FLIP 2015 recém finda
As mesas com poetas foram as mais aplaudidas da festa literária
O livro mais vendido foi ‘Jóquei’, de Matilde Campilho, sucesso total
desta edição
Quando as luzes se vão em Paraty
CAMILA MORAES Paraty 5 JUL 2015
Mesmo
depois de muitas discussões políticas, a poesia venceu nesta 13ª Festa
Literária de Paraty, recém finda. E não só a poesia como metáfora para a arte,
mas o gênero poético mesmo – normalmente
o mais judiado, em termos comerciais, das manifestações literárias.
As mesas
preferidas do público – as mais cheias, que mais arrancaram aplausos enquanto
aconteciam e boas avaliações nos corredores ao final – são a que reuniu Matilde
Campilho e Mariano Marovatto, na quinta-feira, e a de Arnaldo Antunes e Karina
Buhr, no sábado. Todos poetas, mantendo uma distância segura dos embates PT x
PSDB que marcaram presença na festa, mais preocupados com versos do que com
opiniões.
Mas a poesia também levou o troféu no aspecto
comercial: Jóquei (editora 34), de Matilde Campilho, foi o título mais vendido
da Livraria da Travessa, parceira oficial da Flip, e, antes mesmo do fim do
evento, desapareceu das prateleiras das outras três livrarias da cidade.
Para a
portuguesa, que, depois de morar no Rio de Janeiro entre 2010 e 2013, vive em
Lisboa, “o poema tem isso de oferecer um momento de descanso, até mesmo por
mais curto que um romance e poder ser lido entre uma coisa e outra no meio do
dia”. Na tenda dos autores, quando se apresentou, foi questionada, assim como
Mariano Marovatto, sobre os atuais tempos de conservadorismo. “A poesia não
salva o mundo, mas salva um minuto”, disse ela, que foi a autora-sucesso desta
edição.
A
celebração da poesia cobrou vida também na voz e na fala dos músicos Arnaldo
Antunes e Karina Buhr, que lançaram Agora Aqui Ninguém Precisa de Si (Companhia
das Letras) e Desperdiçando Rima (Fábrica231/Rocco). Eles cantaram e entonaram
versos incitados pela mediadora da mesa, a escritora Noemi Jaffe, e
conquistaram o público, que cantou junto.
Buhr
inclusive leva para casa o mérito de ter sido a primeira pessoa a carregar
consigo um pandeiro para uma mesa da Flip – que ela questionou por não ter
mesa, “só cadeiras”. Ganhou aplausos calorosos, assim como quando leu um trecho
de Mario de Andrade que diz: “Do jeito que as coisas estão indo, a sentença é
de morte”.
C.M.
Segundo dados apresentados na coletiva de imprensa de encerramento pelo
curador Paulo Werneck, 336 unidades de Jóquei – que já caminha para a segunda
edição no Brasil e está na quarta em Portugal – foram vendidas na Livraria
Travessa até sábado à noite. Em seguida, na lista dos livros mais vendidos,
aparecem uma caixa com três livros do homenageado Mario de Andrade (Nova
Fronteira), com 237 exemplares, e Limiar (Vieira e Lent), do cientista Sidarta
Ribeiro, com 230.
Sobre a atual crise econômica, que dificultou a captação de recursos
para esta Flip, Mauro Munhoz, presidente da organizadora do evento, a Casa
Azul, declarou: “Ficou claro para a gente que a crise não é uma coisa que
impacta. Não é tão diferente fazer uma Flip em ano de crise”. O orçamento de
7,4 milhões deste ano foi o menor do evento na última década.
Também fez parte do
balanço de encerramento a questão da violência em Paraty, que apareceu entre as
várias manchetes sobre a cidade nos últimos dias. Munhoz considera que essa é
uma questão de política pública: “A cultura tem um papel fundamental na saúde
do tecido social, mas não pode resolver problemas de segurança”.
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