Ed. Francisco Alves, 2ª edição, 1995.
- O mundo das imagens. Ed. Ática, 1992.
- Gatos, a emoção de lidar. Léo Christiano Editorial, 1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário