quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CURIOSIDADES DA ALQUIMIA

Por Henry Thomas



NAS lôbregas sombras produzidas pela vermelhidão mortiça de uma fornalha aberta, sobre um soalho
coberto de estranhos sinais cabalísticos, cercado de cadinhos, retortas e vasilhas de barro, via-se o alquimista de outrora. Misticismo e feitiço eram a própria essência do ambiente, enquanto o sábio barbudo prosseguia na sua misteriosa tarefa.
A alquimia é mãe da química, mas nunca uma filha foi tão diferente de sua mãe. A alquimia floresceu na Europa, do século XII ao século XV, como um rebento da antiga astrologia, curvado ao peso de seus ritos mágicos de suas crenças espiritualistas. Suas aspirações eram, pura simplesmente, transmudar os metais preciosos, o ouro a prata (a platina ainda não fora descoberta). Essa transmutação requeria para seu êxito a quimérica Pedra Filosofal, cuja procura constituía o suporte de todos os esforços dos alquimistas. Essa mística Pedra Filosofal era, para citar uma definição medieval, nada menos do que "a panaceia para todos os metais imperfeitos, que fixa o que é volátil, purifica aquilo que tenham de impuro e dá uma cor e brilho mais reluzentes que a Natureza". Decerto, o mais valioso dos bens!


Mas os alquimistas não devem ser mui apressadamente condenados. E’ verdade, sem dúvida, que havia entre eles muito charlatão. Um deles, o famoso, ou antes, o infame Cagliostro apropriou-se de muitos milhares de contos de vários reis e príncipes, com a descabelada promessa de que fabricaria para eles infinita quantidade de ouro. Mas devemos recordar que havia também, entre os alquimistas, numerosos homens cujo caráter e cujo saber científico estavam acima de censura.
O maior erro dos alquimistas foi tentarem ser práticos mais do que científicos. Gastaram seu tempo "fabricando" ouro, afim de tornar os homens ricos e procurando o elixir de longa vida para torná-los imortais. Nessas buscas não tiveram êxito. "Mas fizeram outras e inesperadas descobertas na sua doida procura do impossível. Aos alquimistas devemos muitos dos nossos conhecimentos a respeito de tintas, venenos e vidros. Aos alquimistas devemos a tardia invenção das lunetas. E assim, muito embora não fossem capazes de dar ao homem mais longa vida, conseguiram dotá-lo de uma vista melhor.


A pseudociência da alquimia recebeu seu golpe de morte na primeira parte do século XVI, quando Paracelso (1493-1541), químico suíço, deu novo impulso à verdadeira ciência química, com as famosas palavras: "O uso da química não é fabricar ouro, mas preparar remédios".
E assim morreu a alquimia e nasceu a química.


Bastante curioso é ver que nos últimos anos, têm sido feitas varias tentativas para ressuscitar a finada pseudociência da alquimia. Muitos homens se deixam ainda enlouquecer pelo mágico chamariz de "estupendos inventos e processos secretos". Não se curaram ainda de seus sonhos pueris de tirar alguma coisa do nada. Ai por 1896, um químico de Nova York, o dr. Stephen H. Emmens, alegou haver descoberto um processo químico de converter a prata em ouro. A história causou algum reboliço nos jornais, e um sindicato logo se formou para explorar esse recém-descoberto segredo de riqueza. E’ inútil acrescentar, que o processo não sobreviveu à prova de uma franca observação e o "furor" rapidamente esfriou depois dos clássicos sete dias de maravilha.
Não deixaremos contudo de, honestamente mencionar que, em 1923, a senhora Curie-Joliot, na França e Fermi, na Itália, chegaram a descobrir um processo, a radioatividade, por meio do qual um corpo simples pode ser transmudado em outro. E dessa forma, as curiosidades da alquimia se tornaram as realidades da química. As maravilhas da radioatividade poderão mui provavelmente abrir novo capítulo na espantosa história da ciência moderna.


Nenhum comentário:

Postar um comentário