Literatura: crítica
Publicado por Gilmar
Luís Silva Júnior
(Sou) “Uma
criatura hiperativa, que teme procurar ajuda médica com receio de ser
internado.”
A temática da morte honrosa pela pátria
esmorece em seguida. Machado o trata num lirismo comedido, numa forma fixa de
cinco estrofes com cinco versos cada uma. Ele enfeixa uma série de figuras
grandiloquentes – uso de hipérboles, como universo atônito; de prosopopeias,
como força indômita e infeliz vencida – para instituir um tom solene ao
assunto.
DOBRA o joelho: — é um túmulo./ Embaixo
amortalhado/ Jaz o cadáver tépido/ De um povo aniquilado;/ A prece melancólica/
Reza-lhe em torno à cruz./ // Ante o universo atônito/ Abriu-se a estranha
liça/ Travou-se a luta férvida/ Da força e da justiça;/ Contra a justiça, ó
século,/ Venceu a espada e o obus./ // Venceu a força indômita;/ Mas a infeliz
vencida/ A mágoa, a dor, o ódio,/ Na face envilecida/ Cuspiu-lhe. E a eterna
mácula/ Seus louros murchará./ // E quando a voz fatídica/ Da santa liberdade/
Vier em dias prósperos/ Clamar à humanidade/ Então revivo o México/ Da campa
surgirá //
Lê-se, a modo de preâmbulo do poema, outro
epitáfio: Caminhante, vai dizer aos lacedemônios que estamos aqui deitados por
termos defendido as suas leis. É o epitáfio das Termópilas, alusivo à batalha
campal entre persas e espartanos, na qual pereceram 300 soldados gregos diante
de um número infinitamente maior de persas. Eis que esse princípio – o da
peleia desmedida – marcará a tônica deste poema, dedicado ao México, que, à
semelhança do Brasil, foi o único país, conquistada a independência, a adotar o
sistema monárquico de governo (Larousse, 1998).
A primeira estrofe diz respeito a um
movimento poético de particularizar um hábito geral num país marcado pela
convulsão social e política. O México, após a independência em 1813, oscilou
entre governos liberais e conservadores. Perdeu metade do território para os
EUA, em parte pela política expansionista do poderoso vizinho, e outra pela
venda ilícita de terras promovida pelo ditador mexicano Antonio López Sant’Anna
(idem).
A poesia bélica, por assim dizer, nasceu com
Homero. Mas, o primeiro poeta que exalta o sacrifício pela pátria foi o
espartano Tirteu, no século VII a.C. – “Para um homem de bons sentimentos é
belo morrer por seu país” (Cavalcanti, 2012). O verso mais conhecido de louvor
à morte pela pátria pertence ao romano Horácio: “É doce e honroso morrer pela
pátria; a Morte persegue o homem que dela foge, não poupa os tendões nem a
espinha do jovem covarde” (Ramos, 1964).
A temática da morte honrosa pela pátria
esmorece em seguida. Machado o trata num lirismo comedido, numa forma fixa de
cinco estrofes com cinco versos cada uma. Ele enfeixa uma série de figuras
grandiloquentes – uso de hipérboles, como universo atônito; de prosopopeias,
como força indômita e infeliz vencida – para instituir um tom solene ao
assunto. Os elementos positivos – como justiça, louros, liberdade – estão em
séria desvantagem diante das unidades arbitrárias e agressoras – como espada,
obus, mágoa, dor. Traz, assim, a simbologia de guerra fixada por Chevalier: A
guerra que, em face do sentimento geral desde a Antiguidade, dos costumes
contemporâneos e do aumento dos poderes de autodestruição, constitui a imagem
da calamidade universal, do triunfo da força cega, tem,na verdade, um
simbolismo extremamente importante. (...) O ardor guerreiro se exprime
simbolicamente pela cólera e pelo calor (Chevalier, 2012).
A última estrofe é um libelo por dias
melhores: “E quando a voz fatídica/Da santa liberdade/Vier em dias
prósperos/Clamar à humanidade,/Então revivo o México/Da campa surgirá”.
Novamente, percebe-se o tom niilista, de que o país permanece morto enquanto
persistir as arbitrariedades.
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