Por Henry
Thomas
NAS lôbregas sombras produzidas pela vermelhidão
mortiça de uma fornalha aberta, sobre um soalho
coberto de estranhos sinais
cabalísticos, cercado de cadinhos, retortas e vasilhas de barro, via-se o
alquimista de outrora. Misticismo e feitiço eram a própria essência do
ambiente, enquanto o sábio barbudo prosseguia na sua misteriosa tarefa.
A alquimia é mãe da química, mas nunca uma filha
foi tão diferente de sua mãe. A alquimia floresceu na Europa, do século XII ao
século XV, como um rebento da antiga astrologia, curvado ao peso de seus ritos
mágicos e de suas crenças espiritualistas.
Suas aspirações eram, pura e simplesmente, transmudar os
metais preciosos, o ouro e a prata (a platina ainda não fora
descoberta). Essa transmutação requeria para seu êxito a quimérica Pedra
Filosofal, cuja procura constituía o suporte de todos os esforços dos
alquimistas. Essa mística Pedra Filosofal era, para citar uma definição medieval,
nada menos do que "a panaceia para todos os metais imperfeitos, que fixa o
que é volátil, purifica aquilo que tenham de impuro e dá uma cor e brilho mais
reluzentes que a Natureza". Decerto, o mais valioso dos bens!
Mas os alquimistas não devem ser mui apressadamente
condenados. E’ verdade, sem dúvida, que havia entre eles muito charlatão. Um
deles, o famoso, ou antes, o infame Cagliostro apropriou-se de muitos milhares
de contos de vários reis e príncipes, com a descabelada promessa de que
fabricaria para eles infinita quantidade de ouro. Mas devemos recordar que
havia também, entre os alquimistas, numerosos homens cujo caráter e cujo saber
científico estavam acima de censura.
O maior erro dos alquimistas foi tentarem ser
práticos mais do que científicos. Gastaram seu tempo "fabricando"
ouro, afim de tornar os homens ricos e procurando o elixir de longa vida para
torná-los imortais. Nessas buscas não tiveram êxito. "Mas fizeram outras e
inesperadas descobertas na sua doida procura do impossível. Aos alquimistas
devemos muitos dos nossos conhecimentos a respeito de tintas, venenos e vidros.
Aos alquimistas devemos a tardia invenção das lunetas. E assim, muito embora
não fossem capazes de dar ao homem mais longa vida, conseguiram dotá-lo de uma
vista melhor.
A pseudociência da alquimia recebeu seu golpe de
morte na primeira parte do século XVI, quando Paracelso (1493-1541), químico
suíço, deu novo impulso à verdadeira ciência química, com as famosas palavras:
"O uso da química não é fabricar ouro, mas preparar remédios".
E assim morreu a alquimia e nasceu a química.
Bastante curioso é ver que nos últimos anos, têm
sido feitas varias tentativas para ressuscitar a finada pseudociência da
alquimia. Muitos homens se deixam ainda enlouquecer pelo mágico chamariz de
"estupendos inventos e processos secretos". Não se curaram ainda de
seus sonhos pueris de tirar alguma coisa do nada. Ai por 1896, um químico de
Nova York, o dr. Stephen H. Emmens, alegou haver descoberto um processo químico
de converter a prata em ouro. A história causou algum reboliço nos jornais, e
um sindicato logo se formou para explorar esse recém-descoberto segredo de
riqueza. E’ inútil acrescentar, que o processo não sobreviveu à prova de uma
franca observação e o "furor" rapidamente esfriou depois dos
clássicos sete dias de maravilha.
Não deixaremos contudo de, honestamente mencionar
que, em 1923, a senhora Curie-Joliot, na França e Fermi, na Itália, chegaram a
descobrir um processo, a radioatividade, por meio do qual um corpo simples pode
ser transmudado em outro. E dessa forma, as curiosidades da alquimia se
tornaram as realidades da química. As maravilhas da radioatividade poderão mui
provavelmente abrir novo capítulo na espantosa história da ciência moderna.
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