Política
Colaboração de Fernando Alcoforado*
A
governabilidade de um país só é alcançada quando o governo conta com o apoio da
grande maioria da população e de suas diversas classes sociais, além de possuir
maioria parlamentar para implementar suas políticas. Para haver
governabilidade, o governo precisa atender as demandas das diversas classes
sociais para obter o apoio da Sociedade Civil e deve contar com o apoio de
partidos políticos para obter no Parlamento a aprovação de seus projetos
legislativos. Em suma, governabilidade diz respeito à capacidade política do
governo de decidir, possibilitando a realização de políticas públicas. Dilma
Rousseff não reúne nenhuma dessas condições para governar a nação.
Segundo
Antônio Gramsci, filósofo italiano, o Estado capitalista como o Brasil não se
apresenta apenas como um aparato político-militar pelo qual a classe dominante
(burguesia) organiza a coerção sobre as demais classes sociais. Para assegurar
a governabilidade, além de possuir o monopólio da repressão e da violência, o
Estado deve conquistar o apoio das classes dominantes e também das classes
sociais subalternas através do convencimento, da persuasão, da conquista do
consentimento por parte dos dominados (GRAMSCI, Antônio. Escritos Políticos.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004). Dilma Rousseff está perdendo
progressivamente o apoio das classes dominantes e também das classes sociais
subalternas.
É preciso
deixar bem claro que, na fase atual de desenvolvimento do capitalismo no
Brasil, a governabilidade só será assegurada se seus governantes garantirem a
continuidade do processo de acumulação capitalista em benefício da burguesia
nacional e internacional e se houver crescente redistribuição da renda em
benefício das classes subalternas (pequena burguesia, proletariado urbano e
rural e lumpemproletariado). É oportuno observar que os ganhos ou lucros
auferidos pela burguesia nacional e internacional e o nível de bem estar
desfrutado pela população de um país determinam o índice de governabilidade
existente em um dado momento. Por isso, para poder governar, todo governo deve
buscar assegurar os ganhos dos capitalistas e a melhoria do bem estar material
da população. E, para melhorá-lo, o governo precisa promover o desenvolvimento
econômico para viabilizar a acumulação do capital e gerar emprego e a renda
para a população.
A estagnação
econômica que atinge o Brasil, além de comprometer os lucros dos capitalistas,
elevar o desemprego e afetar negativamente a distribuição da renda, já está
reduzindo as receitas do Estado que está a exigir cortes no orçamento do
governo e o aumento de impostos. Muito provavelmente, nenhum investidor interno
e externo investiria no Brasil com uma economia estagnada como se encontra no
momento com um governo sitiado por sua população como o de Dilma Rousseff. O
Brasil teve hoje (09/09/2014) sua nota de crédito rebaixada pela agência
Standard & Poor's (S&P) que faz com que o país perca o status de bom
pagador. A estagnação da economia brasileira em que se encontra faz com que
ocorra também queda da arrecadação do governo em todos os níveis o que implica
em não haver recursos públicos para investimento em quantidade suficiente para
investir na infraestrutura econômica e social, bem como para manter os
programas sociais de transferência de renda como o “Bolsa Família”.
Pelo exposto,
a ingovernabilidade, que é o domínio da desordem, será inevitável no governo
Dilma Rousseff, porque ela não terá condições políticas e administrativas de
assegurar a continuidade do processo de acumulação capitalista e da
redistribuição da renda em benefício das classes subalternas, sobretudo a
partir de 2016 quando a crise econômica, política e social deverá atingir seu
ápice. A ingovernabilidade tende a gerar instabilidade político-institucional
de consequências imprevisíveis porque tem uma governante que conta com o apoio
de apenas 7% da população. É devido a tudo isto que Dilma Rousseff se constitui
em fator de instabilidade político institucional porque sem o apoio da maioria
da nação ela perdeu a condição de governar a nação. Dilma Rousseff passou a ser
uma cópia de Nicolas Maduro na presidência da Venezuela que enfrenta sérios
problemas de governabilidade em seu país profundamente dividido.
Cabe
observar que a governabilidade de um país por um governante não depende apenas
da legitimidade obtida com a vitória nas eleições presidenciais, mas
fundamentalmente do apoio efetivo da grande maioria da nação. Dilma Rousseff
está se defrontando com a oposição de amplos setores da população que admitem
até mesmo a volta dos militares ao poder no País. O governo Dilma Rousseff se
defronta com imensas dificuldades para governar o Brasil porque perdeu o apoio
até mesmo do lumpemproletariado, chamado também de "povão", base de
sustentação social dos governos do PT, e do proletariado urbano e rural e conta
com a oposição da burguesia e de amplos setores da pequena burguesia.
É
indiscutível que os graves problemas vividos pelo Brasil no momento atual nos
planos econômico e político estão a exigir um governante que tenha capacidade
de aglutinar a nação em torno de um projeto comum de desenvolvimento nacional.
Lamentavelmente, não há no Brasil na esfera política ninguém que reúna esta
capacidade. A nação está à espera de um governante que tenha a estatura de
estadista como foi Getúlio Vargas que promoveu a construção do Brasil moderno com
o processo de industrialização após a crise econômica mundial de 1929 e a
Revolução de 1930. A grave crise vivida atualmente pelo Brasil está a exigir um
verdadeiro estadista no comando da nação que reestruture a vida nacional em
novas bases nos planos econômico, político e social.
A
desaceleração econômica atual associada ao aumento generalizado de preços é
catastrófica para a grande maioria da população brasileira porque, além de
incrementar o desemprego, reduzirá seu poder de compra. A crise que levou à
desindustrialização do Brasil há muitos anos, deverá se estender também ao
comércio e ao agronegócio. Estaria sendo formado, desta forma, o caldo de
cultura para o incremento das tensões sociais no Brasil. O cenário econômico
catastrófico tende a levar o Brasil ao caos social. Para enfrentar a crise
atual, um governo comprometido com os interesses do povo brasileiro deveria
apresentar um programa econômico consistente, que tivesse credibilidade e
provocasse uma reversão na onda de expectativas pessimistas que tem afetado
trabalhadores e empresários de forma generalizada.
Diante da
profunda crise econômica que leva a economia do Brasil à estagflação, da
incapacidade política e gerencial do governo federal para gerir os destinos da
nação e da corrupção generalizada que domina o País, está sendo colocada na
ordem do dia a possibilidade de destituição da presidente Dilma Rousseff da
Presidência da República. São cinco as grandes ameaças à permanência de Dilma
Rousseff no poder: 1) o crescente agravamento da crise econômica; 2) sua
relação deteriorada com o Congresso Nacional, especialmente com lideranças do
PMDB; 3) a repulsa de 93% da população brasileira contra seu governo; 4) o
julgamento pelo TCU dos atos que configuram crime 3 de responsabilidade fiscal
do governo Dilma Rousseff com as denominadas “pedaladas fiscais”; e, 5) o
julgamento pelo TSE da campanha presidencial do PT pelo uso de recursos
provenientes da corrupção na Petrobras. O futuro do Brasil depende da
permanência ou não de Dilma Rousseff no poder. Se Dilma Rousseff permanecer na
Presidência da República e o País se tornar ingovernável, poderá haver a volta
dos militares ao poder para manter a ordem e se houver sua destituição pode
abrir a possibilidade de reversão da crítica situação atual.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o
progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica,
Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no
Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI
(Editora CRV, Curitiba, 2015).
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