Ciência/tecnologia
Victoria Gill
Repórter de Ciência da BBC News
Peixe do gênero Porichthys, com fotóforos luminescentes - órgãos
que emitem luz
Quando donos de navios escutaram um zumbido
submarino grave e monótono na Califórnia dos anos 1980, a princípio pensaram se
tratar de bombas de esgoto, experimentos militares e até extraterrestres.
O curioso som noturno era, na verdade, o chamado de acasalamento de
peixes do gênero Porichthys - um peixe-sapo que se esconde sob a areia durante
o dia e flutua logo acima dela à noite.
Mas a explicação de por que o canto só era ouvido pela noite permanecia
um segredo biológico que só agora os cientistas conseguiram desvendar.
Para achar as respostas, os pesquisadores das
universidades americanas de Cornell e Yale fizeram experimentos com os peixes
em laboratório - as conclusões foram detalhadas na publicação científica Current Biology.
Segundo eles, o zumbido ritmado e constante dos Porichthys é controlado
por um hormônio que também regula o sono e o relógio biológico em diversos
seres vivos, inclusive nos humanos - a melatonina.
Para ilustrar essa relação, os pesquisadores primeiro mantiveram os
peixes sob luz constante - essa ação praticamente quase suprimiu o zunido dos
animais.
Machos da espécie cantam para atrair fêmeas aos ninhos que ele
constrói
Mas quando os cientistas administraram um substituto da melatonina aos
peixes, eles voltaram a "cantar", porém em horas aleatórias e de
forma desritmada.
"A melatonina age como um sinal verde para o canto noturno dos
Porichthys", disse o coordenador da pesquisa, Andrew Bass, do Departamento
de Neurobiologia e Comportamento da Universidade de Cornell.
'Peixes cantores'
Bass conta que, embora o canto dos Porichthys já fosse conhecido antes,
o interesse nessa espécie aumentou a partir de um estudo de 1924 de Charles
Greene, que se referiu a eles como "peixes cantores".
"Descobrimos que as fêmeas também podem emitir sons, mas apenas os
machos territoriais é que constroem ninhos, e produzem o zunido para atrair as
fêmeas para esses ninhos", disse o pesquisador.
Limitar o seu canto à noite provavelmente traz benefícios para os peixes
- a serenata noturna pode pegar as fêmeas em seu momento mais receptivo, ou
quando há menos chance de ser ouvida por um de seus predadores.
O estudo também sugere que melatonina pode ter um papel fundamental em
todo o gênero vertebrado.
Identificar um peixe com comportamento tão intrinsecamente ligado ao
relógio biológico indica que esse circuito cerebral evolui desde os nossos
ancestrais aquáticos mais primitivos.
"Nosso estudo mostra que os peixes cantores podem ser um modelo
útil para estudar hormônios e comportamentos de comunicação vocal relacionados
à reprodução em diversas espécies de vertebrados", disse Ni Feng, de Yale.
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