Operação Lava-Jato
Dirigente arrasta PT e sua própria família para centro do escândalo de
desvios na Petrobras
AFONSO BENITES São Paulo 27 ABR 2015
El País – O JORNAL GLOBAL
João Vaccari na CPI da Petrobras no dia 9. / LUIS MACEDO (AG. CÂMARA)
De discreto
tesoureiro do PT a denunciado por 44 crimes de lavagem de dinheiro.
De morador de uma aconchegante casa de classe média em São Paulo a residente em
uma cela de seis metros quadrados na superintendência da Polícia Federal em
Curitiba. Esse é o resumo dos últimos 50 dias de João Vaccari Neto, o dirigente
que arrastou oficialmente o partido de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da
Silva para o escândalo da Lava Jato.
Tido como
um leal chefe da sigla que há 12 anos governa o Brasil, Vaccari é acusado de
ser um dos principais operadores do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras,
conforme duas denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal. Nesta
segunda-feira, ele foi acusado formalmente pela Procuradoria da República de 24
crimes de lavagem de dinheiro. No mês passado, já havia se tornado réu por
outros 20 delitos.
Ao ser preso, Vaccari não levou somente o PT
para o centro do escândalo, mas também uma cunhada dele, Marice Correia Lima.
Ela chegou a ficar detida por uma semana sob a suspeita de ajudar o petista em
movimentações ilegais. Defensores dela afirmaram que a mulher que aparece em
imagens do circuito interno de um banco depositando dinheiro em uma das contas
correntes investigadas não seria Lima, mas Giselda, a irmã dela esposa de
Vaccari. Ela foi libertada depois que o juiz Sergio Moro admitiu que
"aguarda a elucidação completa da questão" sobre o vídeo.
Afastado da
tesouraria do partido após ser preso na Lava Jato, o petista também responde
pelos crimes de corrupção ativa e passiva e por formação de quadrilha. Até a
detenção dele, os caciques petistas costumavam dizer que não havia nada contra
seu tesoureiro e que o partido não havia participado de nenhum esquema criminoso
para desviar recursos da maior petroleira brasileira. Na CPI que investiga a
Petrobras, o próprio dirigente negou que tenha pedido dinheiro para diretores
da Petrobras repassarem recursos para o seu partido. Mas as investigações
mostram o contrário.
De acordo
com as denúncias, que ainda serão julgadas, Vaccari seria o responsável direto
por desviar 7 milhões de reais da Petrobras. Na primeira acusação, outras 24
pessoas respondem pelo crime. Na segunda, são mais dois: o ex-diretor da
Petrobras Renato Duque (um indicado do PT na petroleira) e Augusto Mendonça,
empreiteiro da Setal Óleo e Gás, que fez o acordo de delação premiada e
confessou os crimes. O valor ainda pode ser maior, já que a própria empreiteira
admite que a corrupção corroeu cerca de 6 bilhões de reais de seu
orçamento no ano passado.
Neste caso,
denunciado nesta segunda-feira, os desvios teriam ocorrido por meio de uma
gráfica. O dinheiro, de acordo com a acusação, fora pago por Mendonça para
Duque que repassou os valores para o PT, por intermédio de Vaccari.
Para tentar
reagir à crise, o PT anunciou logo depois da prisão de Vaccari que
proibirá a doação de empresas para campanha políticas – é a segunda vez em
menos dez anos que o financiamento ilegal de campanha aparece no coração de
dois escândalos —antes da Lava Jato, foi o mensalão.
Pluripartidário
Apesar do
destaque dado aos petistas, segundo o procurador Deltan Dallagnol, o esquema
era pluripartidário. Desde o início do ano, já foram denunciados mais de 60
dirigentes, empreiteiros, doleiros e lobistas ligados também ao PP e ao PMDB.
“A partidarização do olhar sobre as investigações prejudica os trabalhos,
porque tira o foco do que é mais importante, que é a mudança do sistema, o qual
favorece a corrupção seja qual for o partido”, afirmou Dallagnol em nota.
Um fato que
chamou a atenção dos investigadores é que, mesmo após o início das
investigações, há quase um ano, os acusados continuaram praticando os crimes.
Por essa razão, os procuradores agora defendem a permanência de ao menos 17 dos
acusados na cadeia. “Caso sejam soltos, estarão em posição de continuar a
praticá-los, pois são donos e dirigentes de empresas com grandes contratos com
o poder público, ou mantêm milhões em propinas no exterior que poderão ser
escondidas ou gastas”, explicou o procurador da República Roberson Pozzobon.
Além de
correrem o risco de ficarem presos (pelo período de três a dez anos), Vaccari,
Duque e Mendonça, poderão ter de restituir o valor que teriam desviado e ainda
pagar uma indenização de 4,8 milhões de reais, segundo o Ministério Público.
Procurado, Luiz
Flávio D’Urso, o advogado de Vaccari, não atendeu aos pedidos de entrevista
feito pela reportagem. Em nota, ele informou que nenhuma prova foi apresentada
quanto à participação de seu cliente no esquema e que ele só tratou de doações
oficiais ao PT, conforme prevê a legislação eleitoral. Os defensores de Duque e
de Mendonça não foram localizados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário