sábado, 9 de abril de 2016

ANÁLISE DO POEMA EPITÁFIO AO MÉXICO, DE MACHADO DE ASSIS



Literatura: crítica



(Sou) “Uma criatura hiperativa, que teme procurar ajuda médica com receio de ser internado.”


A temática da morte honrosa pela pátria esmorece em seguida. Machado o trata num lirismo comedido, numa forma fixa de cinco estrofes com cinco versos cada uma. Ele enfeixa uma série de figuras grandiloquentes – uso de hipérboles, como universo atônito; de prosopopeias, como força indômita e infeliz vencida – para instituir um tom solene ao assunto.
 
 DOBRA o joelho: — é um túmulo./ Embaixo amortalhado/ Jaz o cadáver tépido/ De um povo aniquilado;/ A prece melancólica/ Reza-lhe em torno à cruz./ // Ante o universo atônito/ Abriu-se a estranha liça/ Travou-se a luta férvida/ Da força e da justiça;/ Contra a justiça, ó século,/ Venceu a espada e o obus./ // Venceu a força indômita;/ Mas a infeliz vencida/ A mágoa, a dor, o ódio,/ Na face envilecida/ Cuspiu-lhe. E a eterna mácula/ Seus louros murchará./ // E quando a voz fatídica/ Da santa liberdade/ Vier em dias prósperos/ Clamar à humanidade/ Então revivo o México/ Da campa surgirá //

Lê-se, a modo de preâmbulo do poema, outro epitáfio: Caminhante, vai dizer aos lacedemônios que estamos aqui deitados por termos defendido as suas leis. É o epitáfio das Termópilas, alusivo à batalha campal entre persas e espartanos, na qual pereceram 300 soldados gregos diante de um número infinitamente maior de persas. Eis que esse princípio – o da peleia desmedida – marcará a tônica deste poema, dedicado ao México, que, à semelhança do Brasil, foi o único país, conquistada a independência, a adotar o sistema monárquico de governo (Larousse, 1998).
A primeira estrofe diz respeito a um movimento poético de particularizar um hábito geral num país marcado pela convulsão social e política. O México, após a independência em 1813, oscilou entre governos liberais e conservadores. Perdeu metade do território para os EUA, em parte pela política expansionista do poderoso vizinho, e outra pela venda ilícita de terras promovida pelo ditador mexicano Antonio López Sant’Anna (idem).

A poesia bélica, por assim dizer, nasceu com Homero. Mas, o primeiro poeta que exalta o sacrifício pela pátria foi o espartano Tirteu, no século VII a.C. – “Para um homem de bons sentimentos é belo morrer por seu país” (Cavalcanti, 2012). O verso mais conhecido de louvor à morte pela pátria pertence ao romano Horácio: “É doce e honroso morrer pela pátria; a Morte persegue o homem que dela foge, não poupa os tendões nem a espinha do jovem covarde” (Ramos, 1964).
A temática da morte honrosa pela pátria esmorece em seguida. Machado o trata num lirismo comedido, numa forma fixa de cinco estrofes com cinco versos cada uma. Ele enfeixa uma série de figuras grandiloquentes – uso de hipérboles, como universo atônito; de prosopopeias, como força indômita e infeliz vencida – para instituir um tom solene ao assunto. Os elementos positivos – como justiça, louros, liberdade – estão em séria desvantagem diante das unidades arbitrárias e agressoras – como espada, obus, mágoa, dor. Traz, assim, a simbologia de guerra fixada por Chevalier: A guerra que, em face do sentimento geral desde a Antiguidade, dos costumes contemporâneos e do aumento dos poderes de autodestruição, constitui a imagem da calamidade universal, do triunfo da força cega, tem,na verdade, um simbolismo extremamente importante. (...) O ardor guerreiro se exprime simbolicamente pela cólera e pelo calor (Chevalier, 2012).
A última estrofe é um libelo por dias melhores: “E quando a voz fatídica/Da santa liberdade/Vier em dias prósperos/Clamar à humanidade,/Então revivo o México/Da campa surgirá”. Novamente, percebe-se o tom niilista, de que o país permanece morto enquanto persistir as arbitrariedades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário